Sofia acordou num anexo escuro e poeirento da quinta.
O corpo dela doía por todo o lado. As feridas do chicote ardiam.
Um segurança entrou, trazendo um prato com pão seco e um copo de água.
"O Sr. Monteiro disse que vais ficar aqui uma semana," o segurança informou, sem emoção. "Para pensares no que fizeste."
Sofia não disse nada. Não havia nada para dizer.
Ela aceitou o seu destino. Sabia que Leonor não descansaria enquanto não a visse completamente destruída.
O ressentimento de Leonor era profundo, alimentado por anos a sentir-se roubada da sua vida.
Sofia conseguia, de certa forma, compreender.
Mas a sua única esperança, o seu único foco, era a fuga.
Assim que saísse dali, iria encontrar Rafael e desaparecer para sempre.
Os dias arrastaram-se.
Leonor visitava-a regularmente.
Não para lhe trazer comida ou conforto, mas para a torturar psicologicamente.
Mostrava-lhe fotografias de Tiago e Beatriz.
"Olha como ele está feliz," Leonor dizia, com um sorriso venenoso. "Ele nunca gostou de ti. Eras apenas uma substituta."
"Ele vai casar com ela. Vão ter filhos lindos, herdeiros verdadeiros dos Monteiro."
As palavras eram como agulhas, mas Sofia recusava-se a dar-lhe a satisfação de a ver chorar.
Após uma semana de confinamento, foi libertada.
Mas a sua provação não tinha terminado.
Beatriz ia dar uma festa de aniversário num hotel de luxo em Cascais.
Sofia foi forçada a ir. Não como convidada, mas como empregada.
Vestida com um uniforme simples, teve de servir às mesas, suportando os olhares curiosos e os sussurros dos convidados.
No auge da festa, Tiago presenteou Beatriz com um colar de diamantes deslumbrante.
"És a mulher da minha vida," ele disse, a voz cheia de uma ternura que Sofia nunca tinha conhecido, mesmo quando ele era obcecado por ela.
Os convidados aplaudiram.
Sofia ouviu fragmentos de conversas.
"Ele parece completamente apaixonado por ela."
"Dizem que ele era obcecado pela outra, a que foi trocada. Coitada da Beatriz, se ele se lembrar."
"Mas ele não se lembra. É como se aquela rapariga nunca tivesse existido."
A ironia era dolorosa.
Mais tarde, Beatriz aproximou-se de Sofia, que estava a recolher copos vazios.
"Sabes, Sofia," Beatriz disse, a voz baixa e sibilante. "Eu sofri muito por tua causa. Anos a ver o Tiago obcecado por ti, a ignorar-me. Agora, é a tua vez de sofrer."
Os olhos dela brilhavam com uma crueldade fria.
"Vou fazer da tua vida um inferno antes de desapareceres."
Sofia sentiu um arrepio. Beatriz era mais perigosa do que Leonor.
De repente, Beatriz levou as mãos ao pescoço.
"O meu colar! O colar que o Tiago me deu! Desapareceu!"
O pânico instalou-se.
Beatriz olhou diretamente para Sofia.
"Foste tu! Tu roubaste-o! Sempre tiveste inveja de mim!"
A acusação ecoou pelo salão.
Todos os olhares viraram-se para Sofia.
Tiago aproximou-se, o rosto uma máscara de gelo.
Ele olhou para Sofia, e ela viu apenas desprezo nos seus olhos.