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Uma Freira Para o Mafioso

Selina Fagunds
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Capítulo 1 Belle P.O.V

Belle

Acordei com o som da campainha tocando lá fora, sinalizando que é hora de eu começar meu dia. Eu rapidamente saio da cama, me visto e faço minha rotina matinal de higiene. Paro um instante diante do pequeno espelho pendurado na parede e respiro fundo. Lembro a mim mesma que hoje será como qualquer outro dia, faço o que preciso fazer e tento não chamar a atenção.

Dirijo-me ao Hararium para a missa. Padre Jorell foi muito gentil e sempre apresentou seus sermões com entusiasmo e graça. No entanto, Mãe Dalila era muito severa, muitas vezes usando palavras duras e punições - se necessário - para fazer valer sua vontade. Quando a missa terminou, senti uma pressão imensa, pois sabia que ela estava me observando atentamente.

Saí do Hararium com uma sensação de alívio ao pensar em quanto tempo mais eu poderia suportar esse estilo de vida.

Eu amo as crianças aqui com todo o meu coração e sinto que ser freira é realmente minha vocação.

Elas são tão inocentes e vulneráveis, e eu sinto que é minha responsabilidade cuidar delas da melhor maneira possível.

Eu passo a maior parte do meu tempo brincando, ensinando e cuidando das crianças. Adoro ver seus sorrisos e ouvir suas risadas, e sinto uma enorme satisfação ao ajudá-las a crescer e se desenvolver.

Às vezes, as crianças podem ser difíceis ou desafiadoras, mas eu nunca desisto delas. Eu acredito que cada uma delas tem um potencial incrível e quero ajudá-las a realizá-lo.

Além disso, sinto que ser freira é minha verdadeira vocação. Desde que me juntei à ordem religiosa, senti uma profunda paz e alegria interior. Sinto que estou cumprindo o propósito para o qual fui criada e que estou fazendo a diferença na vida dessas crianças.

Embora haja dias em que as tarefas podem ser cansativas ou difíceis, eu nunca perco a motivação ou a paixão pelo que faço. Ser freira e cuidar dessas crianças é o que me faz sentir realizada e feliz.

Ser órfão é uma das coisas mais difíceis que já passei na vida. Não saber nada sobre meus pais é uma dor constante que me acompanha todos os dias. Sinto falta de ter alguém que me guie e me ajude a tomar decisões importantes na vida. Acho que nunca vou superar o fato de não ter uma família para chamar de minha.

O anel que tenho é a única lembrança que tenho dos meus pais e é muito especial para mim. Eu o guardo com muito cuidado e sempre o uso como uma forma de me sentir conectada a eles. Às vezes me pego olhando para ele por horas, imaginando como eram meus pais, o que eles gostavam de fazer, como me olhavam quando eu era bebê.

Ser órfão é uma experiência solitária e dolorosa, mas tento encontrar conforto nas coisas que me cercam. Tento me concentrar nos amigos que fiz e na minha própria força interior para seguir em frente. Mesmo assim, a saudade dos meus pais e a sensação de não pertencer a nenhum lugar é algo que nunca vai embora completamente.

Embora eu goste e viva desde sempre aqui, é muito difícil lidar com o tratamento cruel e desumano que recebo da Madre todos os dias. Ela é implacável em suas críticas e punições, sempre encontrando algum motivo para me repreender ou me humilhar. É como se eu nunca pudesse fazer nada certo aos seus olhos, e isso me faz sentir pequena e sem valor.

No entanto, ter a Irmã Lurdez por perto faz uma grande diferença em minha vida. Ela é gentil, atenciosa e sempre está disposta a me ouvir e me confortar. Quando estou me sentindo muito mal com as palavras duras da Madre, posso contar com a Irmã Lurdez para me acolher e me lembrar que eu não sou uma pessoa má, mesmo que a Madre tente me convencer do contrário.

A Irmã Lurdez é um verdadeiro anjo na minha vida, e sua presença me dá a força para continuar enfrentando os desafios do dia a dia. Eu sou muito grata por tê-la como minha amiga e confidente, e espero poder retribuir sua bondade de alguma forma no futuro.

Quando bate o meu horário, vejo que Lucinha, uma das meninas do orfanato, está cabisbaixa na hora do intervalo.

- Oi, querida! Como você está se sentindo hoje?

- Oi, Belle! Estou me sentindo um pouco triste hoje.

- Ah, sinto muito em ouvir isso. O que está te deixando triste?

- Eu sinto falta da minha mãe. Ela foi embora há muito tempo e nunca mais voltou.

- Eu entendo como você se sente. É difícil quando as pessoas que amamos se vão. Mas lembre-se de que você tem muitas pessoas aqui no orfanato que te amam e cuidam de você. E, mesmo que sua mãe não esteja aqui fisicamente, ela ainda te ama muito.

- Eu sei, Belle, mas eu queria tanto poder vê-la de novo.

- Eu entendo, mas você sabe o que podemos fazer? Podemos escrever uma carta para a sua mãe, dizendo o quanto você a ama e sente falta dela. E talvez ela possa ler a carta em algum momento e saber o quanto você ainda pensa nela.

- Isso é uma boa ideia, Belle! Eu gostaria de fazer isso.

