Quando o Peão Se Vinga
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Capítulo 3

A expressão do Pedro mudou de tristeza para incredulidade e, depois, para raiva.

"Divórcio? Estás a falar a sério? Perdemos um filho e tu queres o divórcio? Onde está a tua compaixão?"

"A minha compaixão morreu com o meu filho, Pedro," respondi, a voz sem emoção. "No momento em que eu estava a sangrar no carro e tu só pensavas na Sofia."

"Isso não é justo! Eu estava em choque!" ele gritou, gesticulando. "A Sofia é como uma irmã para mim, ela estava em pânico! Eu só tentei ajudar!"

"Ela é sempre a tua prioridade," afirmei, sem rodeios. "Quantas vezes, Pedro? Quantas vezes eu fiquei em segundo plano por causa dela?"

Ele não respondeu, porque ambos sabíamos a verdade.

"Lia, nós queríamos tanto este bebé," ele disse, a voz a suavizar-se numa tentativa de manipulação. "Lutámos tanto por ele. Não podemos deitar tudo a perder por causa de um momento de pânico."

Ele estava a usar o nosso filho morto como uma ferramenta para me prender. A náusea subiu-me pela garganta.

"Não uses o nosso filho contra mim," avisei, a minha voz a tremer de fúria contida. "Tu não tens esse direito."

"Eu tenho todos os direitos! Eu sou o pai!"

"Um pai que não estava lá quando ele mais precisou," retorqui. "Um pai que escolheu outra pessoa."

Ele passou as mãos pelo cabelo, frustrado.

"Tu estás a ser irracional. Estás magoada, eu percebo. Mas o divórcio é uma loucura. Pensa na nossa vida, na nossa casa."

"Eu estou a pensar," disse eu, olhando-o nos olhos. "E vejo uma vida onde serei sempre a segunda opção. Vejo uma casa que nunca foi verdadeiramente um lar para mim. Acabou, Pedro."

A minha mãe, que tinha estado em silêncio no canto do quarto, levantou-se.

"Acho que deves ir embora, Pedro," disse ela, a sua voz firme como aço. "A Lia precisa de descansar. E de paz."

O Pedro olhou para a minha mãe, depois para mim, uma última vez. A sua expressão era uma mistura de raiva e súplica. Ele sabia que tinha perdido.

Ele saiu do quarto, batendo a porta atrás de si.

O silêncio que se seguiu foi pesado.

"Tens a certeza disto, filha?" perguntou a minha mãe, suavemente.

"Nunca tive tanta certeza de nada na minha vida."

            
            

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