O meu filho, Lucas, morreu no seu terceiro aniversário.
Ele estava na creche, a brincar no escorrega.
Caiu e bateu com a cabeça.
O meu marido, Pedro, estava a apenas dez minutos de distância, a almoçar com a sua ex-namorada, Sofia.
Ele não atendeu nenhuma das minhas dezoito chamadas.
A última chamada foi da professora da creche.
Ela disse-me que o Lucas já não respirava.
Quando cheguei ao hospital, o corpo do meu filho já estava frio.
Os médicos disseram que a queda não deveria ter sido fatal.
Mas o Lucas tinha uma condição cardíaca rara, uma que o Pedro insistiu que não era grave.
"Muitas crianças têm sopros cardíacos, não te preocupes tanto, Ana", ele dizia.
Eu acreditei nele.
Agora, o meu filho estava morto, e o meu marido estava a consolar outra mulher.
Liguei-lhe mais uma vez.
Desta vez, ele atendeu. A sua voz estava irritada.
"Ana, o que foi? Já não te disse que estou ocupado?"
A voz suave de Sofia soou ao fundo. "Pedro, está tudo bem? A tua mulher parece zangada."
"Não é nada, querida. Ela só está a exagerar, como sempre."
Uma raiva fria tomou conta de mim.
"Pedro, o Lucas está morto."
Houve um silêncio do outro lado da linha.
Não durou muito.
"O quê? Como assim, morto? O que é que tu fizeste?"
A culpa foi imediatamente atirada para mim.
"Ele caiu na creche. O coração dele parou. Pedro, ele precisava de ti."
"Caiu? Uma queda não mata uma criança! Onde estavas tu? Não estavas a vigiá-lo?"
Eu não respondi.
Ele continuou a gritar. "Eu estou a vir para aí. É melhor teres uma boa explicação, Ana. Se alguma coisa aconteceu ao meu filho por tua causa..."
Ele desligou.
Olhei para o telefone na minha mão.
O meu filho. Ele disse "meu filho".
Como se eu não fosse a mãe dele.
Como se a minha dor não existisse.
A porta da sala de espera abriu-se e a minha sogra, Dona Elvira, entrou a correr.
Ela não olhou para mim.
Correu diretamente para a médica.
"Onde está o meu neto? Onde está o Lucas?"
A médica apontou para a sala atrás de mim, com uma expressão triste.
Dona Elvira passou por mim como se eu fosse invisível.
Ouvi o seu grito abafado vindo de dentro da sala.
Um momento depois, ela saiu, com o rosto vermelho e os olhos inchados.
Ela caminhou até mim e, sem uma palavra, deu-me uma bofetada.
A força do golpe fez a minha cabeça virar.
"Tu mataste-o! A culpa é tua! Sempre soube que não eras uma boa mãe!"
Ela gritava, atraindo a atenção de todos no corredor.
"O meu Pedro estava certo sobre ti! Tu és uma inútil!"
Eu não disse nada. Apenas a encarei, com a marca vermelha a arder na minha bochecha.