A Verdade por Trás da Ferida
img img A Verdade por Trás da Ferida img Capítulo 4
5
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 4

Nos dias seguintes, o hospital tornou-se o meu campo de batalha. Tiago e a mãe dele vinham todos os dias, não para me ver, mas para me pressionar.

Traziam flores que eu não queria, chocolates que eu não comia. Sentavam-se ao lado da minha cama e falavam sem parar sobre a pobre Sofia.

"Ela mal dorme", dizia Helena, com um suspiro dramático. "Acorda a gritar. O trauma foi terrível."

"O psicólogo diz que ela pode desenvolver stress pós-traumático", acrescentava Tiago, olhando para mim como se a culpa fosse minha.

Eu ficava em silêncio, a olhar para a parede. As palavras deles eram como um ruído de fundo, irritante mas distante. A minha única preocupação era o pequeno ser na incubadora.

Passei a maior parte do meu tempo na UCI Neonatal. Sentava-me ao lado do meu filho, a quem decidi chamar Lucas, e cantava para ele em voz baixa. Contava-lhe histórias sobre o mundo lá fora, sobre o sol e as árvores.

O Dr. Miguel passava por lá frequentemente. Ele nunca mencionava Tiago, mas a sua bondade era um bálsamo.

"Ele está a ficar mais forte a cada dia", disse ele um dia, a olhar para o monitor. "Os pulmões estão a desenvolver-se bem. És uma boa mãe, Clara."

As suas palavras simples fizeram-me chorar. Ninguém me tinha dito aquilo. Para a minha "família", eu era apenas uma fonte de problemas.

Um dia, recebi uma mensagem de um número desconhecido.

"Clara, é a Sofia. Desculpa por tudo isto. O Tiago estava só preocupado comigo, sabes como ele é protetor. Sempre fomos muito ligados. Espero que possas perdoá-lo. E a mim."

Senti um arrepio. Não era um pedido de desculpas. Era uma provocação. "Sempre fomos muito ligados". Ela estava a marcar o seu território. Estava a dizer-me que o laço deles era mais antigo, mais forte do que o meu.

Apaguei a mensagem.

Quando finalmente tive alta, Tiago insistiu em levar-me para casa. A nossa casa.

O caminho foi feito em silêncio. Quando entrámos, o apartamento parecia frio e estranho.

"A Sofia vai ficar connosco por uns tempos", anunciou Tiago, enquanto tirava o meu saco do carro. "Ela tem medo de ficar sozinha."

Parei na porta.

"O quê?"

Sofia apareceu na sala de estar, a usar um dos meus roupões de seda. Tinha o braço numa ligadura imaculada. Sorriu-me, um sorriso fraco e vitorioso.

"Olá, Clara. Espero que não te importes. Eu realmente preciso de apoio agora."

Olhei para Tiago. O seu rosto era uma máscara de falsa solicitude.

"Ela precisa de nós, Clara. É minha irmã."

Naquele momento, eu soube que não podia ficar. Nem mais um segundo.

"Eu não vou ficar aqui", disse eu, calmamente.

Virei-me, desci as escadas do prédio e chamei um táxi. Não olhei para trás.

                         

COPYRIGHT(©) 2022