Para Além das Cinzas: O Nosso Amor
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Capítulo 4

Sofia acordou com uma dor excruciante no lado direito do corpo. Abriu os olhos e viu duas enfermeiras a conversar em voz baixa.

"Ele é tão dedicado," disse uma. "Não saiu do lado da esposa um instante."

"Sim, um amor assim é raro hoje em dia," concordou a outra.

Esposa? Elas estavam a falar de Clara.

"Eu... eu sou a esposa dele," conseguiu dizer Sofia, a voz fraca.

As enfermeiras olharam para ela, surpreendidas, depois trocaram um olhar significativo e saíram apressadamente.

Sofia tentou sentar-se, mas a dor era demasiada. Tentou alcançar o copo de água na mesa de cabeceira, desequilibrou-se e caiu da cama, batendo com força no chão. O ferimento da cirurgia latejou com violência.

A porta abriu-se e Tiago entrou. Viu-a no chão, a contorcer-se de dor. Por um instante, viu um brilho de preocupação nos seus olhos, um movimento quase impercetível para a ajudar.

Mas desapareceu tão depressa como veio. Ele encostou-se ao umbral da porta, os braços cruzados.

"Levanta-te."

Sofia tentou, mas não conseguiu. As lágrimas de dor e frustração escorriam-lhe pelo rosto.

Ele observou-a, o rosto novamente uma máscara de frieza.

"Achas que isto acaba aqui, Sofia? Achas que um rim paga a tua dívida? Não. Isto é só o começo. Vou manter-te viva, sim. Viva para que possas sofrer cada dia o que eu sofri."

Ricardo, o seu leal assistente, que o seguira até ao hospital, apareceu atrás dele.

"Senhor Monteiro," disse Ricardo, a voz hesitante. "Os pais dela já pagaram com a vida. Não acha que já chega?"

Tiago virou-se para ele, os olhos injetados. "Chega? E a mim? Alguém me 'deixou ir'? Enquanto eu não for 'deixado ir', ela também não será."

Ele voltou a olhar para Sofia, que finalmente conseguira arrastar-se de volta para a cama.

Nos dias seguintes, Sofia permaneceu isolada no quarto de hospital. Tiago não voltou a aparecer.

Uma tarde, o seu telemóvel vibrou. Uma mensagem de um número desconhecido.

Era uma fotografia. Clara, sorridente, na cama do hospital, a usar uma pulseira de filigrana em ouro. A pulseira da mãe de Sofia, a única joia de valor que lhe restara.

O sangue de Sofia ferveu. Ignorando a dor, levantou-se e, cambaleando, foi até ao quarto de Clara, que ficava no mesmo corredor.

Entrou sem bater. Clara estava sentada na cama, a folhear uma revista. Sorriu ao ver Sofia.

"O que queres, Sofia? Vieste agradecer-me por te dar a oportunidade de expiar um pouco da tua culpa?"

"A pulseira," disse Sofia, a voz a tremer de raiva. "Devolve-me a pulseira da minha mãe."

Clara riu. "Esta? Foi o Tiago que ma deu. Disse que me ficava bem. Disse que eu parecia contigo, nos teus tempos mais felizes, quando a usavas."

A provocação era intencional, cruel.

"Por favor, Clara. É a única coisa que me resta dela. Eu dou-te o que quiseres."

Os olhos de Clara brilharam. "O que eu quiser? Então quero o teu lugar. Quero ser a Senhora Monteiro. Legalmente."

Sofia hesitou por um instante. O seu lugar? Já não significava nada.

"Sim," disse ela. "Fica com ele. Mas devolve-me a pulseira."

Nesse momento, Tiago entrou no quarto. Viu a tensão entre as duas mulheres.

"O que se passa aqui?"

"A Sofia," disse Clara, com um ar inocente, "está a tentar roubar-me a pulseira que me deste."

Os olhos de Tiago fixaram-se em Sofia, cheios de fúria.

"Então é isso? Uma pulseira vale mais para ti do que o teu estatuto? Mais do que o teu nome?"

Ele arrancou a pulseira do braço de Clara. "Queres tanto esta porcaria? Vou destruir tudo o que te ligue aos teus pais, tudo o que te traga qualquer conforto!"

Ele caminhou até à janela do quarto, que dava para um pequeno pátio interior, vários andares abaixo. Abriu-a e ameaçou atirar a pulseira.

"Não, Tiago! Por favor!" Sofia correu na sua direção, desesperada.

Tentou agarrar-lhe o braço, mas ele desviou-se. Sofia desequilibrou-se, o seu corpo projetado em direção à janela aberta. Agarrou-se ao parapeito, as pernas a balançar no vazio.

A pulseira escapou da mão de Tiago e caiu, estilhaçando-se no cimento lá em baixo.

Sofia viu-a partir-se e um grito de desespero escapou-lhe. As suas mãos escorregaram.

Ela caiu.

Ouviu o grito de Tiago, um som estrangulado, cheio de pânico. Viu o seu rosto contorcido de horror enquanto ele se debruçava na janela.

Por um instante fugaz, antes de a escuridão a engolir, viu nos olhos dele não o ódio, mas o medo. O medo de a perder.

Uma pequena, dolorosa esperança acendeu-se no seu peito.

Quando acordou, estava novamente numa cama de hospital, o corpo coberto de dores e ligaduras. Ouviu médicos a discutir o seu estado. Múltiplas fraturas, hemorragia interna. Um milagre ela estar viva.

Tiago estava à porta, a observá-la. Quando os seus olhos se encontraram, a máscara de frieza regressou.

"Vês, Sofia? Nem a morte te quer. Mas não te preocupes. Eu quero-te viva. Viva para que eu possa continuar a fazer-te pagar."

A pequena esperança morreu.

"O nosso destino, Sofia," disse ele, a voz baixa e carregada de uma emoção sombria, "é o ódio eterno."

Sofia fechou os olhos. Que seja, pensou. Que a morte venha. Estou pronta.

                         

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