A raiva de Diogo borbulhava.
Como se atrevia Sofia a "divertir-se" com ele?
Ele ia acabar com aqueles desejos o mais depressa possível.
"Está bem, Sofia," ele disse ao telefone, a voz tensa. "Cinco desejos. Nem mais um. Depois, quero-te fora da minha vida."
"Combinado," a voz dela soou calma, quase divertida. "O primeiro, como sabes, é o leilão de beneficência esta noite. Estejas pronto às sete."
Ela desligou antes que ele pudesse protestar.
Às sete em ponto, Diogo estava à porta de Sofia, impaciente.
Ela apareceu, usando um vestido simples, mas elegante, de cor escura.
O cabelo estava apanhado, revelando um pescoço fino e pálido.
"Estás pálida," ele comentou, sem qualquer traço de preocupação. "Pareces doente."
Sofia ignorou o comentário. "Vamos?"
No leilão, Diogo mostrou-se entediado, olhando constantemente para o relógio.
Sofia, por outro lado, observava as obras de arte com interesse genuíno.
Havia uma pequena escultura de um artista emergente que lhe chamou a atenção.
Era uma representação abstrata de duas figuras entrelaçadas, uma protegendo a outra.
Durante o leilão da peça, Sofia fez um lance tímido.
Diogo, percebendo o seu interesse, começou a licitar agressivamente, elevando o preço para além do alcance dela.
Ele arrematou a peça por uma quantia exorbitante.
Sofia sentiu uma pontada de esperança. Será que ele a comprara para ela?
A esperança morreu quando Diogo, ao receber a escultura, caminhou até Leonor, que chegara entretanto, e ofereceu-lha com um sorriso galanteador.
"Para ti, meu amor," ele disse em voz alta, para que todos ouvissem. "Para celebrar o nosso futuro juntos."
Leonor beijou-o apaixonadamente, lançando um olhar triunfante a Sofia.
A humilhação foi pública, brutal.
Sofia sentiu as lágrimas a quererem saltar, a dor a apertar-lhe o peito.
Ela virou-se para sair, mas Diogo agarrou-lhe o braço.
"Onde pensas que vais? O meu desejo ainda não acabou."
"Solta-me, Diogo," ela disse, a voz trémula.
"Porquê? Estás com ciúmes?" ele provocou, apertando-lhe o braço com mais força. "Não sejas ridícula. Nunca terás o que a Leonor tem."
Sofia olhou para ele, os olhos brilhando com uma dor indisfarçável.
"Tens razão," ela sussurrou. "Eu nunca terei."
Ela puxou o braço com força e afastou-se, deixando-o com Leonor.
Passaram-se alguns dias em silêncio.
Diogo, impaciente para acabar com aquilo, ligou a Sofia.
"Qual é o próximo desejo? Não tenho o dia todo."
A voz de Sofia soou fraca ao telefone.
"Uma viagem de fim de semana à Costa Vicentina. Partimos amanhã de manhã."
"Costa Vicentina? Que raio vamos fazer lá?" ele resmungou.
"Apenas vai," ela pediu, a voz quase um sussurro.
Apesar da sua relutância, Diogo concordou.
Queria acabar com aquela farsa o mais depressa possível.
Na manhã seguinte, quando ele estava prestes a sair de casa para ir buscar Sofia, o telemóvel tocou.
Era Leonor, a voz em pânico.
"Diogo, meu amor, preciso de ti! Acho que estou a ter um ataque de ansiedade. Não consigo respirar!"
Diogo não hesitou.
"Estou a caminho, Leonor. Aguenta firme."
Ele enviou uma mensagem curta a Sofia.
"Emergência com a Leonor. A viagem fica adiada."
E saiu apressado, deixando Sofia mais uma vez sozinha com os seus planos desfeitos e o seu coração partido.
Ele não sabia, nem se importava, que a "emergência" de Leonor era apenas mais uma das suas manipulações calculadas.