Herança Roubada: A Luta de Lia
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Capítulo 2

No dia seguinte, o sol brilhava como se a tempestade de ontem nunca tivesse existido.

O Pedro apareceu à minha porta, com uma expressão cansada, mas sem culpa.

"Lia, desculpa por ontem. A avó da Sofia teve um susto, mas já está estável."

Ele tentou abraçar-me, mas eu recuei.

"Não me toques."

Ele parou, confuso. "O que se passa?"

"Acabou, Pedro."

A confusão no seu rosto deu lugar à incredulidade. "O quê? Do que estás a falar?"

"O nosso casamento. A nossa relação. Tudo."

Entreguei-lhe a caixa de veludo com o anel de noivado. Ele olhou para o anel e depois para mim, como se eu tivesse enlouquecido.

"Estás a brincar, certo? Por causa de ontem? Eu já te expliquei!"

"Não foi só por causa de ontem, Pedro. Foi por causa de todos os 'ontens'. A Sofia precisa de ti para a levar ao médico. A Sofia precisa de ti porque o cão dela está doente. A Sofia precisa de ti porque se sente sozinha."

A minha voz estava calma, desprovida de emoção.

"E eu? Quando é que eu precisei de ti e tu estiveste lá?"

Ele ficou sem palavras, a sua boca a abrir e a fechar.

"Lia, isso não é justo. A Sofia é como uma irmã para mim."

"Eu era a tua noiva. O meu pai morreu. E tu escolheste-a a ela."

"Eu não a escolhi! A situação era uma emergência!"

"Uma emergência maior do que o funeral do teu futuro sogro? Maior do que a tua noiva a precisar de ti?"

Ele passou as mãos pelo cabelo, frustrado.

"Tu não entendes! A família dela sempre ajudou a minha! Temos uma dívida de gratidão!"

"E essa dívida paga-se com o teu tempo, a tua atenção e o teu futuro? O nosso futuro?"

O seu telemóvel tocou. Ele olhou para o ecrã. Era a Sofia. Ele hesitou, olhando para mim e para o telemóvel.

"Atende", disse eu. "Ela deve estar a precisar de alguma coisa."

A sua hesitação foi a resposta final de que eu precisava. Ele importava-se mais em não a desapontar do que em lutar por mim.

Ele rejeitou a chamada, mas era tarde demais.

"Eu não te amo mais, Pedro. E, para ser sincera, acho que nunca amaste."

Ele riu, um riso sem humor. "Isso é ridículo. Claro que te amo. Estás apenas magoada e a dizer coisas estúpidas."

"Não. Estou a ver as coisas com clareza pela primeira vez."

"Vais arrepender-te disto, Lia. A minha família não vai perdoar-te por esta humilhação."

"A tua família já me julgou há muito tempo", respondi. "Adeus, Pedro."

Fechei-lhe a porta na cara. Ouvi-o a bater uma, duas vezes, e depois o silêncio.

Olhei para a minha mão nua. Senti-me mais leve.

A dor ainda lá estava, mas agora havia também um vislumbre de liberdade.

            
            

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