A Verdade por Trás da Ferida
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Capítulo 1

O meu sangue escorria pelas minhas pernas, manchando o chão branco do hospital. A dor na minha barriga era aguda, insuportável.

"Precisa de uma cesariana de emergência", disse o médico, com o rosto sério. "A sua pressão arterial está perigosamente alta, é pré-eclâmpsia grave."

Eu agarrei o braço dele.

"Chame o meu marido, por favor. Tiago. Ele é cirurgião aqui."

A enfermeira assentiu e pegou no telefone. Eu estava grávida de oito meses, e o nosso bebé estava em perigo. Eu estava em perigo.

Enquanto me preparavam para a cirurgia, o meu telemóvel tocou. Era Tiago. Atendi, com a voz a tremer.

"Tiago, onde estás? Preciso de ti. O bebé..."

A voz dele soou distante, tensa.

"Clara, não posso ir agora. A Sofia teve um acidente."

Sofia. A irmã mais nova dele. A menina dos olhos dele e da minha sogra.

"Que acidente? Ela está bem?", perguntei, o pânico a subir pela minha garganta.

"Ela cortou-se, perdeu muito sangue. Estou a levá-la para as urgências. Tem calma, vais ficar bem. Há outros médicos aí."

Ele desligou.

Fiquei a olhar para o telemóvel, incrédula. Outros médicos? Ele era o meu marido. Este era o nosso filho.

A enfermeira voltou, com o rosto pálido.

"O Dr. Tiago não pode vir. Disse que está numa emergência familiar."

Uma emergência familiar. Mais importante do que a vida do seu próprio filho.

A dor intensificou-se, e uma escuridão começou a tomar conta da minha visão. A última coisa que ouvi foi a voz de um médico desconhecido a gritar ordens.

"Precisamos de sangue AB negativo, agora! Estamos a perdê-la!"

Quando acordei, estava num quarto privado. A minha barriga estava vazia. O meu corpo doía.

Uma enfermeira entrou a sorrir.

"Parabéns, mamã. Teve um menino. Ele é prematuro, mas é um lutador. Está na incubadora, na UCI Neonatal."

As lágrimas rolaram pelo meu rosto. Alívio e uma dor profunda misturaram-se no meu peito.

A porta abriu-se e Tiago entrou. Ele não parecia preocupado. Parecia cansado.

"Como te sentes?", perguntou ele, a voz neutra.

Não respondi. Apenas olhei para ele.

Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo.

"Olha, a Sofia assustou-se muito. O corte era fundo. Tive de a suturar eu mesmo. Ela não confia em mais ninguém."

"E o nosso filho?", sussurrei. "E eu? Eu tenho um tipo de sangue raro, Tiago. Eu podia ter morrido."

"Mas não morreste", disse ele, encolhendo os ombros. "O Dr. Miguel tratou de ti, ele é excelente. A equipa fez o seu trabalho. Não havia necessidade de pânico."

Não havia necessidade de pânico.

Olhei para o homem com quem me casei, o homem que prometeu proteger-me, e não o reconheci.

"Quero o divórcio", disse eu, a voz surpreendentemente firme.

            
            

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