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Belle
No terceiro dia, eu ainda não conhecia Toni, e vagava pela casa, na manhã seguinte, quando acordo, não demoro a descer, no convento acordava cedo, e velhos costumes não se abandonam assim.
Enquanto descia as escadas, eu tentei me preparar mentalmente para a interação. Já ouvia vozes da sala de jantar, Damon, fazia questão que eu fizesse as refeições com eles, embora eu visse o desgosto da sua cunhada.
Me lembrava do jeito que ele olhava para mim, com seus olhos negros penetrantes e um sorriso torto que parecia sempre esconder algo. Lembrava do jeito que ele falava, com uma mão firme no meu ombro, como se ele fosse dono de mim.
Estava cansada disso tudo. Cansada de ser mantida em cativeiro, mesmo que ele alegasse que era apenas a babá da sua sobrinha. Cansada das suas insinuações e olhares lascivos. Cansada de tudo!
Eu estava quase chegando à cozinha quando ouvi a sua voz, não iria me juntar a eles hoje, comeria com os demais empregados.
- Olá, Belle. Dormiu bem?
Senti o meu corpo inteiro se arrepiar com a voz dele. Tentei manter a minha expressão impassível, mas por dentro estava surtando. Odiava o fato de que ele podia ter esse efeito sobre mim.
-Sim, obrigada. - respondi, tentando manter a minha voz firme.
Ele se aproximou de mim, e eu pude sentir o calor do seu corpo. Lutei contra o desejo de me afastar.
- Você sabe que é muito bonita, não sabe, Belle? - ele disse, tocando o meu braço. Era tão descarado e sem pudores.
Eu engoli em seco e afastei o meu braço.
- Não, Sr Greco. Eu não quero falar sobre isso. - eu disse, minha voz tremendo um pouco.
Ele riu, como se achasse isso engraçado.
- Você é tão tímida, Belle. Mas não se preocupe. Eu não vou fazer nada que você não queira.
Sabia que ele estava mentindo. Sabia que ele faria qualquer coisa para me ter, e estava aterrorizada. Eu queria sair correndo dali, mas sabia que não poderia. Estava presa, e não sabia se algum dia conseguiria escapar.
Eu respirei fundo e tentei manter a minha compostura, não podia deixá-lo me ver fraca.
- Irei fazer o meu desjejum agora. - falei, me afastando dele.
Ele me observou por um momento, como se estivesse estudando cada movimento meu.
- Claro, Belle. Mas não se preocupe. Eu vou estar sempre aqui quando você precisar de mim, tenha um bom dia, minha Belle. -ele disse, com um sorriso malicioso no rosto. Mas o que me assustava era a certeza em que dizia aquelas palavras, olhando nos meus olhos, como se eu realmente fosse dele.
Eu senti o meu coração afundar no peito enquanto eu saía da cozinha. Não podia suportar mais um dia naquela casa. Eu precisava sair dali.
Não sai mais do quarto aquele dia, confesso que a noite a fome bateu, e surpreendentemente uma das meninas que trabalham na cozinha, trouxe-me um jantar, e sobremesas, não sabia se havia sido a Sr. Cassandra, ou Damon, poderia ate mesmo ter sido uma delas que sentiu a minha falta, mas agradeci, e jantei, dormindo em seguida quando tudo foi retirado.
No outro dia, durante o café da manhã, Toni estava a mesa, loira como a mãe, olhos azuis, uma boneca, mas não existia o brilho de uma criança nela.
Quando estamos finalizando, decido puxar assunto, pois Damon não está, e Cassandra não parece disposta a colaborar.
- Oi, meu nome é Belle. Qual é o seu nome? - Perguntei educadamente.
- Meu nome é Antonieta. Você é a nova babá? - Respondeu Antonieta com uma expressão nada amistosa.
- Sim, sou eu mesma. Será um prazer cuidar de você. - Respondi sorrindo.
- E por que eu preciso de uma nova babá? Eu já tenho a minha mãe. - Questionou Toni.
- A Belle vai ajudá-la e cuidar de você quando a mamãe não estiver por perto. - Respondeu Cassandra sem animo algum.
