Aos 25 anos e parecia que tinha o mundo em suas costas. As pessoas diziam que ele não podia reclamar, que tinha muito mais do que alguém pode pedir, e isso era fato. As melhores roupas, os melhores carros, os melhores aparelhos tecnológicos. Um cartão de crédito sem limite.
Mas um buraco no coração.
As vezes ele daria tudo o que tinha pra ter nascido em uma família normal. Nem se passasse necessidade, nem se tivesse que trabalhar limpando chão, ele queria.
Dividia seu tempo entre a faculdade de Administração e a administração de uma faculdade. Seu pai, o reitor, estava passando os comandos da universidade ao filho, alegando que o mesmo tinha que se interessar pelos assuntos e negocios da familia, já que futuramente seria o dono de tudo aquilo. achava que aquele dia estava mais proximo que nunca já que o pai fumava enlouquecidamente, e quando não estava fumando estava tossindo, ou gritando com alguém e com falta de ar. O pai estava perto de ter um ataque cardiaco e ele nem ia se surpreender quando acontecesse. Por isso não o contradizia, três vezes na semana lá estava ele na sala do reitor, vendo a papelada, tentando resolver os assuntos que já estava envolvido desde os dezoito anos, coisa que não era muito dificil agora, ele se acostumou com o trabalho.
E fazia bem, o pai só ia como representante nas grandes reuniões, que Thiago acompanhava em todas, e já o apresentava para os sócios como o futuro reitor da Universidade.
E era ali que ele estava, em meio aos papéis, resolvendo problemas dos coordenadores de curso, enchendo sua cabeça de coisas, sentindo sua juventude se esvair de suas mãos.
mãos.
E detalhe: era seu aniversario.
A única coisa que recebera da mãe naquele dia foi um: "esteja em casa as 19 para o jantar, os amigos do seu pai virão."
Thiago bufou, outro jantar onde fingiam ser a familia perfeita para todo mundo quando ele sabia que o casamento dos pais estava fadado ao fracasso há anos. A mãe era uma compradora compulsiva, vivia de roupas de marcas e salão, uma verdadeira madame rica da sociedade, mas que era uma péssima mãe. Ele sabia que ela só tinha tido ele pelas aparências, até porque não teve mais ninguem depois, e ah, como ele queria uma familia grande e barulhenta.
[ Grupo: Squad - Thiago Birthday ]
[ Lucas 16:48 ] É HOJEEEE!
[ Lucas 16:48 ] TA PREPARADO?
Thiago riu pela primeira vez naquele dia, era o grupo de amigos loucos dele, eram loucos, mas eram seus amigos.
[ Antônio 16:50 ] Esperando qual desculpa que o Thiago vai dar essa vez...
[ Neto 16:50 ] Sempre tem!
[ Neto 16:50 ] E EU SEI QUE VOCÊ TA VISUALIZANDO E NÃO RESPONDENDO SEU NANICO
Thiago riu de novo, não ia responder porque não sabia o que responder, com certeza não iria conseguir ir a seja la o que eles estivessem planejando então, sumiria hoje a amanhã daria alguma desculpa, como sempre.
[ Antônio 16:53 ] Ele vai sumir hoje e dar uma desculpa qualquer amanhã gente, como sempre
[ Leo 16:56 ] Bom, estaremos aqui, qualquer coisa grita Thiago
[ Leo 16:56 ] Feliz Aniversario
[ Lucas 16:57 ] Feliz Aniversario Thiago que esse ano novo você consiga se livrar do carma que são seus pais
[ Leo 16:58 ] Taemin!
[ Lucas 16:58 ] Falei alguma coisa errada por acaso?
Thiago travou o celular rindo e voltou para os papeis. Ainda tinha algumas horas ate voltar pra casa, esperava que passassem bem devagar.
