O funeral foi três dias depois.
Um dia cinzento e chuvoso, a condizer com o meu humor.
Eu estava de pé, junto à pequena campa aberta, a ver o caixão branco descer.
Pedro estava do outro lado, com a sua mãe a agarrar-se a ele, a soluçar ruidosamente.
Sofia não estava lá. Pedro deve ter tido o bom senso de lhe dizer para ficar longe.
Os meus pais estavam ao meu lado. A minha mãe chorava silenciosamente, enquanto o meu pai me segurava o braço, dando-me um apoio que eu não sabia que precisava.
Quando a cerimónia acabou, as pessoas começaram a dispersar-se.
Pedro aproximou-se de mim.
"Ana, precisamos de conversar."
"Não temos nada para conversar, Pedro."
"Sobre o divórcio. Estás a falar a sério?"
"Nunca falei tão a sério na minha vida."
Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo. Parecia cansado.
"Ana, eu sei que estás magoada. Eu também estou. Ele era meu filho também."
"Não te atrevas a dizer isso. Não depois do que fizeste."
"O que é que eu fiz? Eu não sabia!"
"Tu escolheste, Pedro. Tu escolheste-a a ela em vez dele. Vive com isso."
Virei-me para ir embora.
"A polícia ligou-me", disse ele, e eu parei. "Eles querem falar connosco. Juntos."
"Eu já falei com eles."
"Eu sei. Eles disseram-me. Mas querem ver-nos amanhã, na esquadra."
"Está bem."
Continuei a andar, deixando-o para trás.
O meu pai levou-me para casa.
O apartamento parecia vazio. Silencioso.
O quarto do Lucas estava exatamente como ele o tinha deixado.
Os seus brinquedos no chão, o seu pijama dobrado na cama.
Fechei a porta. Eu não conseguia olhar.
Sentei-me no sofá da sala.
O meu telemóvel vibrou.
Era uma mensagem de um número desconhecido.
"Eu sei o que realmente aconteceu na creche. Não foi um acidente."
O meu coração gelou.
Respondi imediatamente.
"Quem é você?"
A resposta veio segundos depois.
"Alguém que se importa com a justiça. Encontra-me amanhã, às 10h, no Café Central, perto da esquadra. Vem sozinha."