Toni pareceu não ficar muito satisfeita com a minha presença e continuou fazendo perguntas difíceis para mim. Cassandra apenas observava tudo em silêncio.
- Você sabe jogar xadrez? E qual é o seu jogo favorito? - Perguntou Toni com um olhar desafiador.
- Sim, eu sei jogar xadrez. E o meu jogo favorito é... - Fui interrompida por ela.
- Você não pode ser minha babá se não souber qual é o meu jogo favorito. - Disse Toni com um tom autoritário.
- Desculpe, Toni. Qual é o seu jogo favorito? - Perguntei com um sorriso no rosto.
- O meu jogo favorito é War. - Respondeu ela satisfeita.
- Ah, eu adoro War também! Podemos jogar juntas algum dia. - Sugeri animada.
Finalmente, Toni pareceu se interessar por mim e começou a fazer mais perguntas sobre o que eu gostava de fazer e o que eu sabia fazer de legal.
No fim, acredito que conquistei um pouca da confiança de Toni e ela acabou deixando algumas armaduras de lado.
Percebi que ela era uma criança muito exigente. O seu dia era repleto de atividades: balé, natação, aulas bilingues e reforço escolar. Eu mal podia acreditar que ela tinha apenas seis anos. Mas Toni me explicou que era importante para ela, para que pudesse se destacar no futuro.
Achei apavorante tantos pensamentos maduros, e me questionei que tipo de atenção a mãe dela está a dando. Eu tive que escolher entre várias roupas, me certificar de que seus cabelos estavam bem penteados e que ela estava usando as sapatilhas certas. Depois de levá-la para a aula, fiquei esperando ansiosamente do lado de fora.
Quando a aula terminou, a levei para a natação, onde tive que fazer a mesma rotina de escolher as roupas de banho, ajudá-la a trocar e esperar do lado de fora. Depois da natação, foi hora das aulas bilingues, onde eu fiquei impressionada com a habilidade de Toni, para aprender línguas estrangeiras tão rapidamente.
Mas o que realmente me deixou exausta foi o reforço escolar. Cassandra exigiu que eu revisasse as lições de Toni, com ela todas as noites, para ter certeza de que ela estava progredindo na escola. Toni tinha apenas seis anos, mas sua rotina parecia a de uma adulta.
Eu sabia que Damon estava tentando o seu melhor para dar a Toni uma educação de qualidade, mas eu não pude deixar de sentir pena da pequena garota, que não tinha tempo para brincar ou se divertir como outras crianças da sua idade. Eu me perguntava se Toni seria feliz no futuro, se ela continuasse vivendo nessa rotina tão exaustiva.
Eu falei sobre esses pensamentos para Cassandra, mas ela apenas sorriu de forma cínica e disse que eu não precisava me preocupar com essas coisas. Eu sabia que eles estavam envolvidos em coisas perigosas, e que a sua vida era muito diferente da minha. Mas mesmo assim, eu não pude deixar de sentir pena da pequena garota, que parecia tão solitária e infeliz em meio a tantas atividades e obrigações.
....
Hoje, jantei sozinha com Toni. A mãe dela não se juntou a nós, e nem o Sr. Greco, mas confesso que gostei de ter um jantar tranquilo com a minha pequena amiga. Conversamos sobre as nossas semanas e rimos bastante.
Depois do jantar, ajudei Toni a se preparar para dormir. Ela colocou o pijama e escovou os dentes, e depois se aconchegou debaixo das cobertas. Eu sentei na beira da cama dela e perguntei:
- Toni, você quer ouvir uma história antes de dormir?
- Não sei, Belle... eu não estou com sono ainda. – ela respondeu, bocejando.
- Ah, vamos lá, Toni! Prometo que será uma história bem legal! – insistir animada, havíamos criado uma conexão em tão pouco tempo.
Depois de alguns segundos de hesitação, Toni finalmente concordou. Ela se ajeitou na cama, cobriu-se com o lençol e fechou os olhos. Comecei a contar a história e, a princípio, ela parecia estar bem atenta. Contudo, à medida que eu ia descrevendo os acontecimentos do livro, ela apagou num sono profundo, velei o seu corpo pequeno, sentindo tanto apego já.