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Para seu desespero, não passou, quando viu já estava la, de terno e gravata, sentado na mesa ridiculamente chique e arrumada, com seu pai dando um discurso qualquer sobre como a economia ajudava no andamento do país. Os amigos o olhavam com admiração nos olhos, afina, era o mais rico ali, e Thiago olhava para o prato a sua frente pensando se aquele mísero pedaço de carne mataria a fome que estava sentindo.
Na verdade ele daria tudo por um pedaço de pão com ovo, que ele pudesse comer com um copo de refrigerante. Depois do jantar com certeza pediria a cozinheira para fazer um. Bufou.
- Mas Thiago esta indo bem, com certeza daqui alguns meses já vou poder me aposentar. - ele ouviu a voz do pai dizer.
- Mas é isso mesmo que quer Thiago? - a voz deconhecida de uma mulher chegou ao seus ouvidos fazendo-o levantar o rosto. - Você é tão jovem pra assumir uma responsabilidade dessas... - ela continuou, tomando um gole da bebida em seu copo. Ele tentou reconhecer o rosto da mulher mas não conseguia, de onde ela tinha saido afinal?
- Thiago sabe que esse é o futuro dele, não tem escolha. - o pai disse duramente.
- Eu acho que preferia ouvir o que Thiago tem a dizer... - ela o enfrentou. Quem era essa mulher?
- Eu..ah.... eu.. - ele tentou falar.
- Ele não tem nada o que dizer, é isso e pronto. Vamos servir o jantar? - o pai chamou os empregados para começar a servir a comida e o assunto morreu.
Dentro de Thiago parecia que uma explosão tinha acontecido, a verdade era que nunca tinha pensado no que realmente queria pra vida, tinha se acostumado tanto com o posto, com a faculdade de administração, com o ambiente da faculdade, os papeis e a vida regida por seu pai que nunca realmente parou pra pensar se era isso mesmo que queria.
Mas o que ele realmente queria? Naquele momento ele só conseguia pensar que que queria um hambúrguer, olhando para a gosma verde em seu prato. Ele levantou os olhos encontrando a mulher olhando de volta a ele como se o desafiasse, como se esperasse que ele explodisse por fora a explosão que estava acontecendo por dentro.
Ele não conseguiu comer, de repente parecia que aquele lugar não era dele, que a casa parecia estranha demais, a voz do pai começou a embrulhar seu estomago, as risadas começarama embaçar sua visão, então ele se levantou da cadeira, fazendo um barulho enorme.
- Eu..hmmm... não estou me sentindo bem, vou para o quarto. - deu uma curta reverencia e saiu correndo, a conversa continuando na cozinha.
Queria ser diferente. Queria ser louco, fazer loucuras, estava fazendo 25 anos e ainda não tinha aproveitado nada da juventude, só trabalhado. Então ele se decidiu, pegou a chave do carro e saiu pela saida da cozinha, no caminho mandou uma mensagem.
[ Grupo: Squad - Thiago Birthday ]
[ Eu 21:39 ] Bar Wings?
[ Lucas 21:39 ] ISSO
[ Leo 21:40 ] Quem é você e porque esta com o celular do Thiago?
[ Antônio 21:40 ] Vamos logo antes que ele desista
[ Neto 21:42 ] Estamos a caminho Thiago
Ele dirigiu com uma espécie de motivação diferente, ia ficar louco aquela noite e que se danem seus pais, não ia agir como o mauricinho pau mandado, não ia ficar com medo das consequencias, ia agir como um jovem impulsivo e fazer besteiras pela primeira vez na vida.
E foi nessa idéia que ele já tinha perdido a conta de quanto soju tinha bebido.
- Menino Thiago ta animado - Lucas bateu em suas costas, tambem bebado.
Eles riam, conversavam, faziam guerra de aperitivos sem estar nem ai pra nada.
- E se a gente começasse uma sessão de desafios? - Leo disse se aproximando no grupo.
- Uuuuhhhhh, vai arrumar alguem pro Thiago transar? - Antônio disse.