- Ótimo! Vamos pegar papel e caneta e escrever juntas. E não se preocupe, estou aqui para te apoiar em tudo o que precisar.

Há dias em que parece que tudo o que faço não é suficiente para tornar suas vidas melhores. Como alguém que passou muitos anos nessa instituição, sei o que é crescer sem ter uma família para chamar de sua. É difícil ser forte por elas, mas tento de todas as formas possíveis.

Durante muito tempo, desejei ser adotada. Esperava ansiosamente por uma família que me amasse e me aceitasse como sou. Infelizmente, nada aconteceu e acabei desistindo. Aos poucos, fui me conformando com a ideia de que talvez nunca tivesse uma família para chamar de minha.

Por causa disso, desenvolvi uma empatia muito grande pelas crianças que estão aqui há muito tempo e que, assim como eu, ainda não foram adotadas. É difícil ver o brilho nos olhos delas diminuírem a cada dia, mas tento dar o meu melhor para que se sintam amadas e valorizadas. É importante para mim que elas saibam que há pessoas que se importam com elas e que estão dispostas a ajudá-las a superar qualquer obstáculo.

Por fim, quero dizer que, apesar de todas as dificuldades, não me arrependo de ter escolhido ficar aqui, após minha maior idade. Ver o sorriso das crianças e saber que posso fazer a diferença na vida delas é uma das maiores recompensas que posso receber. Sei que não é fácil, mas vou continuar lutando por essas crianças e dando a elas o melhor que posso oferecer.

Depois de dar aulas para as crianças do orfanato, voltei para o meu dormitório exausta, mas ao mesmo tempo satisfeita por ter conseguido ensinar algo novo para aqueles anjos. Como de costume, fui direto para o banheiro tomar um banho quente e relaxante, que me ajudaria a aliviar o cansaço do dia.

O quarto não era muito luxuoso, mas eu não me importava com isso, pois sabia que estava ali para fazer uma boa causa. Havia apenas um espelho pequeno na parede, que mal dava para ver o meu rosto por completo, mas era o suficiente para eu me arrumar.

Depois de me arrumar, fui para a área da janta coletiva, onde todos os residentes do orfanato se reuniam para comer juntos. O cheiro de comida caseira invadiu minhas narinas, o que me deixou com ainda mais fome do que eu já estava.

Enquanto eu esperava na fila para pegar minha porção de comida, observei as crianças se divertindo e conversando umas com as outras. Era incrível ver como elas conseguiam ser felizes mesmo em meio a tantas dificuldades.

Finalmente, chegou a minha vez de pegar a minha comida, que consistia em arroz, feijão, frango e salada. Sentei em uma das mesas com outras voluntárias, e futuras freiras do orfanato e começamos a conversar sobre como tinha sido o nosso dia e o que poderíamos fazer para melhorar a vida daquelas crianças.

Foi uma noite agradável e reconfortante, e eu me sentia muito feliz por fazer parte daquela comunidade.

Eu estava caminhando em direção ao meu quarto, quando ouvi vozes alteradas vindas do pátio do convento. Decidi me aproximar para ver o que estava acontecendo e vi a Madre tentando argumentar com um homem de costas para mim. Fiquei curiosa e me aproximei um pouco mais, até que o homem virou para mim.

Nesse momento, senti meu coração disparar e meu chão sumir sob meus pés. Seus olhos escuros eram hipnotizantes e eu me senti enfeitiçada por eles. Ele usava roupas pretas que acentuavam ainda mais sua beleza, e seu rosto era perfeito, como esculpido por um artista habilidoso.

Eu não conseguia desviar meus olhos dos dele, e por um momento esqueci onde estava e o que estava acontecendo ao meu redor. Foi como se estivéssemos em um mundo só nosso, como se nada mais importasse além daqueles olhos negros, como a noite, que me olhavam de volta.

Fiquei sem fala por alguns instantes, até que finalmente consegui balbuciar algumas palavras. Mas mesmo assim, sentia-me enfeitiçada por sua presença e seus olhos que me penetravam a alma.

Eu me sentia extremamente desconfortável naquela situação, nunca tinha estado tão perto de um homem tão forte e viril como aquele. Meus olhos não conseguiam evitar o contato visual com ele, mesmo que a sua presença me intimidasse profundamente. Eu estava acostumada com a segurança do convento e com a companhia das irmãs, e aquele homem parecia estar em um mundo completamente diferente do meu.

Por mais que eu tentasse resistir ao seu olhar, eu sentia que ele conseguia ver através de mim, como se pudesse ler todos os meus pensamentos. Era como se ele soubesse de todas as minhas inseguranças e medos, e isso me deixava ainda mais vulnerável.

Apesar de tudo, eu sabia que aquele homem não era como os outros que eu havia visto na vida. Ele tinha uma aura diferente, algo que me atraía e me assustava ao mesmo tempo. Era como se eu pudesse sentir o poder e a masculinidade emanando dele, e isso me deixava confusa e nervosa.

Eu nunca tinha experimentado algo assim antes, e aquela sensação me fazia questionar tudo o que eu achava que sabia sobre a vida fora do convento. Eu sabia que não poderia ficar ali por muito tempo, mas ao mesmo tempo, não queria deixar de olhar para ele, sentindo-me hipnotizada pelo seu olhar penetrante e misterioso.

            
            

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