O silêncio no quarto era pesado. Pedro olhou para mim como se eu tivesse acabado de dizer a maior barbaridade do mundo.
"Divórcio? Ficaste louca?" ele explodiu. "Acabaste de perder um filho e estás a falar em divórcio? Não tens coração?"
"Foi precisamente por ter perdido o meu filho que quero o divórcio," respondi, a minha voz firme. "Se ele ainda estivesse aqui, eu provavelmente aguentaria. Pelo bem dele. Mas ele não está. E eu não vou mais aguentar isto."
"Isto o quê?" gritou ele, gesticulando. "O facto de eu ter ajudado a minha irmã? Ela não tem mais ninguém! És egoísta, Sofia! Sempre foste!"
Jorge interveio, a sua voz cheia de veneno. "A minha nora tem razão. A tua filha é uma egoísta, Helena. Em vez de agradecer por o meu filho ter vindo, está a fazer uma cena. Devias ter-lhe ensinado melhores modos."
A minha mãe levantou-se, o seu rosto pálido de fúria. "Não se atreva a falar assim com a minha filha. Ela quase morreu. O meu neto morreu. E vocês aparecem aqui a falar de um tornozelo torcido?"
"Ninguém te pediu a tua opinião," rosnou Jorge. "Estás neste hospital por causa da condução imprudente da tua filha, provavelmente."
"Chega," eu disse, a minha voz a cortar a discussão. "A decisão está tomada. Quero o divórcio, Pedro. E quero que saiam deste quarto. Agora."
Clara começou a chorar, soluços altos e teatrais. "Vês o que fizeste? Estás a destruir a nossa família. Eu sabia que nunca gostaste de mim."
Pedro abraçou-a, olhando para mim com puro ódio. "Vais arrepender-te disto, Sofia. Vais ficar sozinha e miserável. E eu vou certificar-me disso."
Eles saíram, deixando para trás um rasto de crueldade.
Olhei para a minha mãe. Pela primeira vez em horas, senti as lágrimas a quererem sair. Ela veio até mim e abraçou-me.
"Fizeste a coisa certa," sussurrou ela. "Fizeste a coisa certa."