- Ele ta precisando - Leo riu.
- Parem - Thiago já estava vermelho e ria descontroladamente.
- Thiago - Leo disse e todos se aproximaram pra ouvir - Você vai dar um beijo naquela garçonete gatinha e passar um numero errado pra ela e pedir pra ela te ligar.
- UUUUUUHHHHH malvado - Antônio disse rindo e quase caindo da cadeira.
O coração de Thiago se apertou - Eu não sei se...
- Ah cara qual é, cade aquela historia de ser livre e fazer burrada hoje? Você nunca mais vai ver essa garota mesmo... - Lucas disse descontraido.
- Vamos Thiago, só um beijo... ou você só beija com sentimento? - Neto disse o cutucando.
- Uhhhh Thiaguinho é garoto de labios puros, só beija se tiver apaixonado - Neto apertou suas bochechas.
- Parem - Thiago riu afastando as mãos dos amigos - Ta bom eu faço. - disse arrumando as mangas da camisa do corpo, tinha tirado o paletó que vestia no caminho. - Quem mesmo?
Leo apontou para a menina que no exato momento saia da cozinha, os cabelos eram escuros como a noite e estavam amarrados em um rabo de cavalo no alto da cabeça, o rosto forte e felino, parecia mesmo uma gata e nossa, era muito linda, Thiago sentiu seu coração errar uma batida só de olhar para a garota.
- Ai, ja apaixonou - Antonio riu, levando os amigos a rirem mais alto enquanto Lucas rabiscava um numero qualquer em um guardanapo e entregava pra Thiago, arqueando as sobrancelhas. A verdade era que ninguem ali acreditava que ele realmente faria aquilo.
Mas ele fez, ele beijou a desconhecida, ele sentiu aqueles labios finos e macios contra os seus, dava pra sentir a garota assustada e parada a sua frente e talvez, talvez ele tivesse perdido toda a chance que talvez um dia teria com aquela menina, mas pelo menos ele podia dizer que tinha a beijado.
E quando colocou o numero em sua mão desejou do fundo do coração que fosse o numero certo.
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Era segunda feira e Thiago não tinha conseguido dormir o fim de semana inteiro, primeiro pela ressaca infernal e depois pelo peso no coração de ter feito o que fez com a garçonete. Sera que ela tinha o ligado? Sera que tinha se decepcionado muito por saber que o numero era o errado? Sera que estava morrendo de odio dele naquele momento?
Estava tão imerso em pensamentos que nem viu que bateu sem querer na xicara de café que estava na mesa derrubando-a no chão.
- Merda - disse tentando juntar os pedaços dos cacos, mas não tinha nenhuma vassoura dentro da imensa sala da reitoria. Ele pegou o telefone e ligou para sua secretaria - Amelia? Pode mandar alguem da limpeza aqui com urgencia por favor? Obrigado.
Thiago passou a mão no rosto, de repente o posto de que trabalhava tinha ficado sem graça, sem cor, os papeis pareciam borrar seus olhos, queria mais do que nunca se livrar de tudo aquilo e ainda pensava quem era aquela mulher naquela mesa aquele dia? Tudo culpa dela, sua vida estaria completamente em ordem se ela não tivesse acendido aquela chama em seu coração.
- Senhor? A moça da limpeza esta aqui.
- Certo Amelia, mande entrar - ele disse ainda olhando para os papeis. Ele ouviu a porta ser aberta e o barulho inconfundivel do carrinho ser puxado para dentro, um "obrigada" sussurado, então ergueu os olhos. - Sem querer eu derrub... - ele disse mas perdeu a voz.
Ele estava muito bebado aquele dia mas reconheceria aquele rosto em qualquer lugar.
Era a garçonete, a garçonete dona dos labios finos mais macios e do olhar mais felino que tinha. Uma gatinha.
Ele engoliu em seco. Era possivel que a vida tivesse lhe dado outra chance apesar de tudo?