O Naufrágio da Minha Alma
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Capítulo 3

O Palácio Nacional de Sintra estava deslumbrante, as suas icónicas chaminés cónicas a recortarem-se contra o céu noturno. Por dentro, o brilho dos candelabros e o murmúrio de conversas elegantes enchiam o ar.

Eu estava ao lado de Duarte, um sorriso forçado nos lábios, o meu vestido de gala a parecer uma fantasia. Sofia estava do outro lado dele, agarrada ao seu braço, radiante.

Éramos o espetáculo da noite. A esposa traída, o marido infiel e a sua amante.

Duarte era o centro das atenções. Ele fez uma doação generosa para a caridade da noite, e o anfitrião elogiou-o profusamente.

Depois, ele virou-se para Sofia e, em frente de todos, colocou-lhe um colar de diamantes deslumbrante ao pescoço.

"Um pequeno presente," disse ele, a sua voz alta o suficiente para todos ouvirem. "Para a mulher que ilumina a minha vida."

A sala explodiu em aplausos educados. Sofia corou, parecendo a imagem da felicidade.

Eu senti o meu estômago revirar.

Uma mulher perto de mim sussurrou à sua amiga: "Ele é tão devoto a ela. Lembras-te de como ele era com a Leonor no início? Comprou-lhe uma vinha inteira como presente de casamento."

A ironia era tão amarga que quase me engasguei. A vinha que ele me deu na nossa vida passada, ele vendeu-a para me salvar. Nesta vida, ele dava diamantes à sua amante.

Sofia, no seu momento de glória, virou-se para mim. O seu sorriso era doce, mas os seus olhos brilhavam com malícia.

"É lindo, não é, Leonor? O Duarte tem um gosto impecável."

Ela estendeu o colar para eu ver melhor.

"Queres tocar?"

Era uma provocação, um teste.

Forcei um sorriso. "É adorável, Sofia. Fica-te muito bem."

Nesse exato momento, as luzes da sala diminuíram. Uma apresentação de slides sobre o trabalho da instituição de caridade estava prestes a começar no grande ecrã atrás do palco.

Mas não foram imagens de crianças felizes que apareceram.

Foram fotografias de Sofia.

Fotografias íntimas. Comprometedoras. Com vários homens diferentes, nenhum deles Duarte.

Um suspiro coletivo percorreu a sala. O silêncio chocado foi seguido por um alvoroço de sussurros.

O rosto de Sofia ficou branco como cera. Ela olhou para o ecrã, horrorizada, e depois para mim.

As lágrimas brotaram dos seus olhos. Ela apontou um dedo trémulo na minha direção.

"Foste tu!" gritou ela, a sua voz cheia de angústia e acusação. "Foste tu que fizeste isto!"

Toda a gente se virou para me olhar. Eu estava paralisada, tão chocada como toda a gente.

Duarte reagiu instantaneamente. Ele envolveu Sofia nos seus braços, protegendo-a dos olhares curiosos. O seu rosto era uma máscara de fúria.

Ele olhou diretamente para mim, os seus olhos a arderem de raiva.

"Vais pagar por isto, Leonor," sibilou ele, a sua voz uma ameaça gelada que me arrepiou até aos ossos.

Ele guiou uma Sofia a soluçar para fora da sala, deixando-me para trás para enfrentar as centenas de pares de olhos a julgarem-me.

Saí do palácio, atordoada, e entrei no carro que me esperava. O caminho de volta para a quinta foi um borrão. A minha mente corria, tentando perceber o que tinha acontecido. Eu não tinha feito nada. Quem teria feito aquilo? E porquê culpar-me a mim?

Quando cheguei, Duarte já lá estava. Esperava por mim na entrada, a sua silhueta escura contra a luz da casa.

Assim que saí do carro, ele agarrou-me pelo braço, a sua força a fazer-me estremecer.

"Como te atreveste?" rosnou ele, o seu rosto a centímetros do meu. "Como te atreveste a humilhá-la daquela maneira?"

"Eu não fiz nada, Duarte! Juro!" A minha voz era um fio, cheia de desespero.

Ele riu, um som sem alegria.

"Não mintas para mim! Quem mais seria? Estás consumida pelo ciúme! Não suportas vê-la feliz, não é?"

"Isso não é verdade!"

"Chega!" gritou ele, empurrando-me contra a parede. "Vais pedir-lhe desculpa. Agora."

"Pedir desculpa? Por algo que não fiz?"

A sua expressão endureceu, tornando-se terrivelmente cruel.

"Vais pedir desculpa. Ou então, vou levar-te de volta àquela varanda no Algarve. Desta vez, talvez te deixe lá por mais do que uma noite. Vamos ver como a tua acrofobia lida com isso."

O meu sangue gelou. A ameaça era real. Eu sabia que ele era capaz de o fazer.

O pavor de alturas era o meu segredo mais sombrio, um medo paralisante que ele conhecia da nossa vida passada. Usá-lo contra mim era o cúmulo da crueldade.

Eu olhei para os seus olhos frios e vi que não havia saída.

Ele arrastou-me para dentro, para a sala de estar, onde Sofia estava sentada no sofá, a chorar dramaticamente.

"Pede-lhe desculpa," ordenou Duarte.

Eu recusei-me. Abanei a cabeça, as lágrimas a escorrerem-me pelo rosto.

Duarte fez um sinal a dois dos seus homens que estavam de guarda. Eles agarraram-me pelos braços e forçaram-me a ajoelhar em frente de Sofia.

A dor nos meus braços era aguda, mas a humilhação era pior.

"Pede," repetiu Duarte, a sua voz perigosamente calma.

Eu continuei a abanar a cabeça, a morder o lábio para não gritar.

Ele deu um passo em frente e agarrou o meu queixo, forçando-me a olhar para ele.

"Pela última vez, Leonor. Pede-lhe desculpa."

O meu corpo tremia incontrolavelmente. A dor, o medo, a injustiça... tudo se misturou numa onda de desespero.

Eu não conseguia mais lutar.

A minha resistência quebrou-se.

"Des... desculpa," gaguejei, as palavras a saírem como vidro partido da minha boca. "Desculpa, Sofia."

Duarte largou-me com um empurrão. Caí para o lado, a soluçar no chão frio.

Ele tinha-me quebrado.

            
            

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