Mateus sobressaltou-se com a entrada súbita de Sofia. Puxou a camisa rapidamente, cobrindo as costas.
"Não é nada, Dona Sofia."
Inventou a primeira história que lhe veio à cabeça, uma história que reforçaria a imagem de criminoso que ela tinha dele.
"Foi uma zaragata na prisão, há uns tempos. Coisas que acontecem." A sua voz era deliberadamente vulgar.
O rosto de Sofia endureceu. A suavidade momentânea desapareceu, substituída por uma fúria fria.
"És nojento," cuspiu ela.
Avançou e deu-lhe uma bofetada com toda a força. A cabeça de Mateus virou com o impacto.
"Amar-te," disse ela, a voz a tremer de raiva e desgosto, "foi o maior erro da minha vida. Tenho nojo de ti, Mateus. Nojo!"
Ele não reagiu. A dor física era insignificante comparada com a dor que as palavras dela lhe causavam. Mas, estranhamente, o ódio dela era um consolo. Significava que o seu plano estava a funcionar. Ela iria esquecê-lo, seguir em frente.
Sofia saiu, batendo a porta com força.
Mateus ficou sozinho, a tocar na face dorida. O seu plano estava a funcionar. Ela odiava-o. Era o melhor.
No dia seguinte, Leonardo pediu a Mateus que o levasse a um local isolado nos arredores da cidade. Uma viagem de negócios, disse ele.
No caminho de volta, numa estrada deserta, Leonardo começou a gritar.
"Pára o carro! Pára o carro!"
Mateus travou bruscamente. Leonardo abriu a porta, atirou-se para o chão e começou a gritar de dor, agarrado à perna.
Tinha um pequeno frasco de sangue falso na mão, que derramou sobre as calças.
"Atropelaste-me! Seu desgraçado, atropelaste-me!"
Mateus percebeu a armadilha. Leonardo estava a encenar um acidente.
Sofia, que os seguia no seu próprio carro a uma distância discreta, como combinado com Leonardo, chegou nesse momento.
Viu Leonardo no chão, a "sangrar", e Mateus ao lado do carro.
A imagem desencadeou algo terrível nela. A morte da mãe, a culpa de Mateus, o "acidente" de Leonardo. Tudo se misturou numa torrente de raiva e trauma.
Os seus olhos ficaram vidrados.
"Assassino!" gritou ela, a voz distorcida pela fúria.
Entrou no seu carro, ligou o motor e acelerou na direção de Mateus.
Ele viu-a aproximar-se, o rosto uma máscara de ódio. Não se moveu. Talvez fosse melhor assim. Um fim rápido.
O impacto foi brutal.