Quando me virei para sair, um grupo de amigas de Inês cercou-me. Eram as mesmas que tinham espalhado os boatos sobre mim.
"Onde pensas que vais, querida?" disse uma delas, com um sorriso trocista.
"Deixa-me em paz."
"Ainda não percebeste? És a terceira pessoa aqui. O Tiago ama a Inês. Sempre amou."
"Ele só esteve contigo porque a Inês não estava por perto."
As palavras delas eram cruéis, mas já não me atingiam como antes. Eu sabia a verdade sobre Tiago.
"Saiam da minha frente." Tentei passar.
Uma delas entornou deliberadamente um copo de vinho tinto no meu vestido. O líquido gelado escorreu pela minha pele.
"Ups, desculpa!" disse ela, falsamente.
Depois, a outra empurrou-me com força. Perdi o equilíbrio e caí para trás, na piscina da quinta. A água fria envolveu-me, e o pânico instalou-se. Eu não sabia nadar.
Debati-me, a água a entrar-me pela boca e pelo nariz. Vi Tiago a correr na minha direção, o rosto alarmado. "Sofia!"
Ele ia saltar. Por um momento, uma faísca de esperança acendeu-se.
Mas, nesse instante, Inês "caiu" na piscina ao lado, a gritar por socorro de forma teatral.
"Tiago, ajuda-me! Estou a afogar-me!"
Tiago parou, olhou de mim para Inês, e sem hesitar, mergulhou e nadou até ela. Salvou Inês primeiro.
Eu afundei, a consciência a abandonar-me. A última coisa que vi foi Tiago a emergir com Inês nos braços.
Acordei num quarto de hospital. Funcionários da quinta tinham-me salvo. O médico disse que tinha tido sorte. Uma pneumonia ligeira, mas ia recuperar.
Tiago mal me visitou. Passava a maior parte do tempo com Inês, que, segundo ele, estava "traumatizada" com o incidente.
Inês apareceu no meu quarto um dia.
"Sofia, desculpa pelas minhas amigas. Elas às vezes são um bocado... entusiastas." Superficial, como sempre.
Não respondi.
Ela sentou-se ao meu lado. "O Duarte parece ser um homem interessante. Como é que ele é?"
Fui forçada a descrever o meu "noivo". Falei da sua seriedade, da sua inteligência, da sua paixão pela arquitetura.
Inês suspirou. "O Tiago é tão diferente. Ele é tão apaixonado, tão... grudento. Quando estamos juntos, parece que o mundo não existe."
Senti uma pontada. Ele nunca fora assim comigo.
De repente, Inês franziu o sobrolho. "Sabes, às vezes tenho flashes... Lembro-me de estar num carro, de uma discussão... Foi contigo que eu estava antes do acidente?"
O meu coração parou. Ela estava perto da verdade.
Nesse momento, Tiago entrou no quarto.
"Inês, querida, não te esforces a lembrar. O médico disse que não é bom. Estavas sozinha no carro, despistaste-te por causa da chuva."
Ele mentiu, os olhos a suplicarem para que eu confirmasse.