O subordinado de Matias respondeu com uma vénia. "O meu mestre deseja permanecer anónimo, Senhorita Sofia. Ele apenas pede que aceite este humilde presente."
"Bem, irmã," disse Sofia, virando-se para mim. "Parece que ganhei. O colar é meu."
Eu não precisei de olhar para saber quem era o benfeitor. Senti um olhar frio e intenso nas minhas costas. Virei-me lentamente e encontrei os olhos de Matias. Ele estava de pé perto da parede, impassível como sempre, mas eu sabia. Era ele.
Caminhei até ao seu subordinado. "Foi o Matias, não foi? Foi ele que deu esta ordem."
O homem olhou para o seu chefe, que lhe deu um aceno quase impercetível.
"Sim, senhorita. Foram as ordens do Senhor Alencar."
Senti a raiva a subir pela minha garganta. "E quanto a mim? Ele era o meu segurança! Porque é que ele faria isto pela Sofia e não por mim?"
O homem olhou para mim com pena. "Senhorita, o meu mestre apenas segue o seu coração. Ele disse que a Senhorita Sofia é a mulher mais pura e bondosa que ele já conheceu, e que faria qualquer coisa para a ver feliz."
As suas palavras foram como um soco no estômago. Humilhação. Fúria. Desespero.
Matias nem sequer olhou para mim. O seu olhar estava fixo em Sofia, que agora desfilava pelo salão, a desfrutar da sua vitória.
Não consegui aguentar mais. Virei-me e saí a correr do salão, a minha visão turva pelas lágrimas que me recusava a derramar.
Fui para o bar mais próximo, um clube de praia exclusivo no Guarujá que a minha família frequentava. Precisava de uma bebida. Precisava de esquecer.
"Uma garrafa da sua melhor tequila," disse eu ao barman.
Estava a meio da garrafa quando ouvi a voz irritante de Sofia atrás de mim.
"Laila, o que estás a fazer aqui sozinha? É perigoso."
Ela não veio sozinha. Matias estava com ela, a sua sombra silenciosa. Ele tinha facilitado a entrada dela no meu camarote privado, ignorando as minhas ordens expressas de não ser incomodada.
"A viagem para a fazenda dos Salles é amanhã," tagarelava Sofia, sentando-se à minha frente. "Estou tão animada por ti! Mas também tão triste. Vou sentir a tua falta."
Eu permaneci em silêncio, a beber a minha tequila.
"Matias," disse Sofia, virando-se para ele. "Acha que o meu benfeitor secreto gosta mesmo de mim? Porque é que ele faria algo tão extravagante?"
Ouvi Matias responder, a sua voz surpreendentemente suave. "Ele fê-lo porque a admira, Senhorita Sofia. Para um homem como ele, o dinheiro não é nada. Onde o dinheiro está, o amor está. Ele só quer vê-la sorrir."
O meu coração partiu-se um pouco mais.
"E você, Matias?" perguntou Sofia, a sua voz a tornar-se um sussurro. "Você também gosta de mim?"
Eu não queria ouvir a resposta.
"Chega!" gritei, levantando-me. "Vão-se embora! Deixem-me em paz!"
Sofia começou a chorar. "Laila, porque é que és sempre tão má para mim? Eu só queria fazer-te companhia."
"Hipócrita," pensei eu. "Sempre a fazer-se de vítima."
Olhei para Matias, à espera que ele a defendesse. E ele fê-lo. Ele deu um passo em frente, colocando-se entre mim e Sofia, um protetor silencioso.
Senti uma onda de autodepreciação. Talvez os homens gostassem mesmo deste tipo de mulher. Frágil, chorosa, aparentemente inocente. Talvez a minha força e a minha língua afiada fossem o problema.