Na noite do meu aniversário de casamento, o meu marido, Pedro, não voltou para casa.
Em vez disso, recebi uma mensagem dele.
"Lia, a Sofia caiu e torceu o tornozelo. Estou a levá-la ao hospital, não me esperes acordada."
Olhei para a mesa cheia de pratos que fiz, para as velas que se consumiam lentamente, e senti um frio que não vinha do ar condicionado.
A Sofia era a minha melhor amiga.
E também a ex-namorada do meu marido.
Tentei ligar-lhe, mas a chamada foi direta para o correio de voz.
Ele desligou o telemóvel.
Sentei-me em silêncio na sala de jantar escura, o cheiro da comida a tornar-se enjoativo.
Passado o que pareceu uma eternidade, o meu telemóvel tocou. Era a mãe do Pedro.
"Lia, o que se passa contigo? O Pedro está aqui no hospital com a Sofia, e tu não apareces? Que tipo de esposa és tu?"
A voz dela era aguda e cheia de acusação.
"Eu não sabia que ela estava no hospital. Ele apenas me enviou uma mensagem a dizer que ela tinha torcido o tornozelo."
"Não sabias? A Sofia podia ter ficado gravemente ferida! Ela está sozinha, os pais dela vivem longe. O Pedro fez o que qualquer pessoa decente faria. Tu devias estar aqui a apoiá-lo, não em casa a amuar."
"Apoiar o quê? É o nosso aniversário de casamento."
A minha voz saiu mais fraca do que eu pretendia.
"Aniversário? Isso é mais importante do que a saúde de uma pessoa? És tão egoísta. A Sofia é uma boa rapariga, sempre a pensar nos outros. Devias aprender com ela."
Ela desligou.
Fiquei a olhar para o ecrã do telemóvel, as palavras dela a ecoarem na minha cabeça.
Egoísta. Eu era egoísta por querer passar o meu aniversário de casamento com o meu marido.
Levantei-me e comecei a limpar a mesa. Deitei a comida toda no lixo, prato por prato.
Quando terminei, a cozinha estava impecável, como se o jantar nunca tivesse existido.
Assim como o meu casamento.