Nos dias seguintes, o Instagram da Sofia é uma montra da sua devoção ao Lucas. Fotos deles a passear pela Ribeira, a beber vinho do Porto, a sorrir. Ele está a jogar o seu jogo de ciúmes na perfeição, e ela está a cair em cheio.
Cada foto é uma facada no meu peito, mas eu aguento. É o preço da sua felicidade.
Estou a planear o meu próximo passo: convencer o pai dela, o austero patriarca da família Carvalho, a aceitar a relação dela com o Lucas. Esse foi o segundo grande arrependimento dela, a desaprovação do pai que a assombrou.
Uma semana depois, a Sofia regressa à nossa casa em Lisboa. Ela entra na sala de estar onde estou a ler, a sua presença a encher o espaço.
"Temos uma festa na villa dos meus pais em Cascais esta noite," anuncia ela, sem rodeios. "Tens de vir."
Ela atira uma pequena caixa para o meu colo. "Veste isto."
Abro-a. É um alfinete de lapela de prata, simples e elegante. Um presente de última hora, sem qualquer pensamento por trás.
Nessa noite, na festa, o ar está pesado com o cheiro a sal e a perfume caro. A villa dos Carvalho em Cascais fica no topo de uma falésia, com vista para o Atlântico.
O Lucas está lá, claro. E está a usar um relógio Patek Philippe deslumbrante no pulso. Reconheço-o. A Sofia mostrou-mo numa revista há meses, dizendo que era o relógio de sonho do Lucas.
Ele aproxima-se de mim, um sorriso presunçoso no rosto.
"Gostas do relógio, Diogo?" pergunta ele, levantando o pulso. "A Sofia sabe que eu mereço o melhor. Não um pedaço de metal barato como esse teu alfinete."
Ignoro-o, mas a Sofia, que ouviu, franze o sobrolho. A sua lealdade cega a ele é exasperante.
Mais tarde, estamos todos no terraço, a beber champanhe. O Lucas está encostado à balaustrada de pedra, a exibir o relógio. Ele olha para mim, depois para o relógio, e depois um olhar de pânico fingido cruza o seu rosto.
"Oh, não!" grita ele. "Escorregou!"
O relógio de luxo voa do seu pulso, descrevendo um arco prateado contra o céu escuro antes de desaparecer nas águas negras lá em baixo.
Ele vira-se para mim, os seus olhos a arder de falsa acusação.
"Foste tu! Empurraste-me o braço!"
É uma mentira tão descarada que fico sem palavras. Mas a Sofia não hesita.
Ela marcha até mim, o seu rosto uma máscara de fúria.
"Como te atreves?" sibila ela. "Sabes quanto aquele relógio significava para ele!"
"Sofia, eu não fiz nada," digo eu, a minha voz calma.
"Mentes!" ela grita. "Eu vi-te a olhar para ele com inveja!"
Ela vira-se para os seguranças do pai dela.
"Ele vai recuperá-lo." A sua voz é fria como o gelo. "Agora."
Ela aponta para a beira da falésia.
"Mergulha e encontra-o."
O humilhação é pública. Todos os convidados estão a olhar. O Lucas tem um sorriso de triunfo mal disfarçado.
"Sofia, isso é loucura," digo eu. "Está escuro. As águas são perigosas."
"Eu não quero saber," diz ela, os seus olhos a brilhar de raiva. "Tu estragaste tudo, tu vais consertar. Ou queres que eu diga ao meu pai que o genro dele é um ladrão e um vândalo?"
Ela ordena aos seguranças que me agarrem. Eles arrastam-me para a beira da falésia.
"Joguem-no," ordena ela.
A sua crueldade, alimentada pela manipulação do Lucas, não conhece limites. Eles empurram-me. O ar frio da noite apressa-se a passar por mim enquanto eu caio na escuridão gelada do Atlântico.