Sofia acordou num quarto de hospital, a luz do sol a entrar pela janela.
Sentia o corpo dorido, mas o pior tinha passado.
Rafael estava sentado numa cadeira ao lado da cama, a dormir, a cabeça tombada de forma desconfortável.
Ele tinha ficado com ela a noite toda.
Um televisor no canto do quarto estava ligado, sem som.
De repente, as legendas chamaram a atenção de Sofia.
"Noivado de Tiago Monteiro e Beatriz Vasconcelos anunciado. O herdeiro da fortuna Monteiro, recuperado de um grave acidente, encontrou o amor."
As imagens mostravam Tiago, sorridente, ao lado de Beatriz.
O coração de Sofia afundou-se. Era real. Ele não se lembrava dela.
Rafael acordou com o movimento dela.
"Sofia, estás bem?" Ele aproximou-se, a preocupação evidente no seu rosto.
"Vi as notícias," ela murmurou.
Rafael suspirou. "Eu sei. Sofia, esta é a tua oportunidade. Ele não se lembra de ti. Podes finalmente ser livre."
Ele pegou na mão dela. "Eu ajudo-te. Podemos ir para o Brasil, como sempre sonhaste. Começar de novo."
Sofia olhou para ele, lágrimas nos olhos. "Sim, Rafa. Por favor. Tira-me daqui. Quero ir para longe, para onde ele nunca me encontre."
O alívio no rosto de Rafael foi imenso. Ele sorriu, um sorriso genuíno que aqueceu Sofia por dentro.
"Claro, Sofia. Vou tratar de tudo."
Ele apertou a mão dela com entusiasmo e depois, hesitou, como se quisesse abraçá-la, mas recuou.
Sofia percebeu a hesitação dele.
"Rafa," ele começou, a voz um pouco trémula. "Eu... eu sempre gostei de ti, Sofia. Desde que éramos miúdos."
Sofia olhou para ele, surpresa. Sabia que ele se importava, mas não tinha percebido a profundidade dos seus sentimentos.
Lembrou-se de todas as vezes que Rafael a tinha ajudado, especialmente durante o tempo em que Tiago a mantinha prisioneira na quinta.
Ele enviava mensagens secretas, tentava arranjar formas de ela escapar.
Ela sentiu uma onda de gratidão.
Mas o medo ainda a paralisava. O trauma do controlo de Tiago, a sua obsessão, deixaram cicatrizes profundas.
Ela não conseguia pensar em romance. Não ainda.
"Rafa, tu foste o meu único amigo, o meu único apoio," ela disse, a voz embargada. "Não sei o que teria feito sem ti."
Ele sorriu, um pouco triste. "Eu farei qualquer coisa por ti, Sofia. Quero que sejas feliz, mesmo que não seja comigo."
As palavras dele tocaram-na profundamente.
"Eu quero ser feliz, Rafa. Quero uma vida normal. Quero paz."
Ele assentiu. "E vais ter. Vou tratar dos teus documentos, do voo. Partimos assim que tiveres alta."
A ideia de liberdade, de um futuro sem Tiago, começou a parecer real.
Rafael foi incansável. Em poucos dias, conseguiu os passaportes e os bilhetes.
Sofia sentiu um alívio imenso quando assinou os papéis para a sua partida.
Era como se um peso enorme tivesse sido tirado dos seus ombros.
"Eu também vou para o Brasil," Rafael disse casualmente, uns dias depois. "A minha empresa tem um projeto grande lá, precisam de um arquiteto com a minha experiência."
Sofia sorriu. Sabia que ele estava a fazer aquilo por ela, mas não disse nada.
A presença dele era um conforto.
Quando Sofia teve alta, Rafael estava à espera dela.
Ele pegou na mala dela e, num gesto gentil, afastou uma madeixa de cabelo do rosto dela.
O toque foi leve, mas carregado de ternura.
Sofia sentiu o coração aquecer.
Enquanto caminhavam para a saída do hospital, em direção ao carro de Rafael, uma figura alta e imponente surgiu à entrada da quinta, que ficava perto.
Era Tiago.
Ele estava parado, a observá-los, o rosto uma máscara indecifrável.
Sofia gelou.