Mateus sentiu o corpo a ser projetado pelo ar. Por um instante, viu o céu azul, uma imagem de paz. Depois, a escuridão.
Acordou num quarto de hospital. O corpo doía-lhe por todo o lado. Tinha várias costelas partidas, uma perna engessada, e uma dor de cabeça lancinante.
Sofia não o visitou.
Depois de receber alta, coxeando e com dores, foi informado por Tiago que Sofia exigia a sua presença. Ela estava a organizar os preparativos para o seu casamento com Leonardo, que recuperara "milagrosamente" do seu "acidente".
Obrigou Mateus a acompanhá-la a floristas, a lojas de decoração, a provar bolos de casamento. Fazia-o testemunhar cada detalhe do futuro feliz que ela estava a construir com outro homem, um futuro que antes fora deles.
Era uma tortura requintada, e ele suportava-a em silêncio.
No aniversário da morte da mãe de Sofia, Mateus foi ao cemitério. Comprou um ramo de lírios brancos, as flores preferidas dela.
Ajoelhou-se em frente à campa de mármore frio.
"Desculpe," sussurrou ele, como se falasse com a sua própria mãe. "Desculpe por tudo. Eu amava-a muito. E amo muito a sua filha."
Uma lágrima solitária escorreu-lhe pelo rosto.
"Espero que esteja em paz. Eu estarei em breve."
Sofia e o seu pai, o industrial austero, chegaram nesse momento. Viram Mateus junto à campa.
O pai de Sofia, um homem corpulento e de rosto severo, ficou vermelho de fúria.
"O que é que estás aqui a fazer, seu verme?" gritou ele.
Avançou sobre Mateus e começou a esmurrá-lo. Os golpes eram brutais, alimentados por anos de raiva e dor contida.
"Mataste a minha mulher! Destruíste a minha família!"
Mateus não se defendeu. Apanhou os golpes em silêncio, o sangue a escorrer-lhe do nariz e da boca. O seu corpo, já fragilizado pelo atropelamento e pelo cancro, protestava com uma dor aguda.
Sofia observava, o rosto pálido, os olhos arregalados.