Tarde Demais Para o Amor Dela
img img Tarde Demais Para o Amor Dela img Capítulo 2
3
Capítulo 4 img
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
Capítulo 16 img
Capítulo 17 img
Capítulo 18 img
Capítulo 19 img
Capítulo 20 img
img
  /  1
img

Capítulo 2

As palavras de Isabela ecoaram na sua mente, cada uma como um golpe.

"Ele vai ter de aceitar."

Ela não lhe pediu, ela impôs.

O espaço que eles construíram juntos, tijolo a tijolo, sonho a sonho, era agora o santuário de outro homem.

Ele sentiu-se um intruso na sua própria vida.

Voltou para o escritório, a sua decisão tomada.

Quando entrou, a cena que o saudou foi pior do que imaginara.

Lucas estava sentado na sua cadeira de arquiteto, a mexer nos seus desenhos, enquanto Isabela lhe servia um café, sorrindo com uma ternura que ele não via há muito tempo.

Ao verem-no, não pareceram envergonhados.

"João Pedro, que bom que voltaste," disse Isabela, o seu tom casual, como se nada estivesse errado, "Já decidiste? O Lucas pode ficar?"

Lucas levantou-se, um sorriso humilde no rosto.

"João Pedro, se for um incómodo, eu posso mesmo ir embora, a Isabela já fez muito por mim."

Era uma manipulação tão óbvia que chegava a ser insultuosa.

"Não, Lucas, tu não vais a lado nenhum," disse Isabela, pondo-se à frente dele como uma leoa a proteger a sua cria, "Este lugar é tão meu quanto dele, tu ficas."

João Pedro olhou para ela, para o homem que ela defendia com tanta paixão, e sentiu algo a quebrar-se dentro de si.

Ele respirou fundo, a sua voz surpreendentemente calma.

"Tudo bem, ele fica."

Isabela sorriu, vitoriosa.

"Sabia que ias entender."

Lucas também sorriu, um brilho de triunfo nos seus olhos.

"Obrigado, João Pedro, prometo não incomodar."

"Não vais," concordou João Pedro, "Porque eu vou-me embora."

Ele foi ao seu estúdio, pegou numa pequena mala que guardava para viagens e começou a arrumar as suas coisas mais pessoais: algumas fotografias, os seus cadernos de esboços, um prémio que ganhara na faculdade.

Isabela seguiu-o, confusa.

"O que estás a fazer?"

"Estou a arrumar as minhas coisas," disse ele, sem olhar para ela, "Como disseste, o espaço também é teu, podem ficar com ele todo, afinal, eu sou supérfluo aqui."

"Para com o drama, João Pedro!" ela gritou, a sua paciência a esgotar-se, "Estás a agir como uma criança mimada! Onde está a compaixão que o teu pai sempre te ensinou a ter?"

A menção ao seu pai foi a gota de água.

O seu pai, um homem que construiu um império do nada, que sempre o ensinou a ser forte, mas também justo.

Ele virou-se, a sua calma a evaporar-se.

"O meu pai? Não te atrevas a falar do meu pai," a sua voz era baixa e perigosa, "O meu pai ensinou-me a ajudar os necessitados, não os manipuladores, e ensinou-me a proteger o que é meu, e tu, Isabela, estás a dar o que é nosso a um estranho."

Ele passou por ela, a mala na mão, e dirigiu-se para a porta.

Isabela ficou pálida, as suas palavras presas na garganta.

Na rua, alguns vizinhos curiosos já olhavam da janela, a pequena cidade era um viveiro de coscuvilhices.

No dia seguinte, João Pedro estava no seu estúdio temporário, um pequeno espaço que alugara acima de uma loja, quando Lucas apareceu.

Ele parecia angustiado, os seus olhos vermelhos.

"João Pedro, por favor, volta para a Isabela, ela está a sofrer, ela ama-te."

João Pedro olhou para ele com desprezo.

"Poupa-me do teu teatro."

"Não é teatro," insistiu Lucas, aproximando-se, "Eu sei que estás zangado comigo, e tens razão, eu não devia ter aceitado a ajuda dela, mas eu não consegui evitar, ela é tão... boa."

Ele fez uma pausa dramática.

"Naquela noite, depois de saíres, ela estava tão triste, a chorar, eu tentei consolá-la e... nós beijámo-nos."

A confissão foi feita com uma falsa relutância, desenhada para causar o máximo de dor.

E causou.

João Pedro sentiu o sangue a fugir-lhe do rosto.

"Sai daqui," disse ele, a sua voz um sussurro.

"Eu só quero que vocês fiquem bem," disse Lucas, com uma sinceridade fingida, "Eu até disse a ela que sou como um irmão perdido dela, que talvez as nossas famílias se conhecessem no passado, qualquer coisa para a acalmar."

A menção de "irmão" fez João Pedro explodir.

Ele avançou, agarrando Lucas pelo colarinho.

"Tu não és nada dela!"

Era exatamente a reação que Lucas queria.

No momento em que João Pedro o empurrou, Lucas tropeçou para trás de forma exagerada, caindo sobre uma mesa de maquetes e derrubando tudo no chão com um estrondo.

Ele gritou de dor, agarrando o seu braço.

"Tu atacaste-me! Estás louco de ciúmes!"

            
            

COPYRIGHT(©) 2022