O Último Adeus e o Novo Começo
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Capítulo 1

O telefone do meu pai caiu no chão do hospital, o ecrã a estilhaçar-se como a minha esperança.

O médico abanou a cabeça.

"Lamento muito, o tempo de reanimação terminou. Fizemos tudo o que podíamos."

O meu mundo desabou.

O meu pai, o homem que me criou sozinho, estava morto.

Um ataque cardíaco súbito, disseram eles.

Agarrei-me à minha barriga de três meses, o meu corpo tremia sem controlo. O meu bebé. O neto que o meu pai tanto queria conhecer.

Peguei no meu telemóvel, as minhas mãos a tremer tanto que mal conseguia marcar o número.

Liguei ao meu marido, Miguel.

Ele é cardiologista neste mesmo hospital, o melhor da cidade. Se ele estivesse aqui, talvez o meu pai...

A chamada foi para o correio de voz.

"Miguel, onde estás? O pai... o pai faleceu. Por favor, liga-me. Preciso de ti."

A minha voz falhou, um soluço a rasgar-me a garganta.

Liguei outra vez. E outra. E outra.

Nada.

Desesperada, liguei para a receção do departamento de cardiologia.

"Olá, sou a Clara, a esposa do Dr. Miguel. Preciso urgentemente de falar com ele, é uma emergência familiar."

A voz da enfermeira era hesitante.

"Sra. Clara, o Dr. Miguel está com um paciente VIP. Deixou ordens expressas para não ser incomodado."

Um paciente VIP? Mais importante que a morte do seu sogro?

Uma raiva fria começou a subir por mim, a afogar o luto.

"Que paciente?", perguntei, a minha voz cortante.

"Não posso divulgar essa informação, senhora."

Desliguei.

Saí do quarto, cambaleando pelo corredor branco e estéril. Precisava de ar. Precisava de encontrar o meu marido.

E então, vi-o.

No final do corredor, a rir com a cabeça inclinada para trás.

Ao lado dele estava Sofia, a atriz mais famosa do país, a sorrir-lhe de volta, com o pulso envolto numa ligadura imaculada.

Ele estava a segurar um copo de café para ela.

O mundo parou. O som desapareceu.

O meu marido, o médico que ignorou as minhas chamadas enquanto o meu pai morria a poucos metros de distância, estava a tratar de um pulso torcido de uma celebridade.

Ele viu-me. O sorriso dele desvaneceu-se, substituído por irritação.

"Clara? O que estás aqui a fazer? Eu disse que estava ocupado."

Os meus olhos foram do rosto dele para a mulher ao seu lado, e depois de volta para ele.

Não disse uma palavra.

Uma dor aguda e violenta atravessou o meu abdómen, tão forte que me fez perder o fôlego.

Dobrei-me, um gemido a escapar dos meus lábios.

Olhei para baixo e vi o sangue.

Vermelho vivo, a manchar o chão branco do hospital.

O meu bebé.

A última coisa que vi antes de desmaiar foi o pânico no rosto de Miguel, finalmente a perceber a dimensão do que tinha feito.

            
            

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