A notícia chegou como um soco no estômago.
Clara, a minha irmã mais nova, morta.
Espancada e atirada ao Tejo.
O seu crime? Derramar vinho num vestido caro.
O vestido de Beatriz.
Uma herdeira rica, mimada, cruel.
Sofia sentiu o sangue ferver, a dor a transformá-la em gelo e fogo.
Vingança.
Era a única palavra que ecoava na sua mente.
Descobriu que Beatriz era obcecada por Miguel Azevedo, CEO de um império de vinhos e turismo de luxo.
Era o noivo dela.
O alvo perfeito.
Sofia, com a sua beleza e inteligência, conseguiu um emprego.
Secretária executiva de Miguel.
A primeira peça do xadrez estava no lugar.
Numa noite, depois de um evento de Fado, Miguel bebeu demais.
Sofia viu a sua oportunidade.
Levou-o para uma suite numa Pousada histórica, um ninho de luxo discreto.
Ele ressonava, alheio ao perigo que ela representava.
Sofia pegou no telemóvel dele.
O nome "Beatriz" brilhava no ecrã.
Ligou.
Beatriz atendeu, a voz arrastada de sono e irritação.
"Miguel? O que se passa?"
Sofia não disse nada.
Apenas despiu a parte de cima do seu próprio vestido, o suficiente para criar uma imagem.
Deixou o telemóvel na mesa de cabeceira, com a chamada ativa, e gemeu baixinho, um som que podia ser qualquer coisa, ou tudo.
Depois, escondeu-se rapidamente na casa de banho, deixando a porta apenas uma fresta aberta.
O seu coração batia forte, não de medo, mas de uma satisfação fria.
Beatriz, do outro lado da linha, ouvia os sons.
A sua respiração tornou-se pesada.
"Miguel? Quem está aí? Responde-me!"
O silêncio de Miguel, o gemido subtil de Sofia.
A imaginação de Beatriz faria o resto.
Sofia sorriu no escuro.
A raiva de Beatriz seria lendária.
E era só o começo.
"Vou destruir-te, Beatriz. Vou tirar-te tudo, tal como tiraste a minha irmã de mim."
Pensou, enquanto ouvia os passos apressados de Beatriz a aproximarem-se do quarto.
Ajeitou o cabelo, desfez um pouco a maquilhagem, para parecer vulnerável, apanhada de surpresa.
Miguel começou a mexer-se na cama, resmungando.
Abriu os olhos, confuso.
"Sofia? O que... o que fazes aqui?"
A sua voz estava rouca.
Sofia aproximou-se, os olhos arregalados, fingindo pânico.
"Sr. Miguel! Eu... eu não sabia o que fazer. O senhor bebeu tanto, não conseguia deixá-lo sozinho. Tentei ligar à D. Beatriz, mas..."
Ele sentou-se, a cabeça entre as mãos.
"Beatriz? O que tem ela?"
Sofia engoliu em seco, a atriz perfeita.
"Acho que ela está a caminho. Ouvi-a ao telefone, parecia... furiosa."
Miguel olhou para ela, ainda grogue, mas a preocupação a surgir.
"Furiosa? Porquê?"
Nesse momento, a porta da suite foi escancarada com um estrondo.
Beatriz entrou como um furacão, o rosto vermelho de raiva.
"Miguel! Que pouca vergonha é esta?"
Os seus olhos faiscavam, fixos em Sofia, que se encolheu.
Sofia agarrou o braço de Miguel, a voz um sussurro desesperado.
"Sr. Miguel, por favor! Esconda-me! Se ela me vir assim, perco o emprego! Ela vai matar-me!"
Miguel, apanhado no meio, olhou de Beatriz para Sofia.
Hesitou por um instante.
Depois, empurrou Sofia para a casa de banho.
"Fica aí e não faças barulho."
Sofia entrou, fechando a porta quase por completo.
Lá dentro, um sorriso vitorioso iluminou o seu rosto.
O primeiro golpe fora dado.
Beatriz ia pagar.