Livre Finalmente: O Coração Que Não Espera Mais
img img Livre Finalmente: O Coração Que Não Espera Mais img Capítulo 3
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Capítulo 3

Os dias que se seguiram foram um borrão de dor entorpecida.

Sofia, de alguma forma, conseguiu o meu número de telemóvel.

Começou a enviar-me fotografias, imagens dela e de Duarte, sorrindo, abraçando-se, as suas mãos pousadas sobre a sua barriga crescente, a imagem da felicidade doméstica.

Cada fotografia era uma nova facada, cada mensagem uma tortura calculada.

"Ele está tão feliz, Lúcia, estamos a construir uma família, não queres o melhor para ele?"

O meu coração, que já estava em pedaços, começou a morrer, um músculo cansado que já não conseguia bombear nada para além de desespero.

Deixei de sentir, a dor era tão constante que se tornou o meu estado natural, um zumbido baixo no fundo da minha alma.

Um dia, recebi uma mensagem dela que me fez parar de respirar.

"Se queres o teu pendente de volta, vem à festa de noivado que os pais do Duarte estão a dar, estarei à tua espera junto ao lago."

O Coração de Viana, o meu último elo com a minha mãe, era a isca, e eu, como uma tola, mordi-a.

Fui à festa, sentindo-me deslocada no meio de tanta riqueza e poder, os vestidos de seda e os fatos caros roçavam em mim, os olhares curiosos seguiam-me como abutres.

Encontrei-a junto ao lago, como ela disse, o pendente brilhava ao seu pescoço, uma provocação cruel.

"Então vieste", disse ela, com um sorriso vitorioso. "Sabia que não resistirias."

"Dá-me o pendente, Sofia."

"Ajoelha-te", disse ela, a sua voz baixa e cheia de veneno. "Ajoelha-te e pede-me desculpa por tentares destruir a minha família, talvez, se fores suficientemente convincente, eu te devolva este pedaço de lixo."

A humilhação era um nó na minha garganta, mas o desespero era mais forte, olhei para o pendente, para a memória da minha mãe, e lentamente, dobrei os joelhos.

"Por favor", sussurrei, as palavras a arranharem a minha garganta.

Ela riu, um som feio que quebrou a beleza da noite.

Com um movimento rápido, ela arrancou o pendente do pescoço, segurou-o por um momento, e depois, com uma crueldade deliberada, atirou-o contra uma rocha.

O som do metal a partir-se foi o som do meu coração a estilhaçar-se para sempre.

"Ops", disse ela, com uma falsa inocência.

No momento seguinte, a sua filha Leonor, que estava a brincar por perto, tropeçou e caiu, começando a chorar.

Sofia correu para a menina, mas em vez de a confortar, virou-se para mim, o seu rosto contorcido numa máscara de fúria.

"O que lhe fizeste? Empurraste-a! Estás a tentar magoar a minha filha outra vez!"

Foi nesse preciso momento que Duarte e os seus pais apareceram, atraídos pelos gritos.

Eles viram-me de joelhos, viram o pendente partido no chão, viram a criança a chorar e Sofia a acusar-me.

A cena estava montada, e eu era a vilã.

O pai de Duarte, um homem imponente com um temperamento feroz, não hesitou, ele caminhou até mim e deu-me uma bofetada, a força do golpe atirou-me para o lado.

"Sua vadia imunda! Como te atreves a tocar na minha neta?"

A sua mãe observava, os seus olhos frios como gelo.

"Levem-na para a adega outra vez, desta vez, certifiquem-se de que ela aprende a lição."

Procurei o olhar de Duarte, uma última e desesperada tentativa de encontrar um vislumbre de salvação, ele olhou para mim, a sua expressão uma mistura de dor e conflito, por um segundo, pensei que ele ia intervir.

Mas depois, ele desviou o olhar, virou-me as costas.

Essa foi a traição final.

Um riso amargo e quebrado escapou dos meus lábios, eu ri da minha própria estupidez, da minha ingenuidade, por acreditar que o amor podia conquistar tudo.

Dois empregados agarraram-me pelos braços e arrastaram-me em direção à adega, as promessas de Duarte ecoavam na minha mente, "Espera só mais um pouco", "Eu amo-te, Lúcia".

Mentiras. Tudo mentiras.

A porta da adega fechou-se com um baque surdo, mergulhando-me na escuridão e no frio.

Desta vez, a dor física era esmagadora, a minha bochecha ardia, o meu corpo doía, mas era a dor da traição que me consumia.

O frio, a escuridão, a dor... tudo se misturou num turbilhão avassalador, e eu perdi a consciência, acolhendo o esquecimento como um velho amigo.

            
            

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