Para Além das Cinzas: O Nosso Amor
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Capítulo 2

Sofia acordou na manhã seguinte com uma dor de cabeça lancinante e o corpo dorido. Alguém lhe tinha tratado o corte na mão, uma ligadura limpa envolvia-a.

Lembrou-se da promessa. Seis dias.

Olhou para o calendário na parede do seu pequeno quarto. Era o aniversário de Tiago.

Uma ideia louca, desesperada, formou-se na sua mente. Uma última tentativa. Talvez, só talvez, se ela lhe mostrasse que ainda se lembrava, que ainda se importava...

Passou o dia na cozinha, um espaço que raramente lhe era permitido usar. Preparou o prato favorito de infância dele: Arroz de Pato. As suas mãos tremiam, mas ela persistiu.

Depois, com papel e canetas que encontrara numa gaveta esquecida, fez um pequeno álbum. Colou fotografias antigas, deles os dois, nos tempos do liceu, sorridentes e despreocupados. Escreveu pequenas legendas, memórias de um tempo feliz.

Ao fim da tarde, enviou-lhe uma mensagem, um número que ele raramente usava para falar com ela, mas que ela sabia que ele veria. "Encontra-me no nosso velho miradouro. Tenho um presente para ti."

Esperou. O sol começou a pôr-se, pintando o céu de laranja e roxo. O miradouro sobre o Douro, onde tinham partilhado tantos sonhos.

Ele chegou, atrasado, o cheiro a perfume caro a precedê-lo. Viu o Arroz de Pato, o pequeno álbum.

O seu rosto contorceu-se numa careta de desprezo.

"O que é isto, Sofia?"

"É o teu aniversário, Tiago. Eu só... queria..."

Ele pegou no recipiente com o arroz e, sem uma palavra, atirou-o pela encosta abaixo. O álbum teve o mesmo destino.

"Não quero nada que venha de ti. Das tuas mãos sujas de sangue."

As lágrimas vieram aos olhos de Sofia. "Tiago, por favor. Já se passaram cinco anos. Não podemos... tentar recomeçar?"

Ele riu, um som áspero. "Recomeçar? Tu achas que o teu sofrimento se compara ao meu? Achas que cinco anos apagam a imagem dos corpos carbonizados da minha família?"

Ele agarrou-a pelos ombros, os dedos a cravarem-se na sua carne.

"Os teus pais não mataram só os meus pais e a minha irmã. Mataram o meu avô, que morreu de desgosto pouco depois. Mataram os meus sonhos, o meu futuro, o meu amor por ti!"

A sua voz quebrou na última frase, mas a raiva regressou rapidamente.

"Nunca te vou perdoar, Sofia. Nunca."

Nesse momento, Clara apareceu, um sorriso radiante no rosto. Trazia nas mãos um pequeno lenço dos namorados, bordado com esmero.

"Tiago, meu amor! Feliz aniversário!"

Ela entregou-lhe o lenço. Era uma réplica exata de um que Sofia lhe oferecera anos antes, um que ele guardara como um tesouro.

Ele pegou no lenço de Clara, os olhos a brilhar.

"É lindo, Clara. Obrigado." Ele abraçou-a com força, beijando-a apaixonadamente, ali mesmo, à frente de Sofia.

Sofia observou-os, o coração a partir-se em mil pedaços.

Percebeu então. Não era Clara que a tinha derrotado. Era a Sofia do passado, a Sofia que Tiago amara. Ele amava a memória dela, mas odiava a mulher em que ela se tinha tornado, a mulher que ele próprio tinha ajudado a destruir.

Ele ainda a chamava "Sofi" nos seus momentos de maior crueldade, como se para se lembrar a si mesmo quem ela fora, e o quanto a odiava agora. Mas a "Sofi" que ele amava, essa estava morta há muito tempo.

            
            

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