Quando o Amor Chega Tarde Demais
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Capítulo 2

Acordo com o som suave da sua respiração. A luz da manhã de Lisboa entra pela janela, iluminando o seu rosto. Mesmo com a maquilhagem borrada e o cabelo despenteado, ela é a mulher mais bonita que já vi.

Ela mexe-se e geme, levando a mão à cabeça.

"Que dor de cabeça," murmura ela, sentando-se. Os seus olhos encontram os meus e a suavidade desaparece, substituída por uma máscara de gelo.

"Onde estão os meus comprimidos?" pergunta ela, a voz ríspida.

Levanto-me e vou buscar a sua mala, encontrando o pequeno frasco. Entrego-lho com um copo de água. Ela engole-os sem uma palavra de agradecimento, os seus olhos evitando os meus.

O meu telemóvel vibra. É uma mensagem da minha mãe. "Estamos à vossa espera para o almoço. Não se atrasem."

"Temos de ir," digo eu. "Os meus pais estão à nossa espera na quinta."

Ela suspira, um som de puro fastio. "Claro. A obrigação social."

Enquanto ela está no duche, escondo os papéis do divórcio assinados no forro da minha mala. Um segredo doloroso que me vai libertar a ela.

A viagem para o Douro é silenciosa. Ela olha pela janela, o seu corpo o mais longe possível do meu no espaçoso Bentley. As suas mãos estão no seu colo, e vejo o seu polegar a passar nervosamente sobre o ecrã do seu telemóvel.

De repente, ela vira o volante bruscamente, saindo da autoestrada numa saída não planeada.

"O que estás a fazer?" pergunto, surpreendido.

"Um desvio," diz ela, com os dentes cerrados. "O Lucas precisa de mim."

Ela mostra-me o ecrã do telemóvel. É uma publicação do Instagram. Lucas, a sorrir para a câmara, com o braço à volta de uma rapariga bonita e loira. A legenda diz: "A celebrar a vida com a minha nova miúda."

É uma provocação óbvia, e a Sofia mordeu o isco.

Ela conduz como uma louca até um café da moda no Porto, onde o Lucas está sentado numa esplanada. Ela sai do carro sem sequer o desligar, deixando-me para trás.

Observo-a a marchar até à mesa, a sua raiva visível mesmo à distância. Vejo-a a discutir com o Lucas, a rapariga loira a parecer desconfortável.

Decido não esperar. Ligo a um dos motoristas da minha família para me vir buscar e sigo para a quinta dos meus pais.

Chego sozinho. A minha mãe corre para me abraçar, o seu rosto cheio de preocupação.

"Diogo? Onde está a Sofia?"

"Ela teve de ir," digo, a minha voz vazia. "O Lucas precisava dela."

O meu pai franze o sobrolho, a sua desaprovação clara.

Levo-os para a biblioteca, o cheiro a livros antigos e a madeira polida a encher o ar. Eles sentam-se, os seus olhos fixos em mim.

Respiro fundo.

"Mãe, pai. Eu vou divorciar-me da Sofia."

O choque nos seus rostos é palpável. A minha mãe leva a mão à boca.

"Diogo, o que estás a dizer? Casaram-se ontem!"

"Foi um erro," digo eu, a minha voz a quebrar pela primeira vez. "Ela não me ama. Ela ama o Lucas. Eu não posso viver outra vez uma década de miséria. Não posso vê-la infeliz por minha causa."

As lágrimas que tenho segurado finalmente caem. O meu pai, um homem de poucas palavras, levanta-se e põe a mão no meu ombro. A minha mãe vem e abraça-me com força.

"Oh, meu filho," soluça ela. "Nós vimos o teu sofrimento na última vida. Se é isto que tens de fazer, nós apoiamos-te. Podes sempre voltar para casa. Começar de novo."

O apoio deles é uma bóia de salvação num mar de dor.

"Eu vou garantir que todos tenham um final feliz desta vez," digo, mais para mim do que para eles. "Incluindo eu."

Mas, no fundo, sei que a minha felicidade já não é uma possibilidade.

            
            

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