O Contrato de Cinco Anos: Minha Prisão Dourada
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Capítulo 3

A manhã seguinte foi uma sinfonia de contrastes.

Eu acordei cedo, como sempre, e preparei o chá de Thiago. Era um ritual matinal. Uma dose para manter a sua condição sob controlo.

Quando desci, encontrei-os na sala de jantar. Isabela estava sentada no meu lugar, a usar um dos robes de seda de Thiago, rindo de algo que ele disse. Ele estava a alimentá-la com pedaços de fruta, como se fossem os únicos dois no mundo.

A cena era tão intimamente doméstica que me senti uma intrusa na minha própria casa.

Coloquei a chávena de chá na frente de Thiago, sem dizer uma palavra.

Ele nem olhou para mim.

Isabela, no entanto, parou de rir e olhou para a chávena com curiosidade.

"O que é isto, querido? Um chá especial?"

"É só um remédio", disse Thiago, com desdém. "Coisas de curandeira."

Isabela pegou na minha mão quando eu me virei para sair. A sua pele era macia, as unhas perfeitamente feitas. O toque dela era como o de uma aranha.

"Sofia, querida, obrigada. O Thiago contou-me como tens sido dedicada a cuidar dele. Ele disse que te ama muito por isso."

A mentira era tão descarada, tão provocadora, que era quase cómica.

Thiago riu. "Sim, eu amo-a como se ama uma muleta útil. Agora bebe o teu chá, Sofia preparou-o especialmente para ti."

Ele estava a gozar comigo, a humilhar-me na frente dela.

Puxei a minha mão. "O meu trabalho está feito."

Virei-me para sair da sala de jantar.

"Espera." A voz de Thiago era uma ordem. "Onde pensas que vais?"

"Para o meu quarto."

"Não. Hoje vais ficar aqui. Vais servir-nos o pequeno-almoço."

Olhei para ele. A minha paciência, que eu pensava ser infinita, estava a esgotar-se.

"Isso não faz parte do meu contrato."

"Eu estou a fazer com que faça parte. Ou fazes o que eu digo, ou podes começar a fazer as malas. Mas não penses que vais sair desta casa com um único centavo."

A ameaça era vazia. Eu não queria o dinheiro dele. Eu só queria a minha liberdade.

"O contrato termina em cinquenta e nove dias. Até lá, eu cumprirei as minhas obrigações originais. Nada mais."

O rosto de Thiago ficou vermelho de raiva. Ele nunca tinha sido contrariado por mim. A minha submissão silenciosa era algo que ele dava como garantido.

"Tu estás a desafiar-me?"

"Estou a esclarecer os termos do nosso acordo."

Ele levantou-se, derrubando a cadeira. "Sua..."

"Thiago, querido, acalma-te." Isabela interveio, a voz suave como seda. "Não vale a pena ficares chateado por causa dela. Deixa-a ir. Nós podemos ficar sozinhos."

Ela estava a deitar gasolina no fogo, a pintar-me como uma perturbação insignificante para a felicidade deles.

Ele respirou fundo, controlando-se.

"Tens razão. Sai da minha frente", ele cuspiu na minha direção. "A tua presença arruína o meu apetite."

Voltei para o meu quarto e comecei a arrumar as minhas poucas coisas numa mala pequena. Roupas simples, alguns livros. A caixa de madeira com as memórias de Lucas.

Eu não ia esperar mais cinquenta e nove dias de tortura. Eu ia sair assim que pudesse.

Preparei uma última grande quantidade do chá medicinal. O suficiente para durar alguns meses. Era a minha última obrigação. Mesmo na minha partida, eu não o deixaria sofrer fisicamente. A minha consciência não o permitiria. Era um sacrifício da minha própria vitalidade, pois a erva principal exigia um processo de preparação que me deixava exausta, mas era a última coisa que eu faria por aquela família.

Naquela noite, o meu telemóvel tocou. Era o motorista de Thiago. A voz dele estava em pânico.

"Dona Sofia, é o Senhor Thiago! Ele está a ter uma crise! Uma muito má! Ele e a Dona Isabela estavam num clube, ele bebeu muito... por favor, ajude!"

Eu sabia o que tinha acontecido. O álcool em excesso anulava o efeito do chá. Ele sabia disso, mas a sua arrogância e o desejo de impressionar Isabela devem tê-lo feito esquecer.

"Onde estão vocês?"

"Estamos a caminho de casa. Mas ele está muito mal!"

Desci as escadas a correr. Quando o carro chegou, Thiago estava no banco de trás, a contorcer-se, os olhos revirados. Isabela estava ao lado dele, a gritar, inútil.

"Faz alguma coisa!", gritou ela para mim.

Empurrei-a para o lado, peguei na cabeça de Thiago e forcei-o a beber um concentrado do chá que eu tinha preparado para emergências.

Lentamente, os espasmos pararam. A respiração dele acalmou. Ele adormeceu, exausto.

Isabela olhava para mim com uma mistura de medo e ódio. O poder que eu tinha sobre a vida dele era algo que ela não podia suportar.

No dia seguinte, Thiago confrontou-me. Ele estava pálido e fraco.

"O que é que há naquele chá?", perguntou ele, a voz rouca.

"É a cura", respondi simplesmente.

"É um veneno! É uma forma de me controlares! Tu fizeste aquilo de propósito!"

A acusação era tão absurda, tão injusta, que me deixou sem fôlego. Eu salvei-lhe a vida, e ele acusava-me de tentar matá-lo.

"Pensa o que quiseres", disse eu, virando-me para sair.

Ele agarrou-me pelo braço. "Tu não vais a lado nenhum. Eu quero saber o que é aquilo."

Enquanto ele me segurava, a sua mão esbarrou no bolso do meu casaco. Um pequeno frasco de vidro caiu no chão. Era um dos meus próprios remédios, para a dor crónica que eu sentia desde a preparação intensiva do chá dele.

Ele apanhou-o. "O que é isto?"

"Não é nada."

Ele não acreditou. Abriu o frasco, cheirou e guardou-o no bolso.

"Vou mandar analisar isto. E se eu descobrir que me estás a envenenar, vou fazer-te pagar."

Ele saiu, deixando-me ali, a tremer. Não de medo, mas de uma dor profunda e cansada. Ele tinha roubado o meu remédio, a única coisa que aliviava o custo físico de o manter vivo. A injustiça era esmagadora.

                         

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