A Noite de Núpcias Amarga
img img A Noite de Núpcias Amarga img Capítulo 2
3
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 2

Na manhã seguinte, acordei no sofá. O meu corpo doía.

O Diogo já tinha saído. Havia uma nota na mesa da cozinha.

"Fui ver a Beatriz. Não me esperes para o almoço."

Nenhuma palavra de desculpa. Nenhuma palavra de carinho.

Eu era a sua esposa, mas sentia-me como uma estranha na minha própria casa.

Peguei no meu telemóvel. Havia notificações das redes sociais. Amigos a publicarem fotos do nosso casamento.

"Que casal lindo! Felicidades!"

"O amor verdadeiro existe! Tão feliz por vocês!"

Ri amargamente. Se eles soubessem.

Liguei à minha melhor amiga, a Lara. Contei-lhe tudo.

"O quê?!", ela gritou ao telefone. "Na vossa noite de núpcias? Sofia, tens de te impor!"

"O que posso fazer?", perguntei, sentindo-me impotente. "Ele diz que ela precisa dele."

"E tu não? Acabaram de casar! Isso é inaceitável. A Beatriz está a manipulá-lo, e ele está a deixar."

Eu sabia que a Lara tinha razão.

Durante anos, a Beatriz tinha sido uma sombra na nossa relação. Sempre que dávamos um passo em frente, ela aparecia com uma crise.

Uma doença súbita. Uma emergência financeira. Uma crise emocional.

E o Diogo corria sempre para a salvar.

"Ela é frágil, Sofia", dizia ele. "Eu prometi ao pai dela antes de ele morrer que cuidaria dela."

Eu tentei ser compreensiva. Tentei acreditar nele.

Mas agora, casados, a situação era diferente. Eu era a sua mulher. A sua prioridade.

Ou pelo menos, devia ser.

Decidi ir ao hospital. Precisava de ver com os meus próprios olhos.

Quando cheguei, encontrei o quarto dela facilmente. A porta estava entreaberta.

Espreitei.

A Beatriz estava deitada na cama, o pulso enfaixado. O Diogo estava sentado ao lado dela, a descascar-lhe uma maçã.

Ele estava a sorrir para ela, um sorriso terno que eu não via há muito tempo.

"Diogo, és tão bom para mim", disse a Beatriz, a sua voz fraca e melosa. "Não sei o que faria sem ti."

"Não te preocupes. Eu estarei sempre aqui para ti", respondeu ele suavemente.

O meu estômago revirou-se.

Era uma cena íntima, quase doméstica. Eu não pertencia ali.

Recuei silenciosamente, o meu coração a bater descontroladamente.

Quando me virei, esbarrei em alguém.

Era a mãe do Diogo, a Sra. Helena. Ela olhou para mim, depois para a porta do quarto, e suspirou.

"Sofia, minha querida."

Os seus olhos estavam cheios de pena.

"Ele ama-te", disse ela em voz baixa. "Mas ele sente-se culpado pela Beatriz. É uma obrigação que ele não consegue largar."

"Uma obrigação?", repeti, a minha voz a falhar. "Ele abandonou-me na nossa noite de núpcias por causa de uma obrigação."

A Sra. Helena pegou na minha mão. A sua estava fria.

"Eu sei que não é justo. Falei com ele vezes sem conta. Mas ele é teimoso. Ele acha que lhe deve isso."

Ela olhou-me nos olhos.

"Por favor, sê paciente com ele. Ele vai perceber. Ele só precisa de tempo."

Tempo? Quanto mais tempo eu teria de esperar?

Dez anos não foram suficientes?

            
            

COPYRIGHT(©) 2022