Depois de deixar Toni no seu quarto, voltei para o meu. No caminho, esbarrei com o mafioso. Ele tinha algumas manchas de sangue na sua roupa e o seu rosto estava machucado, mas ainda assim parecia inabalável. Ele me cumprimentou com um sorriso sarcástico e começou a conversar comigo.
- Olá, Belle. Vejo que você está saindo do quarto da minha sobrinha. Espero que vocês duas estejam se divertindo bastante. - Disse Damon com um tom irônico.
- O que aconteceu com você? Você está ferido. - Eu disse, notando os machucados no seu rosto, e querendo ignorar as suas ironias.
- Não é nada. Apenas alguns negócios que precisavam ser resolvidos. - Respondeu ele com um sorriso satisfeito.
Eu comecei a me afastar dele, mas Damon se aproximou mais de mim, se inclinando para sussurrar no meu ouvido.
- Você sabe, Belle, há algo de excitante no cheiro de sangue fresco. O sexo ao sangue é algo luxuoso que poucos têm a sorte de experimentar. - Ele disse, sedutor.
Eu me afastei dele imediatamente, assustada com a ideia. Eu sabia que Damon era um homem perigoso, mas isso era demais até para mim.
- Damon, você é nojento. - Eu disse, sentindo um calafrio percorrer o meu corpo. Sem me importar por chamá-lo pelo seu primeiro nome, ele mantinha a sua áurea poderosa e máscula, dominando todo o ambiente, este homem me enlouqueceria.
Eu saí correndo dali, abalada pela beleza dele, e ao mesmo tempo horrorizada, com a ideia de quem poderia ser aquele sangue na sua roupa. Eu não podia acreditar que tinha acabado de ter uma conversa tão bizarra com um homem.
Eu corro para o meu quarto, com o coração acelerado e a respiração pesada. Eu mal consigo acreditar no que acabei de passar. O mafioso, com seu rosto cruel e palavras sujas, ainda está marcado na minha memória. A sua presença me aterrorizou e eu não consigo afastar a sensação de que ele está em todos os lugares.
As palavras que ele disse parecem ter um poder mágico sobre mim. Eu não sei o que aconteceu, mas algo no seu tom de voz e nas palavras que usou fez o meu corpo reagir de maneiras que eu desconheço. Sinto-me enojada e aterrorizada, tudo ao mesmo tempo.
Tudo isso tem sido uma montanha-russa de emoções nos últimos dias.
Eu me sento na cama, tentando acalmar a minha mente.
Sinto que estou perdendo a minha sanidade, que a qualquer momento posso explodir em lágrimas ou em fúria.
Eu preciso voltar ao convento. Lá, eu tinha paz e tranquilidade, vivia em harmonia comigo mesma e com Deus. Aqui, eu vivo em constante medo e angústia, sem saber o que pode acontecer a seguir.
No desespero, lembro que Toni deu-me um celular, ela tinha tantos, era um luxo desnecessário, eu não tinha contactos, mas ela me convenceu de que quando estivesse longe poderia falar comigo.
Tremula, pego o aparelho, e disco os números de emergências que ela deixou ali, com nomes de " Bombeiro, policia, ambulância, emergência".
Sei que Damon é um mafioso, mas ele que resolva-se com a polícia, eu só quero voltar para o meu lar, além do mais, duvido muito que as autoridades já não saibam quem ele seja.
Quando o telefone é atendido do outro lado, digo em lágrimas e afobada.
"Por favor, peço em uma suplica sincera, que me ajudem a voltar para o convento, aquele lugar é a minha verdadeira casa. Aqui, não tenho futuro e nem esperança. A minha vida corre perigo a cada instante.
Sei que pode parecer difícil entender a minha situação, mas peço que tentem. Eu não sei mais o que fazer, estou completamente perdida. Se eu não conseguir voltar para o convento, não sei o que será de mim. Por favor, me ajudem."