Capítulo 6 SUSPEITO. 1984

Sabe quando você cansa? encontra-se perdida, no meio de uma tempestade que você mesmo causou....

Hoje faz 2 anos que estou mudando essa tempestade.

1984-

Depois de sair da lanchonete, meus olhos continuavam fixos naquela mulher que saía apressada, com o rosto tomado por uma expressão de medo quase palpável. Ao olhar por cima do ombro dela, avistei um homem que a seguia de perto. Meu coração disparou - seria ele o "homem do carrinho"? O mesmo que eu não consegui capturar na casa com os corpos?

Uma mistura de medo e determinação me invadiu. Não podia deixar essa pista escapar. Algo naquele homem parecia errado. Ele andava de forma estranha, seus olhos inquietos varriam a rua, sempre atentos, como se temesse ser seguido.

Com cuidado, comecei a me aproximar, tentando não chamar atenção. Meu telefone estava firme na mão, pronta para qualquer emergência. Me perguntei se ele perceberia minha intenção, mas não havia como recuar.

Quando estive a poucos metros dele, respirei fundo e chamei com voz firme:

- Senhor, posso falar com você um instante? Estou investigando um caso muito sério e preciso fazer algumas perguntas.

Ele virou o rosto rapidamente, os olhos arregalados, e fez um movimento brusco como se fosse sair correndo. O pânico estava estampado em seu rosto.

Instintivamente, agi rápido e segurei seu braço com firmeza.

- Por favor, não fuja - disse, tentando manter a calma, embora meu coração batesse forte. - A polícia está a caminho.

Ele tentou se desvencilhar, mas eu o segurei com determinação. No fundo, sabia que ele poderia ser perigoso, mas não podia deixá-lo escapar.

Enquanto esperávamos os militares chegarem, o homem começou a murmurar, incoerente, palavras desconexas que não consegui entender direito. Parecia assustado, e em seus olhos vi o desespero de quem sabe que o mundo está desmoronando.

Quando os militares finalmente chegaram, o prenderam formalmente. Eles verificaram seus documentos e me pediram para contar tudo o que tinha visto.

No interrogatório inicial, o homem chamado Gilberto negou todas as acusações. Falava rápido, tentando despistar, afirmando que não tinha nenhuma ligação com os crimes ou com a casa da Senhora Flores.

Mas os militares encontraram várias evidências comprometedoras: um corte recente na mão, manchas de sujeira que correspondiam ao chão do porão da casa onde os corpos estavam, e vestígios de sangue que ainda estavam nas roupas dele.

Além disso, vizinhos que conheciam a região reconheceram o homem e disseram que ele era visto frequentemente perto da casa da Senhora Flores, às vezes em horários estranhos, e que costumava agir de maneira suspeita.

O que me deixou ainda mais confusa foi o fato de que ele não parecia ter uma explicação plausível para estar ali naquela noite.

Naquele momento, senti uma mistura de alívio e apreensão. Alívio porque, finalmente, havíamos conseguido prender um suspeito concreto. Mas também apreensão porque algo dentro de mim dizia que essa não era a história toda.

Será que ele era o verdadeiro assassino, ou apenas um bode expiatório, alguém usado para desviar as investigações?

Enquanto observava o homem ser levado, não consegui evitar pensar que a verdade ainda estava escondida nas sombras daquela casa macabra.

Quando voltei para casa, a cabeça não parava de girar. Tudo aquilo tinha mexido comigo de uma forma que eu não esperava. O medo, a adrenalina, a impotência... Era muita coisa para uma estagiária como eu.

Mas eu não podia desistir. Meu trabalho ainda não havia acabado. A responsabilidade de buscar justiça para aquelas vítimas era minha. Eu precisava ser forte, mesmo com o medo no peito.

No dia seguinte, a notícia da prisão se espalhou rápido. Vi meu rosto nos jornais, nas reportagens da TV, e ouvi colegas comentando. Senti um misto de orgulho e ansiedade.

Mesmo assim, a pergunta que não me deixava em paz era: onde estaria o verdadeiro assassino?

Durante os dias seguintes, continuei meu trabalho no estágio militar, mais determinada do que nunca a desvendar cada pista, investigar cada detalhe, para que a justiça fosse feita de verdade.

Porque uma coisa eu sabia: aquela história estava longe de acabar..

            
            

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