"Você pode tirar para nós, Sofia? Por favor?"
O pedido era carregado de falsa doçura.
Sofia pegou o celular, o rosto impassível.
Enquadrou os dois. Laura se aninhou em Ricardo, a cabeça encostada em seu ombro.
Ele não a afastou. Pelo contrário, passou o braço ao redor dos ombros dela.
Um gesto de intimidade que fez o estômago de Sofia revirar.
Ela tirou a foto, a mão firme apesar do turbilhão interno.
Ricardo olhou para ela rapidamente, como se notasse sua falta de reação, sua aparente calma.
Isso o surpreendeu?
Laura olhou a foto. "Ficou ótima! Obrigada, Sofia."
Então, com uma malícia velada, ela disse: "Capitão, por que não tiramos uma com a Sofia também? Para ela ter uma recordação."
Sofia sentiu o sangue gelar. Sabia o que viria.
Ricardo olhou para Sofia, o rosto endurecendo.
"Não vejo necessidade. Sofia está aqui a trabalho, não a passeio."
A rejeição foi fria, pública, humilhante.
Laura fingiu constrangimento. "Oh, claro. Desculpe, Sofia."
Sofia apenas deu de ombros. "Sem problemas."
Mas por dentro, a ferida sangrava.
Uma nuvem escura começou a se formar no horizonte.
O tempo mudou rapidamente, como costuma acontecer no Pantanal.
O vento aumentou, e gotas grossas de chuva começaram a cair.
"Tempestade se formando," Ricardo disse, a voz urgente. "Laura, coloque o colete salva-vidas. Sofia, você também."
Ele ajudou Laura a vestir o colete, ajustando as tiras com cuidado.
Laura se agarrou ao braço dele, fingindo medo. "Estou com tanto medo de tempestades, Capitão."
Ele a tranquilizou. "Vai ficar tudo bem. Vou nos tirar daqui."
Sofia vestiu seu colete em silêncio, observando a cena.
A chuva se intensificou, transformando-se em um temporal.
O barco balançava violentamente.
De repente, Laura gritou.
"Uma cobra! Uma cobra no barco!"
Sofia viu o réptil escuro e sinuoso perto dos pés de Laura.
Antes que pudesse reagir, Laura, em um movimento aparentemente de pânico, empurrou Sofia.
Sofia perdeu o equilíbrio e caiu na água gelada do rio, que já começava a subir rapidamente com a tromba d'água que se formava.
Ela engoliu água, lutando para voltar à superfície.
Quando conseguiu, viu Laura apontando para a própria perna.
"Ela me picou! A cobra me picou!" Laura gritava, o rosto contorcido de dor.
Ricardo estava ao lado dela, pálido.
Sofia sentiu uma dor aguda na panturrilha. Olhou para baixo e viu duas pequenas marcas de sangue.
A cobra também a havia picado.
Ela tentou gritar, mas a voz não saiu.
O veneno começava a fazer efeito, uma tontura a dominando.
Ricardo pegou o kit de primeiros socorros. Havia apenas uma dose de soro antiofídico.
Uma dose. Duas vítimas.
Sofia olhou para Ricardo, os olhos suplicantes.
Ele olhou para Laura, depois para Sofia. O pânico em seus olhos era visível.
"Laura está pior," ele disse, a voz tensa. "Ela foi picada primeiro."
Ele se virou para Laura, preparando a seringa.
Sofia sentiu o mundo girar.
Ele escolheu Laura.
Ele a estava abandonando.
A dor da picada era nada comparada à dor daquela escolha.
Ela afundou na água, a consciência se esvaindo.