Capítulo 3

Alguns dias depois, Sofia recebeu alta. Leonor insistiu que ela passasse uns dias em sua casa antes de ir para o Porto.

Numa tarde, estavam num jardim perto da casa dos Vasconcelos. Inês apareceu, inesperadamente.

"Sofia, Leonor! Que coincidência!"

Inês trazia consigo um ar de quem procurava companhia, mas os seus olhos brilhavam com malícia.

Começou a falar sobre o seu "maravilhoso" relacionamento com Tiago, cada palavra parecendo calculada para atingir Sofia, mesmo que esta não se lembrasse de nada.

"O Tiago é tão atencioso, sabem? Ele faz tudo por mim. Diz que nunca amou ninguém como me ama."

Sofia ouvia em silêncio, observando as reações de Leonor, que revirava os olhos discretamente.

De repente, enquanto passavam perto de um chafariz, Inês tropeçou espetacularmente, caindo dentro de água.

"Ai! Socorro!" gritou Inês, mais por teatro do que por necessidade.

Tiago, que surgira do nada, correu na direção delas.

Ele viu Inês encharcada e olhou furioso para Sofia.

"O que é que lhe fizeste?" gritou ele, sem sequer perguntar o que tinha acontecido.

Antes que Sofia pudesse responder, Tiago agarrou-a pelo braço e empurrou-a com força para dentro do chafariz.

A água fria chocou Sofia, deixando-a sem ar.

"Isto é para aprenderes a não te meteres com a Inês!" vociferou Tiago, enquanto ajudava uma Inês fingidamente assustada a sair da água.

Sofia emergiu, a tremer de frio e de raiva. A injustiça da situação era esmagadora.

Leonor correu para ajudar Sofia, fuzilando Tiago com o olhar.

"És um idiota, Tiago! Ela não fez nada!"

Tiago ignorou a irmã, preocupado apenas com Inês.

Mais tarde, já em casa de Leonor, seca e aquecida, Sofia decidiu não contar todos os detalhes do que Tiago lhe fizera.

"Não te preocupes, Leo. Estou bem. Foi só um acidente estúpido."

Leonor olhou para ela, desconfiada, mas não insistiu.

Sofia sentia uma dor profunda, não só física, mas emocional. Aquele homem, Tiago, era cruel. E ela, de alguma forma, tinha-o amado. Era incompreensível.

A decisão de ir para o Porto tornava-se cada vez mais urgente.