O Pescador do Silêncio
img img O Pescador do Silêncio img Capítulo 3
4
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
Capítulo 16 img
Capítulo 17 img
Capítulo 18 img
Capítulo 19 img
Capítulo 20 img
Capítulo 21 img
Capítulo 22 img
Capítulo 23 img
Capítulo 24 img
Capítulo 25 img
img
  /  1
img

Capítulo 3

Dois dias depois, a porta do armazém se abriu.

A luz do sol quase cegou JP.

Ele estava fraco, sujo, fedendo a podridão.

Isabela estava parada na porta, impecável, perfumada.

Um contraste cruel.

"Aprendeu a lição, meu pescador?", ela perguntou, a voz falsamente doce.

JP apenas a encarou, os olhos fundos, exaustos.

"Se você for um bom menino agora, tudo volta ao normal."

Ela estendeu a mão para ele.

Uma oferta de paz, envenenada.

JP ignorou a mão dela e se levantou sozinho, cambaleando.

Naquela noite, durante o jantar, JP agiu.

Isabela e Ric conversavam animados, bebendo vinho caro.

JP servia a água, como um criado.

Quando Isabela se distraiu com uma ligação, JP discretamente pegou o pequeno frasco do bolso.

Uma gota.

Na taça de vinho dela.

Na água de Ric.

No seu próprio copo.

As mãos não tremeram.

O coração batia forte, mas controlado.

Ele voltou ao seu lugar, quieto, observando.

A vingança era um prato que se comia frio. E ele estava esfomeado.

No dia seguinte, Isabela decidiu exibir JP.

Um evento beneficente na cidade.

Fotógrafos, gente rica, sorrisos falsos.

Ela comprou um terno caro para JP, sapatos italianos.

"Você precisa estar apresentável, meu amor."

Ela o segurava pelo braço, possessiva, mostrando-o como um troféu.

"Este é João Pedro, meu marido."

Os olhares curiosos, os cochichos.

JP se sentia um boneco, vestido para o deleite dela.

O tecido caro pinicava sua pele.

Os sapatos apertavam seus pés acostumados à areia.

Ele sorria por fora, um sorriso ensaiado.

Por dentro, contava os minutos.

O luxo ao redor era sufocante.

Cristais, prataria, comida que ele nem sabia o nome.

JP olhou para as próprias mãos, calejadas de trabalho duro.

O que valia tudo aquilo?

O dinheiro, o poder, as roupas caras?

Seus pais estavam mortos.

Sua liberdade, roubada.

Sua dignidade, pisoteada.

Nenhuma riqueza no mundo poderia comprar de volta o que ele perdeu.

Ele preferia mil vezes sua cabana simples, o cheiro do mar, a companhia silenciosa de seus pais.

Isso sim era riqueza.

O resto era só... poeira dourada.

De repente, um burburinho no salão.

Um homem de terno escuro subiu ao pequeno palco.

"Senhoras e senhores, um presente especial para nossa anfitriã, Isabela Alencar!"

As luzes se concentraram no palco.

Dois homens trouxeram... Ric Tavares.

Amarrado numa cadeira, só de cueca, com uma maçã na boca.

Como um porco no rolete.

JP arregalou os olhos, chocado.

Isabela também parecia surpresa, mas havia um brilho estranho em seus olhos.

O homem no palco riu.

"Um pequeno leilão! Quem dá mais por este belo exemplar de cantor de axé?"

Humilhação pública.

JP não entendeu. Aquilo não fazia parte do plano dele.

Isabela se levantou, furiosa.

"Tirem ele daí! Agora!", ela gritou, a voz ecoando pelo salão silencioso.

Os seguranças dela correram para o palco.

O homem misterioso desapareceu na confusão.

Isabela arrancou a maçã da boca de Ric, desamarrou-o.

"Quem fez isso? Quem ousa?", ela rosnava, possessiva.

Ric tremia, os olhos arregalados de medo e vergonha.

Isabela o abraçou forte.

"Ninguém mexe com o que é meu."

Ela olhou ao redor, desafiadora.

JP observava, a confusão crescendo.

O que estava acontecendo?

Ric começou a chorar, um choro teatral.

"Eles me humilharam, Isa! Eu quero morrer!"

Ele pegou uma faca de manteiga da mesa e ameaçou cortar os pulsos.

Isabela arrancou a faca da mão dele.

"Não seja ridículo, Ric! Ninguém vai te machucar mais."

Ela o acalmou, a voz suave, mas os olhos frios quando encontraram os de JP.

Um olhar que dizia: "Isso é culpa sua".

Como? JP não fazia ideia.

Mas ele sabia que Isabela sempre encontrava um jeito de culpá-lo.

"Eu vou descobrir quem fez isso", ela prometeu a Ric. "E eles vão pagar caro."

A ameaça pairava no ar, e JP sentiu que, de alguma forma, ela se voltaria contra ele.

No dia seguinte, a bomba explodiu.

Sites de fofoca, jornais locais.

Fotos antigas de JP na escola.

Crianças rindo dele, imitando seu silêncio, jogando restos de peixe nele.

As piores humilhações de sua infância, expostas para o mundo.

A legenda dizia: "O passado sombrio do marido mudo da herdeira Alencar. Mais fotos e vídeos chocantes serão leiloados em breve."

JP sentiu o sangue gelar.

Aquilo era um pesadelo.

Quem faria uma coisa dessas?

E por quê?

            
            

COPYRIGHT(©) 2022