Capítulo 3

A cataplana atingiu-me em cheio no braço. O molho quente e o marisco escaldaram a minha pele. Gritei de dor.

Tiago nem olhou para mim. Agarrou Inês, que estava assustada mas ilesa, e levou-a para longe da confusão, perguntando-lhe repetidamente se estava bem. Eu fiquei ali, o braço a arder, completamente ignorada por ele.

Funcionários do restaurante vieram ajudar-me, trouxeram gelo. A dor era lancinante. Tentei cuidar da queimadura sozinha, mas era difícil. Mais tarde, no hotel para onde Tiago levou Inês para "acalma-la" e onde eu também estava hospedada por insistência dele "para manter as aparências", vi uma publicação de Inês nas redes sociais. Uma foto dela com Tiago, a legenda a elogiar o quão protetor e cuidadoso ele tinha sido, um verdadeiro herói. Nenhuma menção a mim ou à minha queimadura.

Senti a ironia amarga. Antes, Tiago teria entrado em pânico se eu me tivesse magoado minimamente. Agora, nem um olhar.

Ele apareceu no meu quarto horas depois.

"Sofia, desculpa. A Inês ficou tão assustada, tive de cuidar dela primeiro." A justificação era fraca, como sempre.

Depois, como que para compensar, exagerou. Chamou um médico ao hotel, depois outro, quis levar-me ao hospital. Recusei.

"Não preciso de nada disto, Tiago. Estou bem."

Ele tentou dar-me um presente caro, uma pulseira de diamantes. "Para compensar."

"Não quero. Não fica bem à noiva do teu irmão aceitar presentes teus."

Ele olhou para mim, frustrado. "Ainda estás com essa história?"

"É a verdade." Empurrei-o para fora do quarto.

Alguns dias depois, era a festa de aniversário de Inês. Tiago organizou um evento faustoso numa das propriedades da família. Presentes caríssimos, música, champanhe. Parecia um conto de fadas.

Observei de longe. Os convidados cochichavam. "Ele deixou a Sofia pela Inês, a primeira paixão é sempre mais forte." "Coitada da Sofia, a atual perde sempre para a ex."

Inês, radiante, fez um discurso. Agradeceu a Tiago por tudo, desejou um futuro com ele. A multidão começou a gritar: "Beija! Beija!"

Tiago hesitou por um instante, os olhos procuraram os meus na multidão. Depois, resignou-se e beijou Inês longamente, sob os aplausos dos convidados.

Senti o meu limite a ser atingido. Aquela humilhação pública era demais. Tentei sair discretamente.