Voltei para casa sentindo-me vazia.
A Sra. Helena era uma boa pessoa, mas as suas palavras não me consolaram. Elas apenas confirmaram os meus piores medos.
O Diogo estava preso ao passado. E eu estava presa com ele.
Passei o resto do dia a desempacotar as minhas coisas, tentando criar um lar a partir de uma casa fria.
Cada objeto que eu colocava no seu lugar parecia zombar de mim.
As nossas fotografias juntas. Os presentes de casamento. O meu vestido, agora pendurado no armário.
Símbolos de um futuro que talvez nunca existisse.
O Diogo só chegou tarde da noite.
Ele entrou na cozinha onde eu estava a beber um chá.
"Ainda estás acordada?", perguntou ele, a sua voz cansada.
"Esta é a minha casa também", respondi friamente.
Ele suspirou e sentou-se à minha frente.
"Olha, Sofia, desculpa por ontem à noite. Não era assim que eu queria que as coisas começassem."
Era a primeira vez que ele pedia desculpa. Um pingo de esperança surgiu em mim.
"Como está a Beatriz?", perguntei, tentando manter a voz neutra.
"Ela vai ter alta amanhã. O médico diz que ela precisa de um ambiente estável para recuperar. Sem stress."
Fiquei em silêncio, à espera. Eu sabia o que vinha a seguir.
"Eu estava a pensar...", começou ele, hesitando. "Talvez ela pudesse ficar aqui por uns dias. Só até encontrar outro sítio."
A esperança morreu tão depressa como tinha nascido.
Olhei para ele, incrédula.
"Estás a falar a sério? Queres que a tua ex-namorada, que tentou suicidar-se por tua causa, venha morar connosco? Na nossa primeira semana de casados?"
"É só por pouco tempo!", ele insistiu, levantando a voz. "Ela não tem para onde ir! Queres que ela volte para aquele apartamento vazio e tente de novo?"
"E a nossa lua de mel?", perguntei, a minha voz a subir. "Tínhamos uma viagem marcada para a Itália. Lembras-te?"
Ele passou a mão pelo cabelo, frustrado.
"Podemos adiar! A vida de uma pessoa é mais importante do que umas férias, Sofia! Pensei que fosses mais compreensiva!"
"Compreensiva?", explodi. "Eu tenho sido compreensiva durante dez anos, Diogo! Estou farta de ser compreensiva! Eu sou a tua mulher agora! Quando é que vais começar a agir como meu marido?"
Levantei-me, a minha cadeira a raspar ruidosamente no chão.
"Se ela entrar por aquela porta, eu saio."
Era um ultimato. Eu sabia disso. Ele sabia disso.
O seu rosto endureceu.
"Não me faças escolher, Sofia."
"Eu não estou a fazer. Tu já fizeste a tua escolha há muito tempo."
Virei-lhe as costas e fui para o nosso quarto, batendo a porta com força.
Naquela noite, dormimos em camas separadas pela segunda vez.
O nosso casamento tinha apenas dois dias.