Beatriz, percebendo a presença de Sofia, fez uma careta.
"Tiago, querido, aquela assistente ainda está aqui? Pensei que já tinha ido embora." A voz dela era alta o suficiente para Sofia ouvir.
Tiago olhou brevemente para Sofia, a frieza no olhar era palpável.
Momentos depois, Sofia ouviu Tiago ao telefone.
"Sim, percebo que a reunião com os investidores estrangeiros é crucial... Mas a Beatriz não se está a sentir muito bem. Vamos ter de adiar."
Sofia gelou. Aquela reunião era vital para um novo projeto da empresa. Ela tinha trabalhado nela durante meses.
Aproximou-se de Tiago, a preocupação profissional a sobrepor-se à sua dor pessoal.
"Sr. Monteiro, essa reunião é muito importante. Adiar pode ter consequências graves."
Beatriz interveio, a voz melosa.
"Oh, Sofia, não seja tão dramática. O Tiago sabe o que faz. Não tem discernimento nenhum, pois não?"
Tiago fuzilou Sofia com o olhar.
"A Beatriz tem razão. Não se meta onde não é chamada."
Sofia recuou, engolindo a humilhação. Com esforço, recompôs-se e foi tratar das consequências do adiamento.
Passou a manhã a pedir desculpas aos investidores furiosos, a tentar reagendar, a absorver a culpa que não era sua.
Ao início da tarde, Beatriz aproximou-se da secretária de Sofia.
"Sofia, querida, pode fazer o favor de preparar cafés para todo o departamento? E para mim, traga um café gelado, bem forte."
Era uma ordem, não um pedido.
Sofia assentiu, a exaustão a pesar-lhe nos ombros. Passou quase uma hora a preparar e a distribuir os cafés.
Quando entregou o café gelado a Beatriz, esta provou-o e fez uma careta.
"Isto está horrível! Pedi gelado, mas não pedi para estar frio como pedra!"
E, sem aviso, atirou a chávena contra Sofia. O líquido gelado escorreu-lhe pela roupa, mas o pior foi a chávena de porcelana que lhe atingiu a testa com força.
Sofia levou a mão à cabeça, sentindo o sangue quente a escorrer por entre os dedos.
Os colegas observavam, chocados, mas ninguém interveio.
Tiago apareceu, atraído pelo barulho. Viu Sofia com a mão na testa ensanguentada, Beatriz com uma expressão de ultraje.
"O que se passa aqui?"
Beatriz começou a chorar.
"Tiago, ela atacou-me! Eu só lhe pedi para refazer o café, e ela ficou furiosa, atirou-me a chávena!"
Sofia olhou para Tiago, incrédula. Esperava que ele, pelo menos desta vez, visse a verdade.
Mas Tiago nem sequer olhou para ela. A sua preocupação era toda para Beatriz.
"Sofia, como se atreve? Peça já desculpa à Beatriz! E este incidente vai ser descontado do seu salário!"
Ele afastou-se com Beatriz, amparando-a como se ela fosse a vítima.
Sofia ficou ali, sozinha, a testa a latejar, o coração em pedaços.