O Jantar Frio do Nosso Aniversário
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Capítulo 4

Aluguei um pequeno quarto num hotel no centro da cidade.

Era impessoal e limpo. Não havia memórias aqui.

Na manhã seguinte, liguei a uma advogada. Expliquei a situação de forma calma e factual.

"Quero um divórcio rápido e limpo," disse eu. "Não quero nada dele. Apenas a minha liberdade."

A advogada, uma mulher chamada Dr.ª Alves, foi eficiente e direta. Ela disse que trataria de tudo.

Senti um peso a sair dos meus ombros.

Passei os dias seguintes a tratar da minha vida. Abri uma nova conta bancária. Procurei um novo apartamento.

Evitei olhar para as redes sociais, mas a curiosidade acabou por vencer.

Vi uma foto que a mãe do Pedro publicou.

Era uma foto do Pedro e da Sofia na sala de estar do nosso – do dele – apartamento. A Sofia estava no sofá, com a perna elevada sobre almofadas. O Pedro estava sentado no chão ao lado dela, a rir de algo que ela disse.

A legenda dizia: "O meu filho a cuidar de uma querida amiga. Um coração de ouro. Algumas pessoas não sabem dar valor."

Senti uma pontada de algo, mas não era tristeza. Era raiva. Uma raiva fria e clara.

Ela estava a falar de mim. Estava a pintar-me como a vilã insensível.

Desliguei o telemóvel. Não importava. O que eles pensavam já não me podia magoar.

Pelo menos, era o que eu continuava a dizer a mim mesma.

Mais tarde, nesse mesmo dia, recebi uma chamada de um número desconhecido.

"Lia? Sou eu, a Sofia."

A voz dela era fraca e chorosa.

"O que queres, Sofia?"

"Lia, por favor, não te divorcies do Pedro por minha causa. A culpa é toda minha. Eu sou um desastre. Eu não queria isto."

Ela começou a soluçar.

"Não é por tua causa, Sofia. É por causa das escolhas dele."

"Mas ele ama-te! Ele fala de ti o tempo todo. Ele está destroçado."

Destroçado? O homem que ria na fotografia não parecia destroçado.

"Tenho de ir, Sofia."

"Espera! Lia, por favor... podes vir cá? Precisamos de conversar. As três partes. Eu, tu e o Pedro. Podemos resolver isto."

"Não há nada para resolver."

"Por favor, Lia. Pela nossa amizade."

Pela nossa amizade. A ironia era quase palpável.

"Não temos uma amizade, Sofia. Não mais."

Desliguei a chamada e bloqueei o número dela.

                         

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