A Verdade por Trás da Ferida
img img A Verdade por Trás da Ferida img Capítulo 3
4
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 3

Passei o dia seguinte sozinha. Tiago não voltou. Não ligou.

Apenas recebi uma mensagem de texto.

"A Sofia está traumatizada. Precisa de mim. Falo contigo amanhã."

Li a mensagem dez vezes. Cada palavra era uma bofetada. Ele não perguntou pelo nosso filho. Não perguntou como eu estava.

A enfermeira ajudou-me a levantar para ir à casa de banho. Cada passo era uma agonia. Vi o meu reflexo no espelho. Estava pálida, com olheiras fundas. Parecia uma estranha.

Mais tarde, o médico que me operou, o Dr. Miguel, veio ver-me. Ele tinha um sorriso gentil.

"Como se sente, Clara?"

"Dorida", admiti.

"É normal. Foi uma cirurgia complicada. Tivemos sorte em conseguir o sangue a tempo. O seu tipo sanguíneo é muito raro."

Ele olhou para a minha ficha.

"O seu marido é o Dr. Tiago, correto? O cirurgião."

"Sim."

Houve uma pausa. O Dr. Miguel parecia hesitante.

"É um excelente cirurgião. Mas fiquei... surpreendido com a chamada dele. A urgência da irmã dele não parecia justificar deixar uma cesariana de emergência com pré-eclâmpsia em segundo plano."

O coração bateu-me com força.

"O que quer dizer?", perguntei.

"Quero dizer que a sua vida e a do seu bebé estavam em risco iminente. Um corte na mão, mesmo que seja feio, raramente o está. A avaliação dele foi... invulgar."

Invulgar. Era uma forma educada de dizer que ele tinha feito a escolha errada. A escolha negligente.

"Posso ver o meu filho?", pedi, mudando de assunto.

"Claro. Vou mandar vir uma cadeira de rodas."

Na UCI Neonatal, o mundo parecia ter parado. O único som era o bip suave das máquinas. O meu bebé, tão pequeno, estava numa caixa de vidro, com fios ligados ao seu corpo minúsculo.

Coloquei a mão no vidro da incubadora.

"Olá, meu amor", sussurrei. "A mamã está aqui."

Ele era perfeito. As suas mãos pequenas, o seu rosto sereno. Uma onda de amor tão forte atingiu-me que me deixou sem ar. Eu faria qualquer coisa por ele.

E isso incluía tirá-lo daquela família tóxica.

Quando voltei para o quarto, Tiago e a mãe estavam à minha espera.

"Onde estiveste?", perguntou Tiago, a voz acusadora. "Não devias andar a passear."

"Fui ver o nosso filho", respondi friamente. "Algo que tu ainda não fizeste."

Helena interveio.

"Não fales assim com o teu marido! Ele tem estado a cuidar da irmã doente, que tu pareces não te importar!"

"A irmã dele não está a lutar pela vida numa incubadora", retorqui.

Tiago deu um passo em frente. O seu rosto estava sombrio.

"Chega, Clara. Esta conversa sobre o divórcio é ridícula e está a magoar a minha mãe. O nosso filho, o teu filho, precisa de um pai. Ele precisa de uma família completa. Vais deitar tudo a perder por causa de um capricho? Por causa de uma birra?"

Ele estava a usar o meu filho contra mim. A arma perfeita.

"Não é um capricho", disse eu, a voz a tremer de raiva. "É uma decisão. Tu escolheste. E não nos escolheste a nós."

"Eu escolhi salvar uma vida!", gritou ele.

"A vida dela não estava em perigo!", gritei de volta, a minha voz a ecoar no quarto. "A nossa estava!"

Helena começou a chorar.

"Vês o que fizeste? Estás a destruir a nossa família! És egoísta e cruel!"

Olhei para o rosto zangado de Tiago, para o rosto choroso da mãe dele. Eles eram um. Uma unidade. E eu estava de fora. Sempre estive.

"Eu quero o divórcio", repeti, cada palavra um prego no caixão do meu casamento. "E vou lutar pela custódia total do meu filho."

            
            

COPYRIGHT(©) 2022