O Último Adeus e o Novo Começo
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Capítulo 3

A porta abriu-se de rompante, sem qualquer aviso.

Helena, a minha sogra, entrou como um furacão, o seu rosto uma máscara de fúria justa. Miguel seguia-a, parecendo um menino apanhado a fazer asneira.

"Então é verdade?", ela sibilou, parando aos pés da minha cama. "Queres divorciar-te do meu filho?"

Não me dei ao trabalho de responder. O meu silêncio pareceu enfurecê-la ainda mais.

"Como te atreves a ser tão egoísta?", ela cuspiu as palavras. "O Miguel tem uma carreira brilhante pela frente! Uma reputação a manter! Aquela mulher, a Sofia, está a doar milhões ao hospital! Milhões! Achas que o trabalho dele é fácil?"

Olhei para Miguel, que evitava o meu olhar, a estudar os seus sapatos caros.

"O teu pai era um homem velho e doente", continuou Helena, a sua voz cruel. "Estas coisas acontecem. Mas tu? Usar a morte dele e... e este pequeno acidente para destruir a vida do meu filho? Que tipo de mulher és tu?"

Pequeno acidente.

Ela chamou à perda do seu neto um pequeno acidente.

Uma calma gelada apoderou-se de mim.

"Foi a sua falta de ação que matou o meu pai, Helena. E o stress matou o vosso neto."

"Mentira!", gritou ela. "Foi a tua instabilidade emocional! Sempre foste demasiado dramática! Foi isso que causou o aborto! A culpa é tua!"

Ela apontou um dedo acusador na minha direção.

Miguel finalmente falou, mas não para me defender.

"Mãe, por favor, baixa a voz. Estamos num hospital."

"Eu não vou baixar a voz!", ela virou-se para ele. "Esta mulher está a tentar arruinar-te, e tu ficas aí parado? Diz-lhe! Diz-lhe o quão ingrata ela está a ser!"

Miguel olhou para mim, a sua expressão uma mistura de culpa e irritação.

"Clara, a minha mãe tem razão. Estás a exagerar. Foi uma situação terrível, mas o divórcio não é a resposta. Nós somos uma família."

Família.

A palavra soou como uma piada doentia.

Fechei os olhos por um momento, reunindo a pouca força que me restava.

Abri-os e olhei diretamente para Helena.

"Eu quero o divórcio", disse eu, a minha voz baixa mas firme.

Depois, virei-me para o meu marido.

"E eu quero que saiam do meu quarto. Agora."

Helena ofegou, chocada com a minha audácia.

Por um segundo, pensei que ela ia avançar sobre mim. Mas Miguel agarrou-a pelo braço.

"Vamos, mãe. Ela precisa de descansar. Falamos mais tarde, quando ela estiver mais calma."

"Calma? Ela não merece calma! Ela merece...", Helena foi arrastada para fora do quarto, as suas palavras venenosas a ecoarem pelo corredor.

A porta fechou-se, deixando-me sozinha no silêncio.

Eles achavam que eu ia ceder. Achavam que o tempo, a pressão e a culpa me fariam mudar de ideias.

Eles não me conheciam de todo.

A guerra tinha apenas começado.

            
            

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