Do Luto à Luta: A Virada de Sofia
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Capítulo 3

Beatriz recuou um passo, surpreendida pela minha ousadia. A máscara de superioridade dela vacilou por um segundo.

"Como te atreves a falar assim comigo?" sibilou ela.

Pedro interveio, pondo-se entre nós. "Sofia, já chega! Pede desculpa à minha mãe!"

"Não. Ela é que tem de pedir desculpa. À memória da minha mãe."

"Estás a ser irracional! A minha mãe não fez nada de mal!"

Olhei para ele, para o homem que eu um dia amei. Não via nada nele para além de fraqueza e egoísmo.

"Peguem nas vossas coisas e saiam," repeti, a voz baixa e controlada. "Se não saírem por vontade própria, eu chamo a polícia."

A menção da polícia fê-los hesitar. Beatriz olhou para Pedro, esperando que ele resolvesse a situação.

"Não podes fazer isso," disse ele, a voz a perder a força. "Nós somos uma família."

"Nós éramos. Tu e ela são uma família. Eu não faço parte dela."

Fui até ao quarto deles, peguei em duas malas vazias e comecei a atirar as roupas de Pedro para dentro, sem cuidado nenhum. Camisas, calças, roupa interior, tudo amontoado.

"O que estás a fazer?" gritou ele, correndo atrás de mim. "Para com isso! São as minhas coisas!"

Ignorei-o. Fui à casa de banho e despejei os seus produtos de higiene pessoal para dentro da mala. A escova de dentes, o gel de barbear, o perfume caro que a mãe dele lhe tinha oferecido.

Beatriz observava da porta, o rosto uma máscara de fúria contida.

"Vais arrepender-te disto, Sofia," disse ela, a voz a tremer de raiva. "Vais ficar sozinha e miserável."

"Prefiro ficar sozinha a continuar a viver convosco," respondi, fechando uma das malas com dificuldade.

Arrastei as duas malas para a sala de estar e deixei-as cair perto da porta.

"Agora, as tuas," disse, olhando para as malas de Beatriz.

"Não te atrevas a tocar nas minhas coisas!" gritou ela.

Pedro agarrou-me pelo braço. "Para, Sofia! Estás a passar dos limites!"

Puxei o meu braço com força. "O limite foi passado quando vocês trataram a morte da minha mãe como um inconveniente. Agora, saiam."

Ele olhou para mim, o seu rosto uma mistura de confusão e raiva. Ele não conseguia compreender. Na sua mente, ele não tinha feito nada de errado. A lealdade dele era para com a mãe dele, sempre foi. Eu era apenas um acessório na vida dele.

"Tudo bem," disse ele finalmente, a voz derrotada. "Nós vamos. Mas vais ouvir falar do meu advogado."

"Ótimo. Mal posso esperar."

Ele pegou nas suas malas e nas de Beatriz. Ela lançou-me um último olhar cheio de ódio antes de se virar e sair, batendo a porta com força.

O silêncio que se seguiu foi absoluto.

Fiquei parada no meio da sala, a olhar para o espaço vazio que eles tinham deixado. A casa parecia maior, mais silenciosa.

Não senti tristeza. Não senti arrependimento.

Senti paz.

Pela primeira vez em muito tempo, eu podia respirar.

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