Aluguei um pequeno quarto num hotel no centro da cidade.
Era impessoal e limpo. Não havia memórias aqui.
Na manhã seguinte, liguei a uma advogada. Expliquei a situação de forma calma e factual.
"Quero um divórcio rápido e limpo," disse eu. "Não quero nada dele. Apenas a minha liberdade."
A advogada, uma mulher chamada Dr.ª Alves, foi eficiente e direta. Ela disse que trataria de tudo.
Senti um peso a sair dos meus ombros.
Passei os dias seguintes a tratar da minha vida. Abri uma nova conta bancária. Procurei um novo apartamento.
Evitei olhar para as redes sociais, mas a curiosidade acabou por vencer.
Vi uma foto que a mãe do Pedro publicou.
Era uma foto do Pedro e da Sofia na sala de estar do nosso – do dele – apartamento. A Sofia estava no sofá, com a perna elevada sobre almofadas. O Pedro estava sentado no chão ao lado dela, a rir de algo que ela disse.
A legenda dizia: "O meu filho a cuidar de uma querida amiga. Um coração de ouro. Algumas pessoas não sabem dar valor."
Senti uma pontada de algo, mas não era tristeza. Era raiva. Uma raiva fria e clara.
Ela estava a falar de mim. Estava a pintar-me como a vilã insensível.
Desliguei o telemóvel. Não importava. O que eles pensavam já não me podia magoar.
Pelo menos, era o que eu continuava a dizer a mim mesma.
Mais tarde, nesse mesmo dia, recebi uma chamada de um número desconhecido.
"Lia? Sou eu, a Sofia."
A voz dela era fraca e chorosa.
"O que queres, Sofia?"
"Lia, por favor, não te divorcies do Pedro por minha causa. A culpa é toda minha. Eu sou um desastre. Eu não queria isto."
Ela começou a soluçar.
"Não é por tua causa, Sofia. É por causa das escolhas dele."
"Mas ele ama-te! Ele fala de ti o tempo todo. Ele está destroçado."
Destroçado? O homem que ria na fotografia não parecia destroçado.
"Tenho de ir, Sofia."
"Espera! Lia, por favor... podes vir cá? Precisamos de conversar. As três partes. Eu, tu e o Pedro. Podemos resolver isto."
"Não há nada para resolver."
"Por favor, Lia. Pela nossa amizade."
Pela nossa amizade. A ironia era quase palpável.
"Não temos uma amizade, Sofia. Não mais."
Desliguei a chamada e bloqueei o número dela.