Minha Segunda Chance Longe de Você
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Capítulo 1

Sofia amava Ricardo desde que se entendia por gente. Ele era o sócio mais velho de seu falecido pai, uma figura quase paterna, mas que despertava nela um amor juvenil e intenso.

Ricardo, com seus trinta e poucos anos, sempre a tratara com um carinho que Sofia interpretava como especial.

Um dia, ele lhe deu um vestido deslumbrante, azul como o céu do Rio.

"Para a minha menina," ele disse, com um sorriso que a fez corar.

Naquela noite, numa festa da alta sociedade carioca, tudo mudou. Ricardo foi drogado.

Sofia, usando o vestido que ele lhe dera, encontrou-o desorientado, vulnerável.

Para protegê-lo de um escândalo, ela o levou para um quarto e cuidou dele. Acabaram passando a noite juntos, de uma forma que ela nunca imaginara.

Ela se sentiu suja, mas também protetora.

No dia seguinte, Beatriz, amiga de infância de Ricardo, os flagrou.

Beatriz gritou, horrorizada, e saiu correndo.

Pouco depois, a notícia: Beatriz sofrera um acidente fatal na Avenida Niemeyer.

Ricardo, ao saber, transformou-se. O carinho em seus olhos morreu, substituído por um gelo cortante.

Ele a culpou.

Casaram-se, mas a vida de Sofia tornou-se um pesadelo.

Humilhações diárias, controle absoluto.

E os abortos. Dezoito. Um número que se tornou um símbolo de seu sofrimento extremo.

Cada procedimento clandestino, forçado por ele, era uma facada em sua alma.

No último, enquanto a vida se esvaía, ela ouviu a voz fria de Ricardo ao telefone, falando com o médico.

"Só me avise quando ela estiver morta."

Naquele instante, Sofia compreendeu a profundidade do ódio dele.

Então, a escuridão.

E, de repente, a luz.

Sofia acordou, ofegante, na noite da festa. O vestido azul ainda impecável.

O coração batia descontrolado. Uma segunda chance.

Ela não cometeria os mesmos erros.

Lembrou-se do legado de seu pai: um fundo fiduciário, contatos, e uma tia-avó rica em Lisboa.

Sua salvação.

Olhou para Ricardo, ainda grogue pela droga na cama do quarto da festa.

Lembrou-se de Beatriz, da sua inveja disfarçada de doçura.

Beatriz era a verdadeira culpada por muito do seu sofrimento na vida passada.

Sofia sentiu um calafrio.

Ela não o amava mais. Aquele amor idealizado morrera com ela.

Pegou o telefone.

Ligou para Beatriz.

"Beatriz, o Ricardo não está bem. Ele foi drogado. Precisa de ajuda. Estou no quarto X."

A voz de Beatriz, do outro lado, era uma mistura de surpresa e preocupação fingida.

"Sofia? O que aconteceu? Estou indo!"

Sofia desligou.

Ela sabia que Beatriz "salvaria" Ricardo. E que eles se aproximariam.

Era o que ela precisava.

Beatriz chegou rapidamente, com uma expressão de choque ensaiado ao ver Ricardo naquele estado.

"Meu Deus, Ricardo! O que fizeram com você?"

Sofia observou a cena, o estômago revirado.

"Ele precisa de você, Beatriz. Acho que ele sempre precisou."

Beatriz a olhou, desconfiada.

"O que você quer dizer com isso?"

"Ele te ama, Beatriz. Sempre te amou. Eu fui só uma distração boba."

As palavras saíram com um gosto amargo, mas firme.

Sofia pensou em todo o amor que dedicara a Ricardo, um amor que ele nunca pareceu corresponder de verdade.

Tanto sofrimento por nada.

Uma lágrima teimosa escorreu, mas ela a secou rapidamente.

Não havia tempo para autopiedade.

Precisava focar em sua fuga, em sua nova vida em Lisboa.

Ricardo gemeu na cama, começando a despertar.

"Beatriz, leve-o. Cuide dele," Sofia disse, a voz urgente.

Beatriz, ainda um pouco hesitante, mas vendo a oportunidade, assentiu.

"Claro. Pobrezinho."

Um comentário sarcástico escapou dos lábios de Beatriz, que Sofia quase não ouviu.

Ver Beatriz se aproximando de Ricardo, tocando seu rosto com uma falsa preocupação, foi como um martelo esmagando os últimos resquícios de seu antigo coração.

Mas, paradoxalmente, sentiu um alívio imenso.

Estava livre.

Sofia saiu do quarto discretamente, deixando os dois a sós.

A festa continuava lá fora, alheia ao drama.

Ela sentia o corpo dolorido, uma exaustão profunda, mesmo que nada físico tivesse acontecido ainda nesta nova linha do tempo.

A memória do sofrimento era real demais.

Passou a noite em claro, planejando cada passo.

O legado do pai era sua única esperança.

De manhã, o telefone tocou. Era seu pai.

Claro, nesta linha do tempo, ele ainda estava vivo.

Uma onda de emoção a atingiu.

"Sofia, minha filha! Tenho ótimas notícias! Sua tia-avó em Lisboa adorou seus desenhos preliminares para o concurso de arquitetura. Ela quer que você vá para lá, estudar e talvez até trabalhar com um amigo dela, um arquiteto renomado!"

Sofia quase chorou de alívio. Era o destino lhe sorrindo.

Na vida passada, ela recusara essa mesma oportunidade, cega pelo amor por Ricardo.

Que tola ela fora.

"Pai, eu aceito! Eu quero ir!"

A voz de seu pai se encheu de alegria.

"Maravilha, filha! E tem mais, sua tia-avó até mencionou um jovem arquiteto talentoso, Miguel. Quem sabe vocês não se entendem?"

Um noivo arranjado? Sofia sorriu.

Naquele momento, qualquer coisa era melhor do que o inferno que vivera.

"Pai, obrigada. Eu... eu cometi alguns erros de julgamento. Preciso recomeçar."

"Eu entendo, minha querida. Todos cometemos erros. O importante é aprender e seguir em frente. Lisboa será um novo começo para você."

As palavras de seu pai a tocaram profundamente.

Lágrimas de arrependimento e gratidão rolaram por seu rosto.

Estava decidida. Iria para Lisboa. Deixaria Ricardo e Beatriz para trás, para se destruírem mutuamente se quisessem.

Ela construiria sua própria felicidade.

            
            

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