No movimento, tentando desviar de Isabela e alcançar Thiago, Lucas escorregou no piso molhado e sentiu uma dor aguda no próprio tornozelo.
Ele torceu o pé, a dor subindo pela perna.
Isabela nem olhou para Lucas.
Toda a sua atenção estava em Thiago, que gemia dramaticamente.
"Alguém chama uma ambulância! Rápido!", ela gritava, acariciando o rosto de Thiago.
Lucas, sentado no chão, massageando o tornozelo dolorido, observou a cena.
A prioridade descarada dela por Thiago, a forma como ela o ignorou completamente, mesmo ele estando claramente machucado... foi a gota d'água.
Não havia mais dúvidas, nem resquícios de esperança.
Apenas a certeza fria da traição e a necessidade urgente de partir.
Ele se levantou com dificuldade, apoiando-se numa cadeira próxima.
Ninguém pareceu notar sua dor.
A atenção estava toda no "acidente" de Thiago.
Lucas mancou para longe da piscina, da festa, daquela vida.
A dor no tornozelo era real, mas a dor no peito era muito maior.
Ele pegou o celular e ligou para Pedro, seu melhor amigo desde a faculdade de gastronomia.
"Pedro? Preciso da sua ajuda. Está na hora."
Naquela noite, a humilhação continuou.
Lucas estava em casa, o tornozelo enfaixado e latejando, quando seu celular tocou.
Número desconhecido.
Ele atendeu com cautela.
Eram gemidos. Gemidos inconfundíveis de Isabela. E a voz de Thiago, ofegante.
"Gostou do show hoje, chef? Ela é boa nisso, não é? Em fingir... e em outras coisas também."
Risadas. Mais gemidos.
Lucas desligou, o estômago revirado.
Eles estavam fazendo aquilo de propósito. Para provocá-lo, para humilhá-lo ainda mais.
Ele se sentou na cama, a cabeça entre as mãos.
Uma tristeza profunda o invadiu, seguida por uma raiva fria.
Isabela não queria apenas "curtir". Ela queria destruí-lo. Queria vê-lo sofrer.
Por quê? Por que tanto sadismo?
Ele pensou em tudo que fizera por ela, em como a amara.
E o pagamento era aquilo.
"Liberdade", ele murmurou para o quarto vazio. "Ela quer liberdade? Então ela vai ter."
Mas a liberdade dela seria também a dele. Uma liberdade que ela não imaginava.
Algumas semanas depois, o tornozelo de Lucas já estava melhor, embora ainda sensível.
Havia o casamento de um amigo em comum, um evento que ele não poderia faltar.
Pedro tentou animá-lo.
"Vai que ela 'recupera a memória' lá? E percebe a besteira que tá fazendo?"
Lucas sorriu sem humor. "Pedro, você é um bom amigo, mas ingênuo."
Ele sabia que Isabela não recuperaria memória nenhuma até o dia da festa de noivado deles. Era o clímax doentio do plano dela.
No casamento, Isabela chegou.
Deslumbrante num vestido caro, de braços dados com Thiago.
Eles não faziam questão de esconder a intimidade. Beijos, carícias, risos altos.
Como se fossem o casal da noite.
Lucas sentiu os olhares curiosos sobre ele. O noivo "esquecido".
Ele se manteve distante, conversando com outros amigos, tentando ignorar a presença deles.
Mas era impossível não sentir a humilhação pública.
Ele aceitou. O fim era real, palpável.
Não havia mais Isabela que ele conhecia, ou que ele pensava conhecer.
Apenas aquela mulher fria e calculista, desfilando com seu amante.
Em um momento, quando Lucas pegava uma bebida no bar, Isabela passou por ele.
Os olhos dela encontraram os dele por um segundo.
Ela hesitou, quase como se fosse dizer algo.
Um brilho estranho passou pelo olhar dela, uma mistura de... culpa? Arrependimento?
Ou seria apenas mais um jogo?
Ela abriu a boca, mas Thiago a puxou pela cintura.
"Vamos dançar, meu amor."
E ela foi, deixando Lucas com aquela sensação ambígua.
Mas ele sabia que não podia confiar em nada que viesse dela.