Um Grito de Socorro, Uma Decisão de Vida
img img Um Grito de Socorro, Uma Decisão de Vida img Capítulo 1
2
Capítulo 4 img
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 1

A minha temperatura corporal estava a queimar-me por dentro, mas a minha pele estava fria e húmida.

Tentei levantar-me do sofá para ir buscar um copo de água, mas as minhas pernas cederam.

Caí no chão da sala.

O meu telemóvel estava na mesa de café, mesmo fora do meu alcance.

Com toda a minha força, arrastei-me pelo chão de madeira fria. Cada centímetro era uma luta.

Finalmente, os meus dedos tocaram no ecrã.

Liguei ao meu marido, Mateus.

A chamada foi para o correio de voz.

Tentei outra vez.

Correio de voz.

Na décima tentativa, ele atendeu. O som de fundo era de risos e música suave.

"Clara? O que foi? Estou ocupado."

A sua voz era impaciente, distante.

"Mateus, eu não me sinto bem. Acho que é grave. A febre está muito alta."

A minha própria voz soava fraca, como se viesse de outra pessoa.

Houve uma pausa. Ouvi uma voz de mulher ao fundo, a voz de Sofia.

"Mateus, querido, o Miau não quer comer a ração nova. Podes vir ver?"

O Miau era o gato persa dela.

Mateus suspirou ao telefone, um suspiro dirigido a mim.

"Clara, tomaste um comprimido? Deves ter apanhado uma gripe. Descansa um pouco, eu vou para casa mais tarde."

"Mais tarde quando?" consegui perguntar.

"Não sei! A Sofia está com um problema, o gato dela não come há horas, e ela está muito preocupada. A mãe também está aqui a ajudar."

A mãe dele, Helena, a minha sogra. Claro que ela estava lá.

"Um gato é mais importante do que eu?" A pergunta saiu-me da boca antes que eu pudesse detê-la.

"Não sejas dramática, Clara. É só uma febre. Não és uma criança. Tenho de ir."

Ele desligou.

Fiquei a olhar para o ecrã escuro do telemóvel. O silêncio da casa era absoluto.

Lá fora, o mundo continuava, com música e gatos que não comiam.

Aqui dentro, eu estava sozinha.

Com o resto das minhas forças, marquei o 112.

Enquanto esperava pela ambulância, olhei para a nossa fotografia de casamento na parede. Nós parecíamos felizes.

Perguntei-me quando é que aquele homem da fotografia tinha desaparecido.

Ou se alguma vez tinha realmente existido.

Naquele momento, no chão frio da nossa casa, tomei uma decisão.

Queria o divórcio.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022