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Doce Tentação: O CEO

MariaAparecida
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Capítulo 1 O Primeiro Olhar

O som dos saltos de Isabela ecoava pelo piso de mármore do hall principal da Vasconcellos & Lima, a multinacional onde ela trabalhava havia quase três anos. Sempre discreta, mantinha a postura profissional impecável, os cabelos castanhos presos em um coque elegante e os óculos redondos que usava mesmo sem precisar, como forma de afastar olhares e perguntas desnecessárias.

Era segunda-feira, 8h43 da manhã. O dia em que sua rotina previsível seria dilacerada por um par de olhos frios e penetrantes.

A empresa estava em silêncio anormal. Murmúrios nervosos e expressões tensas denunciavam o que ela já sabia: o novo CEO havia chegado. Leonardo Vasconcellos. O nome que corria pelos corredores como um sussurro carregado de respeito e medo. Diziam que ele era implacável. Jovem demais para o cargo, brilhante demais para ser ignorado. Um prodígio nas finanças internacionais, um estrategista nato - e um homem envolto em rumores.

Ninguém sabia muito sobre ele. Apenas que assumira os negócios após o afastamento do pai, Roberto Vasconcellos, por problemas de saúde. O patriarca era conhecido por sua rigidez, mas Leonardo... Leonardo era descrito como algo além. Um homem de decisões cortantes, exigente, perfeccionista. Um CEO que transformava empresas - e pessoas.

Isabela não esperava cruzar com ele naquele dia. Sua função no setor de contratos era importante, mas não a colocava frente a frente com a diretoria. Ainda assim, quando entrou na sala de reuniões com uma pasta azul-marinho apertada contra o peito, ele estava ali.

Sentado à cabeceira da mesa, com um terno cinza escuro sob medida e uma expressão que mesclava tédio e poder absoluto.

Seus olhos - azuis como aço sob tempestade - encontraram os dela. O mundo parou por um segundo. Um breve segundo. Mas suficiente para desestabilizar tudo que Isabela pensava controlar.

- Você é a tradutora sênior? - perguntou ele, com a voz firme e baixa, como quem não tinha o hábito de repetir ordens.

Ela engoliu em seco, controlando o nervosismo que tomou seu corpo como uma corrente elétrica.

- Sim, senhor. Isabela Mendes. Estou aqui para revisar os aditivos do contrato com a empresa alemã. O jurídico pediu urgência.

Leonardo assentiu lentamente. Olhou para ela como se pudesse decifrá-la com um olhar. E talvez pudesse.

- Sente-se - ordenou, sem tirar os olhos dela.

Ela obedeceu. Sentiu o ar rarefeito ao seu redor. O perfume dele - amadeirado, sutil, sofisticado - impregnava o espaço como uma marca invisível de sua presença.

Enquanto ela abria a pasta e começava a explicar os termos técnicos, sentia o olhar dele sobre cada palavra, cada gesto. Era um homem que escutava com os olhos. E aquilo a desconcertava.

- Seu alemão é fluente? - interrompeu ele.

- Sim, senhor. Tenho dupla certificação. Fiz intercâmbio em Berlim e Munique.

- Ótimo. Vou precisar que acompanhe todas as reuniões com os alemães daqui em diante. Sem o jurídico. Só você e eu.

A frase bateu nela com força. Não pelo conteúdo, mas pela forma direta, definitiva, como se a escolha dela já tivesse sido feita antes mesmo da pergunta. E talvez tivesse.

- Claro - respondeu, mantendo a voz neutra.

Ele se levantou, recolhendo os papéis. Era alto. Mais do que ela imaginava. E imponente. Mesmo em silêncio, comandava o ambiente com facilidade desconcertante.

- Espero pontualidade e precisão - disse ele, com os olhos fixos nela. - E discrição.

Ela assentiu. Mas havia algo na forma como ele pronunciava "discrição" que parecia ir além da profissão. Como um aviso. Ou um convite.

Naquela noite, Isabela voltou para casa com os sentidos em chamas. Tentava afastar a imagem dele, o tom de voz, o olhar cortante. Tentava se convencer de que era apenas um chefe. Apenas um CEO. Mas algo nela já sabia: ele seria mais. Muito mais.

Nos dias que se seguiram, as reuniões se intensificaram. Eles começaram a trabalhar lado a lado - traduzindo contratos, negociando cláusulas, viajando para reuniões com parceiros internacionais. Ele era exigente, mas justo. Distante, mas atento. E, com o tempo, a tensão silenciosa entre os dois começou a transbordar por entre os papéis e termos jurídicos.

Na terceira semana, estavam em São Paulo para um evento de investidores. O jantar com a comitiva alemã havia terminado, e Leonardo a chamou para uma conversa na suíte executiva do hotel. Era quase meia-noite.

Ela hesitou. Mas foi.

O ambiente era luxuoso, mas acolhedor. Tapetes escuros, móveis minimalistas, e uma vista da cidade que se estendia como um manto de luzes.

Ele serviu vinho sem pedir permissão. Um tinto encorpado, caro, que combinava com sua presença.

- Você é muito eficiente, Isabela - disse ele, oferecendo a taça.

- Obrigada.

- Mas também é... diferente. Reservada. Quase invisível.

Ela o encarou. Era verdade. Sempre cultivou o hábito de não se destacar. E ainda assim, ali estava ela, no quarto de hotel do CEO, com um vestido preto justo demais para ser coincidência.

- Talvez invisível seja seguro - murmurou ela.

Leonardo se aproximou devagar, como um predador consciente de cada passo.

- O problema - disse ele, tocando de leve uma mecha solta de seu cabelo - é que você não é mais invisível pra mim.

O coração dela bateu forte. O ar pareceu evaporar do ambiente. Ele estava perto. Tão perto. Mas não a tocava. Ainda.

- Isso é... imprudente - sussurrou ela.

- É inevitável - corrigiu ele.

E então a beijou.

Não foi um beijo urgente, mas decidido. Como se marcasse um território. Como se selasse um acordo silencioso entre dois mundos distintos que, por alguma razão, estavam destinados a colidir.

O beijo se aprofundou, os corpos se aproximaram, mas não houve pressa. Era como se cada segundo fosse calculado. Como ele era. Calculado. Preciso.

Mas havia emoção demais nos olhos dele. E isso não estava nos planos.

Eles passaram a noite juntos. Não foi apenas físico - embora o desejo fosse intenso. Foi algo mais. Algo que se infiltrou no espaço entre eles, tornando impossível esquecer.

Na manhã seguinte, ele foi o mesmo CEO de sempre. Frio. Pontual. Exigente.

Mas quando ela entrou na sala de reuniões, seus olhos a seguiram como uma promessa não dita.

Nos corredores, ninguém desconfiava.

Mas entre eles, um universo silencioso e secreto havia sido criado. Um universo feito de olhares, palavras não ditas e toques disfarçados por coincidências.

E, ali, Isabela soube que seu mundo jamais voltaria a ser o mesmo.

            
            

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