Quando o Ódio Esconde o Amor
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Capítulo 3

Sofia apareceu de repente, o rosto vermelho de raiva.

"O que é que lhe fizeste?" gritou ela para Mateus, ignorando Leonardo.

Mateus viu um brilho estranho nos olhos dela. Seria esperança? Expectativa de que ele se defendesse, que mostrasse alguma réstia do homem que ela amara?

Ele esmagou essa faísca.

"Nada, Dona Sofia. O Senhor Leonardo só estava a brincar."

Inclinou-se, como se fosse entrar na água.

"És um verme!" sibilou Sofia. E, num impulso de fúria, empurrou-o.

Mateus caiu na água gelada do rio. O choque da temperatura tirou-lhe o fôlego.

Ouviu as gargalhadas de Leonardo e dos seus amigos. Sofia deu-lhe as costas e afastou-se, o corpo rígido de raiva.

Deixaram-no ali, na escuridão gelada. A corrente era forte. A dor no seu corpo, já debilitado pelo cancro, era intensa.

Mas ele pensou em Sagres. Pensou nas cinzas ao vento.

Mergulhou repetidamente, as mãos a vasculhar o lodo frio do fundo do rio. Horas passaram. O frio entranhava-se-lhe nos ossos. Sentia os pulmões a arder.

Finalmente, quando o sol começava a raiar, os seus dedos tocaram em algo metálico. O anel.

Exausto, cambaleou para fora da água, tremendo incontrolavelmente. Tinha cortes e arranhões por todo o corpo.

Caminhou até à casa principal. Sofia estava na varanda, a tomar o pequeno-almoço com Leonardo.

Mateus estendeu o anel.

Sofia pegou nele, sem uma palavra. Tirou uma nota da carteira e deu-lha. A mesma transação fria.

Ele aceitou em silêncio.

Nas semanas seguintes, houve uma calma tensa. Mateus continuava o seu trabalho, suportando as pequenas humilhações diárias. A sua saúde piorava, mas ele escondia a dor.

Uma noite, estava a conduzir Sofia para o seu apartamento em Lisboa. Ela tinha ido à capital para tratar de negócios da empresa.

Ao chegarem, viram fumo a sair de uma das janelas do prédio. O apartamento de Sofia.

Um incêndio.

O instinto de Mateus foi mais forte do que qualquer ressentimento, qualquer dor.

"Fique aqui!" gritou ele para Sofia, que estava paralisada pelo choque.

Correu para dentro do prédio em chamas. O fumo era denso, sufocante. Ouviu os gritos de Sofia lá fora.

Encontrou-a no quarto, encurralada pelas chamas, a tossir violentamente.

Sem hesitar, pegou nela ao colo, cobrindo-lhe o rosto com o seu casaco. Atravessou o corredor em chamas, sentindo o calor a queimar-lhe a pele, os cabelos.

Conseguiu sair do prédio mesmo a tempo de uma viga em chamas desabar onde tinham estado segundos antes.

Depositou Sofia, sã e salva, nos braços de Leonardo, que tinha chegado entretanto, alertado por um telefonema frenético de Sofia antes de Mateus entrar.

"Leva-a daqui," disse Mateus a Leonardo, a voz rouca por causa do fumo. "Diz que foste tu que a salvaste."

Leonardo olhou para ele, confuso, mas depois a compreensão brilhou nos seus olhos. Assentiu.

Mateus afastou-se, desaparecendo na confusão dos bombeiros e da polícia que chegavam.

Mais tarde, no hospital improvisado montado no local, Leonardo, com alguns arranhões superficiais e o cabelo chamuscado para dar credibilidade à história, era o herói. Sofia olhava para ele com admiração e gratidão.

Leonardo aproximou-se de Mateus, que estava a ser tratado por queimaduras ligeiras nos braços e no rosto.

"Porque é que fizeste aquilo, Mateus? Porque é que me deixaste ficar com os louros?"

E depois, a pergunta que o atormentava há anos.

"Foste mesmo tu... que causaste a morte da mãe dela?"

Mateus hesitou por um momento. Olhou para Sofia, que abraçava Leonardo, a personificação da felicidade e do alívio.

"Sim," disse Mateus, a voz firme. "Fui eu."

Virou-se e afastou-se, deixando Leonardo com as suas dúvidas.

Sofia e Leonardo pareciam mais próximos do que nunca. Mateus observava-os de longe, o pária, o vilão. Aceitava o seu papel. A felicidade dela era tudo o que importava.

Alguns dias depois, Sofia entrou no pequeno quarto que Mateus ocupava nos fundos da casa do Porto, sem avisar. Ele estava a trocar o penso de uma queimadura mais grave nas costas, que tinha escondido de todos.

"O que é isso?" perguntou ela, a voz surpreendentemente suave.

Os seus olhos fixaram-se na queimadura.

"Como é que fizeste isso?"

Ela estava a juntar as peças. A proximidade do incêndio, as suas queimaduras.

            
            

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