Lucas os viu sair, a urgência no gesto dela era palpável.
Ele sentiu um aperto no peito, uma premonição ruim.
Mas o que mais ela poderia fazer para surpreendê-lo?
Mais tarde, precisando de um pouco de ar fresco, Lucas saiu para o jardim dos fundos da casa de festas.
Era uma área mais escura, mais reservada.
Ele ouviu sons. Risos abafados, sussurros.
Eram Isabela e Thiago.
Escondidos atrás de uma moita grande, perto de uma pequena fonte.
Eles estavam se beijando ardentemente, as mãos de Thiago explorando o corpo dela por baixo do vestido.
Lucas congelou.
O ar lhe faltou.
Ver aquilo, ali, de forma tão crua, tão desrespeitosa...
Era como se ela estivesse profanando não apenas o relacionamento deles, mas qualquer resquício de decência.
A cena era grotesca, um soco no estômago.
Ele sentiu uma náusea profunda.
Virou-se para sair dali o mais rápido possível, mas seus passos apressados e a escuridão o traíram.
Ele tropeçou numa pedra solta no caminho, fazendo barulho.
Isabela e Thiago se separaram abruptamente.
Os olhos de Isabela, arregalados, encontraram os de Lucas.
Pânico. Culpa. E algo mais, algo que ele não conseguiu decifrar.
Thiago, por outro lado, apenas sorriu, um sorriso predador.
Lucas não disse nada. A dor era intensa demais para palavras.
Ele apenas se virou e começou a andar, quase correr, para longe dali, para longe dela.
Ele precisava sumir.
Quando chegou à rua, ofegante, Thiago apareceu ao seu lado, como que por mágica.
"Entra no carro, chef. Te dou uma carona."
A voz dele era falsamente amigável.
"Não precisa", Lucas disse, a voz rouca.
Thiago agarrou seu braço com força.
"Eu insisto. Temos que conversar."
A força dele era surpreendente. Lucas, ainda abalado, se viu sendo empurrado para dentro do carro de luxo de Thiago.
Isabela não estava à vista.
Assim que Lucas entrou, Thiago trancou as portas e arrancou com o carro.
"Então", começou Thiago, acelerando pelas ruas escuras, "você viu, né? A Isa não perde tempo."
Ele ria, um som desagradável.
"Ela me disse que você era... insistente. Que não aceitava o fim. Que essa história de amnésia foi o único jeito que ela encontrou pra se livrar de você sem muito drama."
Mentiras. Mais mentiras.
Lucas permaneceu em silêncio, olhando para a frente, o maxilar cerrado.
Ele não daria a Thiago a satisfação de uma reação.
"Ela disse que você é meio... grudento. Que sufocava ela. Que ela precisava de um homem de verdade, entende?"
Thiago olhava para Lucas de soslaio, esperando uma resposta, uma explosão.
Mas Lucas continuava estoico, a dor contida, a raiva fervendo em fogo baixo, esperando o momento certo.
O momento de sua partida.
De repente, Thiago virou o volante bruscamente.
O carro cantou pneus, invadiu a pista contrária e bateu de frente com outro veículo que vinha em velocidade normal.
O impacto foi brutal.
Lucas sentiu uma dor lancinante na cabeça, no peito.
O som de metal se contorcendo, vidro quebrando.
Depois, escuridão.
Ele acordou com vozes ao longe. Sirenes.
Alguém o puxava para fora dos destroços.
Ele via luzes piscando, sentia o cheiro de fumaça e gasolina.
Thiago também estava sendo retirado do carro, gemendo.
Uma médica se aproximou de Lucas, depois olhou para Thiago.
"Temos dois feridos graves. Quem precisa de atendimento prioritário? O hospital mais próximo só tem uma vaga na UTI agora."
A voz dela era urgente.
Isabela apareceu, vinda de algum lugar, o rosto pálido, os olhos arregalados.
Ela olhou para Lucas, depois para Thiago.
Por um instante, Lucas viu uma hesitação no olhar dela. Uma escolha.
Então, ela apontou para Thiago.
"Ele. Salvem ele primeiro. Ele... ele é tudo pra mim."
As palavras dela, mesmo em meio à dor e à confusão, atingiram Lucas como um último golpe.
A traição final.
Ele fechou os olhos, a escuridão o engolindo novamente.
Mas desta vez, era uma escuridão bem-vinda.
Um prelúdio para o fim daquele pesadelo.