Sofia observava tudo em silêncio, num canto, garantindo que todos os pormenores da festa corriam como planeado. A adulação a Beatriz era quase palpável.
Beatriz avistou-a e aproximou-se, um sorriso falso nos lábios.
"Sofia, querida. A festa está... aceitável. Mas este vestido é tão pesado. Pode segurar-me a cauda enquanto circulo?"
Era uma provocação clara, uma forma de a humilhar publicamente.
Sofia tentou manter a compostura.
"Sra. Ferraz, talvez uma das empregadas da quinta possa ajudá-la com isso?"
Beatriz fez uma expressão de ultraje.
"Como se atreve a recusar? É sua obrigação!"
Tiago aproximou-se, percebendo a tensão.
"O que se passa, meu amor?"
Beatriz fez beicinho.
"Tiago, a Sofia está a ser insolente. Pedi-lhe apenas para me ajudar com o vestido, e ela recusa-se."
Tiago olhou para Sofia, o olhar reprovador.
"Sofia, a Beatriz pediu-lhe uma coisa simples. Faça o que ela diz. É parte das suas funções."
Alguns convidados, os mais próximos de Beatriz, juntaram-se ao coro, murmurando sobre a "falta de profissionalismo" de Sofia.
Humilhada, Sofia cedeu. Segurou a cauda do vestido de Beatriz, seguindo-a pela festa como uma criada.
Beatriz parecia deleitar-se com a situação, parando frequentemente, obrigando Sofia a ajustar o vestido, prolongando o seu sofrimento.
Depois, Beatriz parou junto a uma mesa de bebidas.
"Estou com tanta sede, mas não posso beber muito álcool. Sofia, querida, beba estes copos de vinho por mim. É feio recusar os brindes."
Havia vários copos cheios.
Sofia sentiu um arrepio.
"Sra. Ferraz, eu tenho enxaquecas terríveis com álcool. Não posso..."
Beatriz virou-se para Tiago, a voz chorosa.
"Tiago, ela está a inventar desculpas! Quer estragar a minha festa!"
Tiago franziu o sobrolho para Sofia.
"Sofia, não seja difícil. Tome um comprimido para a dor de cabeça e beba. Não vamos criar um problema por causa disto."
O desprezo dele pela saúde dela era evidente. Sofia engoliu em seco, tomou um analgésico que trazia na mala e começou a beber os copos de vinho, um após o outro. O líquido descia a queimar, e a cabeça dela já começava a latejar.
De repente, Beatriz levou as mãos ao pescoço, uma expressão de pânico no rosto.
"O meu colar! O meu colar de diamantes desapareceu!"
Gerou-se um alvoroço. O colar era uma peça caríssima, uma herança de família.
Beatriz olhou diretamente para Sofia, os olhos brilhando de malícia.
"Foi ela! Eu vi-a a olhar para o meu colar o tempo todo! Ela roubou-o!"
Sofia ficou pálida. "Isso não é verdade! Eu nunca faria tal coisa!"
Tiago hesitou por um momento, olhando de Beatriz para Sofia.
"Calma, Beatriz. Vamos procurar. Deve estar por aqui."
Beatriz agarrou o braço de Tiago, as lágrimas a escorrerem-lhe pelo rosto.
"Tiago, se não a revistares agora, se não acreditares em mim, acabo tudo contigo! Esta mulher é uma ladra!"
A ameaça pairou no ar. Tiago olhou para Sofia, o rosto endurecido.
"Seguranças! Revistem-na!"
Dois seguranças agarraram Sofia pelos braços. Ela debatia-se, humilhada.
"Não! Eu não roubei nada! Parem!"
Revistaram-na à força, ali, à frente de todos os convidados. As suas roupas foram remexidas, a sua dignidade espezinhada. Não encontraram nada.
De repente, uma das amigas de Beatriz gritou: "Achei! Estava aqui, debaixo da almofada do sofá onde a Beatriz esteve sentada!"
O colar apareceu.
Tiago suspirou, aliviado. Pegou no colar e colocou-o de volta no pescoço de Beatriz.
"Vês, meu amor? Foi só um susto."
Beatriz olhou para Sofia, um sorriso vitorioso nos lábios.
"Oh, Tiago, achas que devo pedir desculpa à Sofia? Coitadinha, deve ter ficado tão assustada." A voz dela era puro sarcasmo.
Tiago encolheu os ombros.
"Foi um mal-entendido. Não precisas de te desculpar com uma simples secretária. O sofrimento dela é insignificante."