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O mundo ao redor parecia ter desacelerado desde que Leonardo e Isabela deixaram de se esconder. O luxo e o segredo deram lugar a uma rotina mais simples, mas nem por isso menos intensa. No apartamento com vista para o mar, no alto do Leblon, a vida começava a florescer com os pés descalços na verdade.
Leonardo não era mais o CEO de uma multinacional, mas agora liderava um projeto próprio - uma startup de investimentos éticos, voltada para inovação ambiental. Isabela deixara para trás os contratos e as salas frias da Vasconcellos & Lima. Agora, ela construía ao lado dele, com liberdade, com verdade.
Mas mesmo na liberdade, havia cicatrizes. E mesmo o amor mais sincero, quando nascido no escândalo, carrega o peso de ser constantemente provado.
Nos primeiros meses após a renúncia de Leonardo, os dois viveram em isolamento voluntário. A imprensa havia feito de tudo para arruinar o que mal começara: manchetes sensacionalistas, fotos invasivas, entrevistas distorcidas de ex-colegas.
Isabela perdeu amigos. Alguns a chamaram de ingênua, outros de oportunista. A família, inicialmente em choque, precisou ver para crer que não era apenas uma aventura.
Mas foi Leonardo quem mais sofreu com a queda.
Foi chamado de impulsivo, instável, imprudente. A elite corporativa que antes o reverenciava passou a tratá-lo como um exemplo de fracasso romântico. Mas ele não hesitou. Não recuou. Repetia sempre: "Perdi o cargo, ganhei uma vida."
E isso, por um tempo, bastou.
- Você tem dormido mal - Isabela disse certa noite, enquanto se deitavam.
Leonardo virou-se para ela, apoiado em um dos cotovelos. Seus olhos, sempre tão cheios de confiança, carregavam agora um cansaço mais humano.
- Estou com a cabeça cheia. O projeto, as reuniões com investidores, a entrevista na terça...
- Vai dar certo - ela disse, acariciando o rosto dele. - Eles vão enxergar o valor além do nome Vasconcellos.
Ele sorriu, mas havia um vazio atrás do sorriso.
- Eu não quero mais ser um sobrenome. Eu quero ser... algo por inteiro. Não um rosto nas capas, não um escândalo ambulante.
Isabela aproximou-se, seus rostos quase colados.
- Então seja. E se ninguém enxergar isso, eu vejo por todos.
Leonardo a beijou com ternura. Um beijo de gratidão e amor. E naquela noite, adormeceu mais leve.
Com o tempo, a startup de Leonardo começou a ganhar forma. O nome escolhido foi simbólico: Renova. Um espaço para recomeços, não apenas no mercado, mas também na vida pessoal. Cada reunião com novos parceiros era uma oportunidade para mostrar que existia valor real ali - não apenas aparência.
Isabela tornou-se essencial no processo. Era ela quem organizava as apresentações, refinava os relatórios, criava as conexões silenciosas que Leonardo antes ignorava. Os dois formavam uma dupla incomum, mas poderosa. E pela primeira vez, estavam sendo vistos como o que realmente eram: uma equipe.
Mas fora das paredes da Renova, o mundo ainda sussurrava.
Em um jantar de negócios em São Paulo, Isabela enfrentou pela primeira vez, sozinha, a elite que a havia rejeitado. Foi convidada para representar Leonardo em uma conferência sobre ética empresarial. Ao chegar, sentiu os olhares. As risadas contidas. Os cochichos.
Mas não recuou.
Subiu ao palco e apresentou os valores da Renova com segurança. Falou sobre recomeços. Sobre coragem. Sobre o que significa ser julgado por amar alguém fora dos padrões. Aplausos vieram - primeiro tímidos, depois sinceros. Ela desceu do palco transformada.
Naquela noite, ligou para Leonardo ainda no táxi:
- Sabe o que eu percebi?
- O quê?
- Que a vergonha que os outros tentam nos colocar... só funciona quando a gente abaixa a cabeça. Hoje, eu olhei de volta. E eles desviaram o olhar primeiro.
Mas o maior teste ainda estava por vir.
Uma semana depois, Leonardo foi convidado para um programa de televisão. Uma entrevista ao vivo, com perguntas abertas. Um formato que não permitia controle, nem cortes.
- Tem certeza disso? - Isabela perguntou, preocupada.
- Eu preciso parar de me esconder, Isa. Se eu quero que a Renova seja um recomeço, tenho que começar por mim.
Na noite da entrevista, Isabela ficou em casa. Assistiu da sala, nervosa, com um cobertor no colo e as mãos frias.
O apresentador começou direto:
- Leonardo Vasconcellos. Você perdeu o cargo mais poderoso do país por amor. Valeu a pena?
Leonardo sorriu. E então, com a calma de quem já não teme mais cair, respondeu:
- Eu não perdi. Eu escolhi sair. Porque amar alguém de verdade não é fraqueza. É força. E se isso me fez perder a cadeira de CEO, me deu algo que nenhuma posição daria: a chance de ser inteiro.
O apresentador hesitou. O público aplaudiu. E naquele momento, o país inteiro viu o homem além da manchete.
Nos meses seguintes, tudo mudou.
A Renova ganhou destaque em revistas especializadas. Isabela foi reconhecida como cofundadora do projeto. Passaram a ser convidados juntos para palestras e eventos - não como escândalo, mas como símbolo de reconstrução.
Aos poucos, a vergonha virou respeito.
E o amor, antes proibido, agora era inspiração.
Na primavera, Leonardo a levou para jantar em um restaurante suspenso, em Búzios. Era aniversário de Isabela. Eles estavam juntos havia quase um ano. Sentaram-se à beira da sacada, com vista para o mar iluminado pela lua cheia.
Ele segurou a mão dela com firmeza.
- Você ainda tem medo? - perguntou.
- Às vezes - ela respondeu, sincera. - Mas não do que virá. Do quanto eu te amo. Às vezes parece que não cabe no peito.
Leonardo sorriu. E então tirou algo do bolso: uma caixinha de veludo azul.
- Então guarda isso. Porque vai te lembrar que agora é pra sempre.
Isabela abriu a caixa. Um anel de ouro branco, delicado, com uma pedra pequena, mas brilhante.
- Isso é...
- Um pedido. Mas não de casamento. Ainda não. É um compromisso. Um símbolo. De que você não vai mais precisar amar escondido.
Ela chorou. Com as mãos trêmulas, colocou o anel no dedo. E ali, entre a brisa do mar e os aplausos de um grupo de desconhecidos ao longe, Isabela entendeu:
O amor deles não era apenas um recomeço.
Era uma revolução.