Tiago ficou paralisado. "Casar com o meu irmão? Sofia, para com isto. Eu sei que o anúncio do casamento dele saiu há uns dias, mas isto é demais!"
Ele ainda achava que eu estava a encenar, a tentar magoá-lo por causa da Inês. A sua arrogância era inacreditável.
Não me dei ao trabalho de explicar.
"Vai-te embora, Tiago."
Fechei-lhe a porta na cara. Ele ainda gritou o meu nome algumas vezes, mas depois o silêncio instalou-se.
Nos dias seguintes, Tiago não parou de me enviar mensagens. Prometia mundos e fundos, dizia que a situação com a Inês era temporária, que eu só precisava de "aguentar mais um pouco" e que depois teríamos o nosso final feliz.
Ignorei cada uma delas. O desdém era o único sentimento que ele me inspirava agora. O passado estava morto e enterrado. Era tempo de começar uma nova fase.
Comecei a preparar-me para o meu novo papel. Duarte era um homem reservado, e eu sabia pouco sobre os seus gostos pessoais. Um dia, fui comprar-lhe um fato novo para um evento. Enquanto estava na loja, vi Tiago do outro lado da rua. Ele estava a deitar fora um pequeno urso de peluche e uma caixa de música, presentes que eu lhe tinha dado, símbolos do nosso amor. Fez aquilo para agradar a Inês, para apagar qualquer vestígio de mim da vida dele.
Observei-o, impassível. Aquilo já não me magoava. Era apenas mais uma confirmação da decisão acertada que tinha tomado.
Tiago viu-me e atravessou a rua, com um sorriso forçado.
"Sofia! Que coincidência."
"Olá, Tiago."
"A Inês queria livrar-se de algumas coisas antigas, estava só a ajudá-la." Mentiroso.
Nesse momento, Inês aproximou-se, sorridente.
"Sofia! Ou melhor, cunhada!" Ela abraçou-me. "O Tiago disse que ias sair com o Duarte. Vão jantar fora?"
Antes que eu pudesse responder, Inês agarrou-me pelo braço.
"Anda connosco! Vamos a um restaurante típico que eu adoro. O Tiago disse que não te importas."
Não me deu hipótese de recusar. Fomos os três. O restaurante era conhecido pelos pratos picantes. Tiago, que tinha um estômago sensível e nunca comia nada picante quando estávamos juntos – eu sempre me adaptara ao seu paladar – pediu o prato mais picante da ementa, só porque Inês gostava.
Observei-o a comer, a cara a ficar vermelha, os olhos a lacrimejar, enquanto Inês lhe limpava o suor da testa com um guardanapo, toda carinhosa. Eu comi a minha refeição calmamente, sem demonstrar qualquer emoção.
Tiago enviou-me uma mensagem por baixo da mesa. "Vês? Eu aguento tudo por ela. Mas o meu amor por ti é suficiente para nós os dois."
Suficiente. Para ele, o amor tinha uma pontuação. O que ele sentia por Inês era um "total", o que sentia por mim era "suficiente". A diferença era clara.
De repente, um empregado tropeçou perto da nossa mesa. Uma cataplana de marisco a ferver, que ia para outra mesa, voou pelo ar. Tiago reagiu instintivamente. Atirou-se para a frente, protegendo Inês com o seu corpo.
Eu estava ao lado dele. Ninguém me protegeu.