Herança Roubada: A Luta de Lia
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Capítulo 1

No dia do funeral do meu pai, o meu noivo, Pedro, estava ao telefone a consolar outra mulher.

"Sofia, não chores. O avô não gostaria de te ver assim."

A sua voz era suave, um tom que ele nunca usou comigo.

"Estou aqui para ti. Sempre estarei."

A chuva caía forte lá fora, batendo contra os vidros da capela. O som misturava-se com os soluços contidos dos poucos familiares que restavam.

Eu estava ali, vestida de preto, a olhar para a fotografia do meu pai. O seu sorriso parecia uma acusação silenciosa.

Desliguei o meu telemóvel. As mensagens de pêsames dos amigos chegavam, mas a única pessoa de quem eu queria ouvir estava ocupada.

O pai de Pedro, o meu futuro sogro, Sr. Almeida, aproximou-se de mim. A sua expressão era grave.

"Lia, o Pedro teve de ir. A avó da Sofia piorou de repente."

Assenti, sem forças para falar.

A avó da Sofia. A mesma desculpa de sempre.

"Ele disse que lamenta muito", continuou o Sr. Almeida. "Ele sabe que este é um dia difícil para ti."

Um sorriso amargo formou-se nos meus lábios. Difícil? O meu pai estava morto. Pedro prometeu estar ao meu lado, mas escolheu-a a ela.

"Lia, por favor, sê compreensiva", disse a mãe de Pedro, juntando-se a nós. "A Sofia não tem mais ninguém. Ela precisa do Pedro."

Eu olhei para eles. A família perfeita. Sempre a defender a pobre e desamparada Sofia.

"Compreensiva?", a minha voz saiu rouca. "O meu pai morreu. Onde está a vossa compreensão por mim?"

A Sra. Almeida franziu a testa, claramente desagradada com o meu tom.

"Lia, não sejas egoísta. A vida da Sofia já é muito dura."

A vida dela é dura? E a minha? O meu pai lutou contra uma doença durante anos, e eu cuidei dele sozinha. Onde estava o Pedro? A viajar com a Sofia, a ajudá-la a "superar" o seu último desgosto amoroso.

Senti uma onda de náusea. A dor e a raiva misturaram-se, criando um nó na minha garganta.

"Nós vamos casar em três meses", disse eu, a voz a tremer. "Ele devia estar aqui."

"E por causa disso queres criar um problema?", o Sr. Almeida interveio, a sua voz a subir de tom. "O Pedro tem um bom coração. Ele só está a ajudar uma amiga. Não podes usar o casamento para o prender."

"Não o estou a prender", respondi, sentindo as lágrimas a quererem sair. "Eu só... eu precisava dele."

A Sra. Almeida suspirou, como se estivesse a lidar com uma criança birrenta.

"Pára de fazer drama, Lia. O Pedro volta amanhã. Pensa no teu futuro. Não arruínes tudo por um capricho."

Ela deu-me as costas e afastou-se, levando o marido com ela.

Fiquei sozinha novamente, a olhar para o caixão. As suas palavras ecoavam na minha cabeça. Capricho. Drama. Egoísta.

O meu telemóvel vibrou no meu bolso. Ignorei. Sabia que não era ele.

O Pedro não se importava. Se se importasse, não me teria deixado sozinha no dia mais sombrio da minha vida. Ele não teria escolhido consolar outra mulher enquanto o meu mundo desabava.

O casamento. A promessa de uma vida juntos. De repente, tudo parecia uma piada de mau gosto.

O amor que eu sentia por ele, a esperança que eu tinha no nosso futuro, tudo se transformou em cinzas.

Eu não precisava de um homem que me colocava em segundo lugar.

Eu não precisava de uma família que me via como um fardo.

Naquele momento, junto ao corpo do meu pai, tomei uma decisão.

O casamento estava cancelado.

            
            

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